Portugal deve ter medo do Ébola?

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Quando foi anunciado um caso confirmado de Ébola na vizinha Espanha, muitos foram os que se arrepiaram com a possibilidade de uma epidemia em Portugal. O nível de preocupação subiu ainda mais no momento em que um doente suspeito foi internado no Hospital São João, Porto. Desde então, os ventos de tormenta amainaram – tendo o Ébola sido substituído pela Legionella no topo das preocupações epidemiológicas na mente dos portugueses – mas a pergunta mantém-se no ar: devemos ter medo do Ébola?

Os protocolos de resposta à crise preparados pelo Ministério da Saúde aqui resumidos para os estudantes de medicina.

Qual é o risco de ocorrer uma epidemia de Ébola em Portugal? Estaremos preparados para lidar com ela?

As opiniões dividem-se quanto a este aspeto. No entanto, a parada é simplesmente demasiado alta para se abdicar estar em estado de alerta – e ter medidas de controlo epidemológico preparadas para a eventualidade do surgimento de doentes.

A fraca ligação de Portugal com os países afetados – ou seja, a inexistência de movimentos migratórios significativos nas duas direções – “protege” de certa forma o nosso país. A existência de casos esporádicos, como os que aconteceram em Espanha ou Estados Unidos de América, dificilmente poderiam ser considerados uma emergência, tendo sido placados de forma mais ou menos eficiente pelas autoridades locais –  o mesmo será de esperar se casos semelhantes se passarem em Portugal.

O que deve fazer o doente se suspeitar que foi infetado pelo Ébola?

A primeira coisa que o público em geral deve ter em conta em relação à febre hemorrágica causada pelo vírus Ébola é que a sua transmissão não é tão fácil quanto a comunicação social tem feito parecer. Se uma pessoa não viajou para os países afetados pelo Ébola ou teve contacto direto com indivíduos infetados, então a causa dos sintomas não será provavelmente o famoso vírus.

Efetivamente, quem está em maior risco de infeção são os profissionais de saúde e outros prestadores de cuidados, os quais são obrigados a ter um contacto direto com o doente e respetivos fluidos corporais.

Hospitais de referência

Centro Hospitalar de São João (adultos e pediatria), Porto.

Centro Hospitalar Lisboa Central: Hospital Curry Cabral (adultos) e Hospital D. Estefânia (pediatria), Lisboa

De qualquer forma, em caso de suspeita de infeção pelo Ébola, o doente não se deve dirigir ao serviço de urgências mais próximo. O procedimento correto a fazer é ligar para a linha Saúde 24 (808 24 24 24). Este serviço tem operadores preparados para fazer a triagem, detetando os casos suspeitos com base em critérios clínicos (alterações gastro-intestinais, musculares, pulmonares, existência de dores de cabeça, manchas na pele, ou hemorragias) e epidemiológicos (estadia em áreas afetadas 21 dias antes do início dos sintomas ou contacto próximo com doentes infetados ou superfícies/objetos contaminados).

Em caso de confirmação de suspeita, o doente deve ser transportado por ambulância para um hospital de referência.

Qual deve ser a ação de um profissional de saúde quando perante um caso suspeito?

Caso o contacto seja feita através de um serviço de saúde, devem ser tomadas várias medidas de segurança. nomeadamente:

  • Criação de medidas de barreira, como o estabelecimento de um perímetro de um metro entre o doente suspeito e qualquer outra pessoa, a evicção do contacto com o doente, a utilização de luvas e máscara cirúrgica quando necessário contacto e isolamento do doente em área restrita;
  • Utilização de Equipamentos de Proteção Individual sempre que se exigir o contacto com o doente;
  • Privilégio da observação indireta do doente;
  • Iniciação de terapêutica empírica – antimaláricos e antipiréticos, em adultos e crianças, e antibóticos e rehidratação oral, em doentes de idade pediátrica – apenas quando se justifique.

Qualquer caso suspeito deve ser reportado à DGS, através da Linha de Apoio ao Médico da DGS (300 015 015). Caso exista confirmação da suspeita, o doente deve ser de imediato transferido para um hospital de referência.

Mais informações:                       


 

O ÉBOLA EXPLICADO AOS ESTUDANTES DE MEDICINA

A doença e o vírus

Aqui encontra-se o bê-a-bá do Ébola – uma abordagem sintética e informada sobre o vírus e a doença por si provocada. Os sintomas, os meios de transmissão, a fisiopatologia revistos para que nenhum estudante fique sem saber o que responder quando questionado pela avó sobre a tão falada doença.

Um mundo contra o Ébola

Nos últimos meses, o Ébola tem dominado os escaparates noticiosos e a mente da maioria dos responsáveis políticos da área da saúde . Num apelo inaudito, a Organização Mundial da Saúde instou os países de todo o globo a unirem-se na contenção da epidemia, prevendo cenários catastróficos caso a acção não fosse rápida e eficaz – e com muitos milhões pelo meio naturalmente! Dias depois do Congo ter-se anunciado como uma nação livre de Ébola, esta é a altura ideal para compreender o que foi feito, o que deve ser feito e o que ficou por fazer para limitar os efeitos desta catástrofe epidemiológica.

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Tem 23 anos, nasceu em Lisboa e é aluna do 5º ano de Medicina na FCM-UNL, após ter frequentado 1 ano em Medicina Dentária no ISCSEM. Adora viajar e conhecer novos mundos e culturas, já tendo morado na Alemanha e no Brasil e visitado 30 países em 3 continentes diferentes. O seu sonho é poder dar a volta ao mundo (mas não precisa de ser em balão, como o Júlio Verne!). Desde dezembro de 2013 que colabora com a revista FRONTAL. Pretende assim informar e inspirar os médicos do futuro (e não só!)

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