“Como gerir um serviço hospitalar?”, Professor Doutor Eduardo Barroso | III Jornadas Médicas da NOVA

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“Mais de 90% dos acontecimentos cirúrgicos indesejáveis resultam de competências não-técnicas”

Que desafios se colocam a um Gestor de Serviço, e que qualidades deve possuir quem assume tal cargo? Foi esta a temática problematizada pelo Professor Doutor Eduardo Barroso, Diretor do Serviço de Cirurgia e Unidade de Transplantação do Hospital Curry Cabral e do Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação.

A propósito deste tema, o orador começa desde logo por advertir que “o que é preciso criar nos hospitais são unidades funcionais” e não manter a estrutura compartimentada dos atuais serviços. Quanto à assunção de cargos de liderança, se antes era frequente um diretor de serviço “aprender a sê-lo” apenas mediante o exemplo paternalista do mestre – sem qualquer contexto de promoção ao desenvolvimento das chamadas soft skills –, hoje a capacidade de inteligência emocional deve subjazer à liderança: ninguém é escolhido se não for dotado de resiliência e habilidade na comunicação e/ou negociação (seja com o doente e seus familiares, seja, eventualmente, com as administrações hospitalares ou instituições ministeriais). De realçar que esta importância não se restringe a uma subjetividade abstrata e intuitiva: nos Estados Unidos da América, a seriação dos eleitos para o cargo de diretor de serviço hospitalar é feita mediante a quantificação do coeficiente de inteligência emocional, que é privilegiado em detrimento do de inteligência normal (vulgar QI).

Recorrendo à célebre frase “o médico que só sabe Medicina nem de Medicina sabe”, o Professor partilhou, em jeito de conselho, a sua visão pessoal:

“Para serem bons médicos e possíveis líderes de qualquer coisa têm de estar integrados na sociedade em que se movem”

 A par dessa consciencialização social, “outra das características do líder emocional moderno é formar pessoas que vão ser ainda melhores”, sendo que o mesmo deve estar também capacitado para projetar e antecipar o futuro; saber tomar opções; e, sobretudo, saber comunicar e implementar decisões. Neste sentido, o Professor Eduardo afirmou que “as competências não-técnicas em cirurgia [NonTechnical Skills for Surgeons, NOTSS] representam uma enorme percentagem do que é importante o cirurgião saber. Mais de 90% dos acontecimentos indesejáveis na prática cirúrgica resultam não da falta de competência técnica, mas de faltas na comunicação e consciência do problema”. Esta autoconsciência é estimulada ao máximo nas reuniões multidisciplinares semanais que frequenta, ao contrário do que se verifica na “maioria dos serviços atuais, que ainda são quintas cirúrgicas”.

Para rematar a sua apresentação, o Professor apresentou o novo paradigma pelo qual se regerão os cirurgiões do futuro: a emergente Cirurgia de Precisão, que alia a excelência técnica às qualidades não-técnicas. Aliás, o maior elogio profissional que lhe foi feito visava justamente essa dualidade harmoniosa: “Nunca conheci um cirurgião que tivesse a capacidade de se relacionar com os doentes da maneira brilhante com que você se relaciona – isto sem sacrificar os valores científicos” (dito pelo Dr. Jorge Girão aquando último exame de carreira hospitalar do Professor Eduardo Barroso).

Por fim, citou igualmente Henri Bismuth (aquele que considera ser o maior cirurgião hepático vivo) – “I believe precision is the future of surgery” –, apesar de o conceito ter surgido pela mão do médico chinês Jiahong Dong (se quiseres saber mais, consulta o artigo disponibilizado em https://www.thieme-connect.com/products/ejournals/html/10.1055/s-0033-1351781).

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