Nascidos para correr

caça

Atleta de competição, mas corredora por vocação, a Eva Alves traz-nos uma reflexão pessoal sobre uma das suas grandes paixões. Dela e de milhares de outras pessoas (loucos?) que todos os dias apertam os atacadores das sapatilhas e simplesmente se atiram à estrada pelo simples prazer de realizar mais uma corrida.

[dropcap]C[/dropcap]orrer que nem presas da avenida para a mata, a fintar o ar sujo para fugir do tempo e escapar ao mundo predador, mas que concepção disparatada. Disparate, como constatação do absurdo, é muito provavelmente um exagero, principalmente na sociedade actual submersa em excentricidades e sem limites. Talvez disparate por ser aquilo que o Homem (ainda) não perdeu nesta caminhada pelo século da tecnologia, e os que correm pelas ruas, de madrugada ou depois de longas horas de trabalho são os malucos, os doidos que alimentam este disparate.

Mas, há aqui um equívoco, então não estão os números de participantes nas corridas de rua a aumentar?

A verdade é que cada vez mais os doidos persuadem outros doidos (não vivêssemos neste Planeta de modas e de vícios)… e há ainda o tal síndrome do Verão que provoca sintomas da necessidade de ficar em forma!  Os descrentes da corrida desculpam-se com o objetivo de correr atrás da bola para marcar golo, ou com o tão enraizado conceito da falta de tempo. Pois bem, se vamos entrar na área das justificações os crentes, como contra-argumento, defendem que correr é a verdadeira essência humana do desporto, que o exercício da corrida é a prova da capacidade do Homem em se superar, e que para além disso é isento de qualquer adereço senão um corpo competente: basta sair para a rua e correr. A corrida não é[pullquote align=”right”]« (…) a corrida aparece sempre associada a liberdade e vitalidade, a juventude e vigor eterno. Só nos nossos dias é que a corrida se associa a medo e dor »[/pullquote] só um desporto individual, é assim do tipo misto, do género que permite aliar o clima de grupo à vontade própria, e que não se invalida na ausência de algum elemento.  À vertente pessoal acresce-se a saudável. É do conhecimento geral todos os benefícios da prática do exercício físico aeróbio (não exclusivamente), essencialmente como arma de combate ao sedentarismo e à obesidade implícita, mas também como prevenção de doença cardiovascular, osteoporose, hipercolesterolémia, hipertensão, aterosclerose, patologia do foro mental e psicológico e até de algumas neoplasias, como a da mama. É só vantagens, diria eu! E estaria a mentir se soubesse enumerar alguma desvantagem, pois não me ocorre qualquer uma…

Christopher McDougall, jornalista e autor do livro «Nascidos para correr» escreveu: «No folclore e mitologia, qualquer mito, qualquer conto de época, a corrida aparece sempre associada a liberdade e vitalidade, a juventude e vigor eterno. Só nos nossos dias é que a corrida se associa a medo e dor».

Christopher McDougall: Are we born to run?

No fundo, se recuarmos uns séculos atrás, a corrida era nem mais nem menos um meio de garantia de sobrevivência, uma forma de arranjar alimento; o mais rápido, o mais resistente, tinha vantagem. Não são mitos as caçadas intermináveis, sem hora marcada, em que o Homem se dedicava a cansar a presa até que esta desistisse correndo atrás dela e assim, vitorioso, chegaria a casa com alimento para uns bons meses. Rapidamente se conclui que estar em forma (pela corrida) se torna uma competição inata ao ser humano, será um instinto? Sendo assim, o que impede as pessoas de calçar as sapatilhas e sair para rua?

Rapidinha de Santana

O conceito da Rapidinha de Santana (iniciativa da AEFCML desde 2013) surge de muitos outros a crescer no nosso país e cujo objectivo é promover a prática de exercício físico, principalmente nestes tempos de crise em que nem todos arranjam a força de vontade ou a motivação para sair de casa para correr, nadar, pedalar, levantar pesos, fazer crossfit ou yoga. É assim, com base em incentivos interpessoais que este grupo nasce, para tentar chamar os estudantes e não só para o mundo dos doidos e construir um grupo de treino, de amigos, gratuito e com muitos benefícios para todos.

rapidinha de santana

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Aluna do 6º ano do MIM na FCM-UNL, oriunda de Loulé, apaixonada pela praia, pelo sol e pelo campo, ingressa na FCM em 2010 e desde 2012 que colabora com a secção de Saúde e Bem-Estar da FRONTAL. Como amante de desporto e praticante de atletismo, veste as cores da universidade NOVA e leva o nome desta mui nobre faculdade aos campeonatos universitários. Ao desporto alia o seu clarinete que toca desde os 8 anos e um gosto amador pela pintura, o que não pode acontecer é ter tempo livre. Tem especial curiosidade e apetência pelo estudo e compreensão do mundo que a rodeia, o que a leva a questionar e a querer descobrir as razões e as soluções para os problemas que surgem no seu caminho.

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