Apps ao Serviço da Saúde

As novas tecnologias representam o horizonte do século XXI e há todo um admirável mundo novo para descobrir sobre as suas possíveis aplicações. Os smartphones e outros dispositivos móveis, com as suas inúmeras aplicações (ou apps), tornaram-se rapidamente numa importante parte do nosso dia-a-dia, recolhendo dados de variados tipos, desde conversas e fotografias ao número de quilómetros diários percorridos ou calorias ingeridas. E se fosse possível a sua aplicação na investigação?

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O facto de serem dispositivos portáteis com sensores bastante precisos e, tendo em conta que a maioria das pessoas os encara como uma extensão das suas vidas, tornam-nos ferramentas muito poderosas na recolha de dados. Alguns dispositivos, como os smartwatches, recolhem continuamente dados biométricos do indivíduo, fornecendo, deste modo, uma visão mais rigorosa do estado físico e de saúde do mesmo. Se estes dados estiverem acessíveis aos profissionais de saúde, obter-se-ia uma visão mais integrativa da saúde de um indivíduo. Estes dispositivos podem, e vão, mudar os serviços de saúde ao capacitar, alertar e educar os utilizadores no que diz respeito à sua própria saúde. Existem evidências a favor desta influência positiva como alterações comportamentais dos utilizadores, como um menor recurso a consultas e exames. Além disso, ao possibilitarem a partilha de dados e informação de saúde, podem ajudar a otimizar a segurança e a efetividade de fármacos e dispositivos médicos.

Para além de uma forte influência ao nível individual, todo o processo de recolha e armazenamento de dados abre as portas à utilização destes dispositivos para áreas da investigação. A grande popularidade dos smartphones, associada a criatividade e empreendedorismo de alguns investigadores, permitiu a que nos últimos anos se tenham criado aplicações direcionadas à saúde, permitindo a aquisição de um expansivo leque de dados que podem ser potencialmente utilizados em estudos. Esta é uma das grandes vantagens comparativamente aos métodos tradicionais – a obtenção de uma amostra consideravelmente maior, que na maior parte dos casos se correlaciona com uma maior representatividade. A recolha de dados de modo mais regular ao longo do dia-a-dia dos participantes também possibilita um maior número de medições com o mínimo de impacto no seu quotidiano.

A globalidade destas bases de dados conduziu ponderação de estudos que há décadas atrás não passavam de um pesadelo logístico improvável, senão impossível, de concretizar. Exemplos incluem estudos que procuram averiguar a influência da cultura, gastronomia e estilos de vida no estado de saúde.

Outro exemplo, são estudos que procuram estabelecer associações em tempo real, algo que também no passado dificilmente passava do papel. Por exemplo, a Dra. Yvonne Chan, do Icahn Institute for Genomics and Multiscale Biology, no verão de 2015, ponderou a relação entre a presença de vários incêndios no estado de Washington e o agravamento sintomático da asma. Recorrendo aos dados armazenados através da aplicação Asthma Health, utilizada diariamente como método de controlo da asma por 8700 pessoas, acabou por confirmar às suas suspeitas, obtendo uma relação direta entre a presença de incêndios ativos e a declaração de agravamento sintomático.

Porém, apesar destas vantagens, muitos investigadores apresentam uma atitude expectante em relação a esta nova tecnologia, por lhe encontrarem algumas limitações potencialmente enviesadoras. Um destes casos é o ResearchKit, ferramenta criada pela Apple que torna mais fácil a procura de participantes e a realização de estudos, cingindo-se apenas aos dispositivos iOS. Deste modo, alguns investigadores preocupam-se com o facto dos dados obtidos através destas aplicações estarem restritos aos utilizadores de iPhones, população não representativa do mercado global de smartphones (correspondem apenas a 1/5) e que se associa a certas tendências demográficas, características que podem influenciar o estudo estatístico de algumas doenças crónicas. Por exemplo, a Diabetes Mellitus é uma doença cuja evolução se encontra altamente influenciada pelo estatuto social e dieta.

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Outra preocupação relaciona-se com a privacidade e segurança dos dados. No caso das aplicações criadas com recurso ao ResearchKit, os dados encontram-se assegurados em servidores pertencentes a uma organização sem fins lucrativos (ou seja, não ficam nos servidores da Apple), sendo eliminadas quaisquer informações identificadores. Porém, isto não resolve o problema, pois alguns estudos requerem o consentimento para a manutenção do nome e número em associação aos dados.

Outro problema advem do facto dos investigadores nunca chegarem a conhecer os participantes, levantando-se dúvidas no que diz respeito à qualidade dos dados por estes fornecidos. Todavia, investigadores que recorrem a estes dados, como a Dra. Chan, garantem que, até à data, nenhum dos participantes contribuiu com dados falso/aleatórios.

We’ve gone as far as we can with traditional research. Now we have technology in our pockets that lets us go even further.
Dr. Helen Egger
Duke University Medical Center

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