Atletismo, segundo Eva Alves

 Eva Alves, oriunda de Loulé, é estudante na FCM-NOVA e praticante incansável de atletismo. É frequente encontrá-la a correr no estádio universitário e a participar nas mais diversas corridas de competição e de lazer.

 Na FRONTAL escreve artigos sobre Saúde e Desporto, entre os quais “Doping, mais rápido, menos natural”, “Sol, o oportunista dos ginásios” e “Treinos vs Livros, segundo Arnaldo Abrantes” – Neste artigo será ela a entrevistada. Os curiosos terão oportunidade de olhar para o  atletismo segundo uma nova perspectiva.

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FRONTAL: Olá Eva! Gostaria de saber há quanto tempo é que praticas atletismo?

EA: Antes de mais, quero agradecer pelo convite para esta entrevista. Eu não sou atleta de alta competição, mas pratico atletismo e faço competição desde juvenil (14/15 anos), no entanto comecei a praticar por volta dos 13 anos, quando abandonei a ginástica acrobática, modalidade que praticava desde criança, na qual também participei em competições nacionais.

FRONTAL: Como é que começaste a praticá-lo?

EA: Comecei a praticar atletismo quando decidi deixar de praticar ginástica, senti que não me estava a identificar com a modalidade e que talvez não fosse assim tão apta para tal. Assim foi e até escolher outro desporto, para não deixar de fazer exercício, comecei a ir correr com o meu pai, que praticou atletismo nos seus tempos de juvenil e junior, e recomeçou já em veterano a fazer umas corridas a pé. Certo dia ele inscreveu-me numa prova de estrada em Faro, e quando cortei a meta decidi que era aquilo que ia fazer, correr. O ambiente e a sensação fascinaram-me. A partir daí nunca mais parei. No ano seguinte federei-me pelo clube que represento actualmente, ADCPF, e comecei a descobrir um novo mundo.

FRONTAL: Alguma vez sentiste que a prática de atletismo prejudicou o teu desempenho académico, ou pelo contrário, se foi uma ajuda?

EA: Nunca senti que tenha prejudicado, muito pelo contrário, sinto que se deixar de praticar exercício, o meu desempenho tanto a nível académico, como a nível pessoal/social entra em colapso, parece um pouco radical, mas é a verdade. O desporto é um vício e tal como outro vício qualquer, digamos que, estar de ressaca não beneficia ninguém em nenhum aspecto. Por outro lado, sinto que me conduz a um estilo de vida mais organizado, mais ritmado, e isso, considero que seja uma vantagem, uma vez que optimiza o rendimento do tempo.

FRONTAL: Quais as modalidades de corrida que tu mais gostas de praticar?

EA: O tipo de corrida da qual mais gosto é diferente daquele para o qual tenho mais aptidão. Eu adoro competir na pista, correr os 1500m e os 3000m. No entanto, até agora onde obtive melhores resultados foi na estrada e em corta-mato, devido, essencialmente à minha estrutura física, uma vez que não sou uma atleta propriamente rápida, que é importante em qualquer atleta vocacionado para a pista. Mas para dizer a verdade, gosto de correr e treinar em qualquer lugar.

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FRONTAL: O que é que nos podes dizer acerca dos teus hábitos de treino? Variam muito ao longo do ano, em função da corrida para a qual te preparas, do tempo livre que tens?

EA: Os treinos vão sofrendo algumas alterações ao longo do ano, uma vez que é necessário adequá-los às provas em questão e aos objectivos traçados no início da época. No atletismo, pode-se dizer que existem 3 épocas distinas, corta-mato e pista coberta, no inverno, e pista ao ar livre, no verão. Assim, o planeamento dos treinos é feito de acordo com estas épocas. Em relação ao tempo livre, normalmente nunca há problema, desde que haja uma boa organização. O que pode influenciar por vezes é o cansaço acumulado das aulas e do estudo, principalmente na época de exames, o que pode acabar por provocar alterações nos treinos programados por incapacidade física de os completar. Assim, é preciso ser realista e exigir o que é aceitável, e perceber quais os resultados que poderei alcançar no contexto do momento.

FRONTAL: Então e na época dos exames, continuas a correr?

EA: Claro! Durante os exames é essencial, é quando me faz mais falta. É uma altura intensa, uma vez que as competições mais importantes coincidem exatamente com as épocas de exames. É preciso organizar bem o tempo, e seguir uma rotina equilibrada e cuidada. No meu caso, a minha prioridade é a faculdade, portanto se tiver que faltar a um ou dois treinos, não há qualquer problema. Mas, se não for treinar também não consigo estudar devidamente. É preciso equilibrar a balança, e saber pesar bem os dois pratos.

FRONTAL: Quais foram os momentos mais altos do teu percurso enquanto atleta? As melhores classificações, os melhores tempos.

EA: Até ao dia de hoje, o momento que considero como mais alto foi praticamente todo o meu segundo ano no escalão de juvenil, na época de 2008/2009, pela qual fui nomeada atleta revelação da Associação de Atletismo do Algarve,. Nessa época conquistei vários títulos regionais, desde corta-matos, estrada e regionais de pista nos escalões de juvenil, juniores, sub23 e absolutos, ganhei várias provas, essencialmente a nível regional, para além de ter representado o Algarve no Olímpico Jovem Nacional e ainda ter participado no Campeonato nacional de juvenis. Eu costumo dizer que foi o meu ano de ouro. Embora na época passada tenha batido alguns recordes pessoais, até então todos as minhas melhores marcas pessoais eram dessa época.

FRONTAL: Quais as corridas deste ano nas quais pensas participar?

EA: Ainda não estão completamente definidas, o calendário da FPA ainda não foi lançado, mas tendo em conta que estou na minha última época como sub23, alguns objetivos passam pela obtenção de mínimos para as competições nacionais em pista deste escalão, participar nos campeonatos regionais de estrada, corta-mato, e pista, e talvez nos competições por clubes. Vai depender do que o 4º ano me deixar fazer.

FRONTAL: Em termos de correr por lazer, quais as corridas cá em Lisboa que achas mais interessantes? Ou seja, quais as que têm uma melhor organização, brindes, percurso?

EA: Eu adoro ver as pessoas a correr e participar nas corridas. Para mim, tirando as provas em pista, cá em Lisboa, talvez a Corrida do Tejo, se calhar por ter sido a primeira que fiz cá, a organização é muito boa. A verdade é que não participei em muitas por cá. A meia maratona de Lisboa aliada à mini-maratona também é uma prova gira. Tenho curiosidade em participar na São Silvestre, penso que seja muito divertida. Há sempre imensa gente a correr, e nunca se vai sozinho. É um ambiente que recomento a qualquer pessoa.

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FRONTAL: No artigo “Sol, o oportunista dos ginásios I” referiste a importância da alimentação para um bom rendimento durante a corrida, que outros factores é que achas importantes? O equipamento desportivo faz muita diferença? O tipo de sapatilhas, meias, camisola, boné…

EA: A minha opinião sobre esse tema já foi diferente. Hoje penso que o material é importante mas não é crucial. Basicamente para correr basta a vontade. A verdade é que o nosso corpo está preparado para enfrentar o impacto da corrida e por vezes interferir nessa capacidade pode trazer ou não vantagens, e acaba por dar-se demasiada importância a pequenos pormenores. Em relação a sapatilhas, como Gerard Hartmann diz: «O pé é uma construção quase perfeita, (…) uma abóbada plantar envolvida por uma rede altamente tênsil constituida por 26 ossos, 33 articulações, 12 tendões elásticos e 18 músculos, todos a esticar e a flectir como uma ponte suspensa à prova de tremores de terra. A beleza de cada abóbada é que fica mais forte com o aumento de pressão (…)». E com esta ideia, surgem muitas questões. A utilização de acessórios como as sapatilhas enfraquecem o pé? Há maior risco de lesão com a sua utilização? Será esta estrutura antómica suficientemente forte para carregar um corpo durante kms sem sofrer uma lesão? Serão os amortecimentos um factor de risco para os problemas dos corredores? Há várias hipóteses a equacionar, e hoje em dia, ainda não se chegou a um consenso. É claro que há alguns cuidados, como utilizar um boné, ou uns óculos, ou qualquer outro acessório para proteger de outros aspectos, mas isso vai muito no hábito de cada um. Obviamente que a alimentação tem muita influência, como explquei no artigo.

FRONTAL: Tens dicas para principiantes na corrida? Como é que uma pessoa arranja motivação para sair do sofá, calçar as sapatilhas e pôr-se a correr?

EA: Dicas, há muitas, mas essencialmente é não querer começar a correr logo uma hora ou muitos kms, o corpo não é uma máquina e precisa de se adaptar, começar devagarinho e ir aumentando a carga e o tempo. As motivações podem ser as mais variadas, dependendo das pessoas e dos seus objetivos, desde libertar o stress a querer perfazer determinada distância, ou em certo tempo. No entanto, penso que há uma comum a todos os corredores, a sensação no final de uma corrida. A satisfação, a liberdade e a despreocupação.

FRONTAL: Obrigado pela entrevista Eva!

Eva Alves, estudante de medicina, praticantes de atletismo e colaboradora na FRONTAL partilha connosco nesta entrevista a sua paixão pelo atletismo. Praticante de ginástica acrobática desde pequena, opta pelo atletismo aos 13 anos, modalidade com a qual se identifica mais e da qual já não se separa. Apoiada pelo seu pai, que corria juntamente com ela, tem rápidos progressos, vence várias competições  e torna-se atleta-revelação da Associação de Atletismo do Algarve, na época de 2008/2009, a sua época dourada. Adora competir na pista, apesar de ser na estrada ou no corta-mato que tem os melhores resultados. Consegue conciliar o atletismo, a vida estudantil e a vida social, vendo as várias componentes como peças de um todo, que interagem sinergicamente. Aconselha aos principiantes começarem a correr com calma, gradualmente, para o corpo se adaptar e quanto tiver preparado participar numa das várias maravilhosas corridas que há em Lisboa, a corrida do Tejo, a meia maratona de Lisboa ou a corrida de São Silvestre.

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Alexei Buruian, aluno do 4º ano na FCM-NOVA. Nasci na Moldávia e vim para Portugal em 2002, em 2010 ingresso no Ensino Superior. Atualmente sou colaborador do departamento Desportivo da AEFCML e da revista FRONTAL. Um grande agradecimento meu aos atletas que se disponibilizaram para fazer os artigos, foi um privilégio entrevistar-vos :) Estamos sempre à procura de atletas a quem possamos entrevistar! Se praticas alguma modalidade desportiva, especialmente uma que ainda não conste nos artigos disponíveis, então contacta-nos para desportivo@ae.fcm.unl.pt e partilha a tua história com a faculdade!

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