Cecilia Göthersström é Professora e Directora do Programa de Doutoramento em Medicina Regenerativa no Karolinska Institutet, dirigindo também o Banco Nacional de Sangue do Cordão Umbilical na Suécia. É ainda a principal investigadora no Centro de Hematologia e Medicina Regenerativa. No primeiro dia do iMed Conference 8.0, a Professora Göthersström lançou uma nova luz sobre o tratamento da Osteogénese Imperfecta com células estaminais e concedeu à Revista FRONTAL o prazer de uma pequena entrevista.
Em primeiro lugar, o ensaio ainda não foi iniciado. Tem que se ter ainda mais cuidado. Neste tipo de ensaios, é preciso ter cuidado, primeiro, com a qualidade que é necessária para o mesmo. Quando se lida com crianças, é necessário um cuidado ainda maior, sendo que este terá que ser cada vez maior quando envolvemos grávidas e os seus fetos, células estaminais, e ainda num outro nível quando envolvemos células estaminais de fetos. É necessário ter um extremo cuidado em tudo o que é feito. E algo importante neste processo é termos tido aconselhamento científico por parte de, por exemplo, agências de produtos médicos, tanto suecas do resto da Europa. Estas agências fizeram depois comentários sobre o nosso ensaio, ofereceram-nos algumas sugestões e aceitaram tratar precocemente e antes do nascimento. Na minha opinião, este foi um grande avanço.
É um processo muito longo. Foi muito inspirador ouvir a palestra dada por Bart Knols, e por todos os oradores, neste fim de semana, e nos seus projectos, que se encontram bem encaminhados. Comparativamente, pergunto-me se irei conseguir. Porque [o meu] é muito diferente, e foram muito poucas as pessoas que tentaram realizar um projecto destes e, por isso, não existe nenhum guia em como o fazer. Por isso, sim, é difícil.
Ela foi a primeira criança no mundo a ser tratada com células estaminais in utero. Tem levado muito tempo. Depois de nascer, ela estava a desenvolver-se melhor do que nós esperávamos. Não existe nenhuma outra criança com este tipo de Osteogenese Imperfecta (OI) com a mesma mutação – e existem mais de 15000 mutações diferentes nestes alelos, pelo que é difícil comparar pacientes. Mais de 5 anos depois, encontrámos um paciente no Canadá com a mesma mutação, que acabou por morrer por falência respiratória, devido a um tipo grave de OI. Foi talvez neste momento que pensámos que o tratamento pudesse estar a funcionar. Isto funciona como uma montanha-russa, sempre aos altos e baixos: tanto pensamos que talvez os esteja a ajudar, ou talvez não. É difícil, e depois é como se tudo se somasse, como uma escada. É uma compreensão gradual. Não é uma cura. O facto de eles sobreviverem não significa que o tratamento funcione. Ainda não sabemos se está realmente a funcionar. Eu acredito que sim. Sabemos que ajuda, mas ainda não temos evidência de como funciona. Isso acontecerá no final do ensaio.
Fotografia e Tradução: Marta Rodrigues
Gravação: Beatriz Nunes
Coordenação de Imagem: José Pedro Mendes