Em Portugal, a população jovem que considera emigrar vê o Reino Unido como uma escolha prioritária, predominantemente pelo fácil domínio da língua. Na área da Saúde, há já vários anos que é um país que recebe anualmente centenas de enfermeiros portugueses. Com as mudanças no panorama de acesso à especialidade em Portugal, está também a tornar-se frequentemente opção para os jovens médicos. É ainda um destino considerado por quem busca enveredar pela área da investigação. Assim sendo, o que pode mudar com a saída do Reino Unido da União? Antes de mais é preciso dizer que nos últimos meses já havia em cima da mesa alterações que se previam profundas nos contratos dos médicos em formação especializada – nomeadamente com importantes cortes salariais para os médicos internos. Contudo, uma das bandeiras de campanha do Brexit era precisamente a recapitalização do NHS para introduzir melhoramentos aos serviços – situação que poderia deitar por terra este novo documento. Nigel Farage, uma das caras desta linha de campanha, veio entretanto contradizer as suas afirmações de campanha a este respeito, deixando dúvidas a respeito de se haverá afinal reformas a este nível. Do ponto de vista dos sistemas instituídos há ainda a destacar dois domínios em que a vida do médico português candidato a especialidade no Reino Unido pode mudar: primeiro os vistos que autorizam a entrada e o direito a trabalhar no país deixarão provavelmente de ser automáticos, já que que deixa de haver livre circulação de pessoas e bens; deixa também de haver reconhecimento automático de qualificações, bem como de partilha de registos disciplinares entre as Ordens do Reino Unido e dos outros países da UE. Tendo tudo isto em consideração, muita burocracia poderá ter de mudar. A respeito deste assunto, Niall Dickson, em representação do General Medical Council, refere que Iremos explorar a forma como os médicos da UE serão registados no Reino Unido, e como preocupações [disciplinares] com estes médicos serão partilhadas entre nós e outros países
Do ponto de vista da Investigação, teme-se que haja um “brain drain”, com saída de investigadores internacionais que já não se sentem bem recebidos em terras de sua majestade. Mais importante que isso, no entanto, é a perda de financiamentos da UE para investigação, que alimentavam até agora este sector.
Stephen Hawking e um grupo de 150 académicos de Cambridge publicaram uma mensagem no The Times dizendo que “investimento em Ciência é importante para a prosperidade a longo prazo e segurança do Reino Unido” e afirmando que deixar a UE seria “um desastre para a Ciência e as universidades britânicas”.
Pesando todos estes factos, percebe-se que depois de tantos anos de União existem incontáveis problemas que terão de ser equacionados durante os próximos tempos no sentido de separar um ramo que esteve tanto tempo enxertado na árvore europeia.