Células Dendríticas, a Esperança que está em Nós

[Opinião]

O número de doentes oncológicos cresce a proporções desmedidas e o cancro abate a fé a 8 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Mas eis que surge uma nova esperança, uma revolução contra este grande monstro mundial: um tratamento inovador utilizando a própria força do doente. A terapia que está tão longe mas tão perto de nós.

Tem uma incidência de 12,7 milhões de novos casos em todo o mundo, dos quais 42 mil em Portugal. Traduz-se em 8 milhões de mortes por ano, 25 mil portugueses. São 70 pessoas por dia; 3 pessoas por hora. Números colossais para uma palavra tão curta: cancro. E curta é também a esperança de travar esta doença… pelo menos em alguns países. Noutros, pelo contrário, uma esperança revigorada cresce a olhos vistos com um tratamento inovador: a imunoterapia com células dendríticas. O futuro que já é presente em vários países.

Centenas de portugueses e restantes europeus deslocam-se quando no próprio país lhes é dada a sentença de morte, pois as sessões de quimioterapia já não resultam. Após esta porta fechada, está uma janela aberta na Alemanha. Desengane-se quem pensou imediatamente num tratamento para o cancro complexo: a imunoterapia é simples e vai de acordo com a Medicina Personalizada, tão apelada nos dias que correm.

A imunoterapia é simples e vai de acordo com a Medicina Personalizada, tão apelada nos dias que correm.

A Técnica

Em 2011, o canadiano Ralph Steinman ganhou o Prémio Nobel da Medicina, 38 anos após descobrir que as células dendríticas pertencem ao sistema imunitário. Para a sua aplicação em imunoterapia, obtêm-se alguns monócitos retirados ao doente com uma simples colheita de sangue convencional. Estes serão, então, estimulados a diferenciarem-se em células dendríticas imaturas, que estarão posteriormente em contacto com informação importante acerca do tumor – priming das células. Após a sua incorporação no doente, é estimulado o sistema imunitário da pessoa e as células tomam, assim, contacto com os antigénios tumorais, tornando-se aptas para apresentar as características do tumor ao exército de linfócitos T. Em apenas quatro sessões, este poderá combater o tumor eficazmente.

A taxa de sucesso desta terapia depende maioritariamente da reacção de cada sistema imunitário, não se sabendo se o problema está no doente ou no tumor quando não se obtém resposta. Há que realçar que a imunoterapia é um tratamento e não uma cura, pois há variáveis (genéticas, por exemplo) que o médico não controla – por este mesmo motivo é que a vacina é feita à medida de cada pessoa e pode ter um resultado melhor ou pior, conforme o doente.

O Des(conhecimento) Inerente

A imunoterapia é compatível com a quimio e radioterapia e, tal como estas, tem efeitos secundários – toleráveis, em prol do combate a um mal maior. Dado ser uma terapia relativamente nova não há muita informação disponível, mas os efeitos a curto prazo podem ser semelhantes aos de uma gripe – e desaparecem rapidamente – ou apresentarem-se, por exemplo, como um quadro de vómitos ou trombocitopenia, dependendo também do tipo e localização do tumor. No entanto, actualmente o mais preocupante é mesmo o preço da vacina.

Surge, então, uma pergunta: se é tão eficaz, porque é que a adesão a uma inovação destas não é a que seria esperada? A resposta baseia-se em dois factores – na desconfiança do que é novo e no factor económico.

Se é tão eficaz, porque é que a adesão a uma inovação destas não é a que seria esperada?

A imunoterapia está ainda em “fase experimental” e, por isso, a maioria dos oncologistas portugueses não a recomendam, apesar do reconhecimento noutros países. O desconhecimento da eficácia da técnica em relação às já existentes e dos efeitos a longo prazo constitui um travão para o avanço desta em Portugal. Já dizia Fernando Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se. E surge ainda a questão económica: nos EUA, Inglaterra e Alemanha o custo deste tipo de tratamento ronda os 145 mil euros, em ensaio clínico – números que nos parecem estrondosos. Contudo, são também milhares de euros que estão envolvidos na quimioterapia e, portanto, a imunoterapia poderá ser uma alternativa em jogo quando comprovada a sua (polémica) eficácia.

Já dizia Fernando Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Simples. É apenas o próprio corpo a combater contra algo estranho a si mesmo com uma ajuda exterior. O futuro à frente dos nossos olhos; um talvez hoje que poderá ser um sim amanhã (um próximo, esperemos). Pois há que procurar pela vida, quando perdê-la está fora de questão – e este tratamento poderá ser a solução para o monstro mundial que é o cancro, independentemente das suas características. Estará Portugal a ter uma mente fechada? Ainda não se sabe tudo, mas alguma vez saberemos tudo sobre tudo? Afinal, é como tudo na vida.

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Isabel Correia Tavares é aluna do 3° ano na FCM-NOVA, onde ingressou em 2012. Proveniente de uma família tradicionalmente ligada à saúde, não degenerou nesse sentido; a originalidade foi escassa e conduziu-a a frequentar o curso de Medicina. As suas origens remontam ao Alentejo, sentindo-se uma privilegiada por ter crescido na bela cidade de Estremoz. Tem cultivado também o gosto pela natureza e pela fotografia, mantendo-se atenta ao que se passa à sua volta; por arte, onde inclui num lugar especial a arte equestre, e, como não poderia deixar de ser, pelas palavras do (e no) mundo e o poder que estas detêm.

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