Dignidade até ao último suspiro!

Em 2007, 62 107 pessoas em final de vida tiveram necessidade de Cuidados Paliativos. Destas, apenas 10% foram referenciadas a estes, dos quais 50% faleceram antes de serem chamados. Os Cuidados Paliativos continuam a ser um assunto “tabu”, desconhecido e estigmatizado até pelos próprios médicos!

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«Leva-me para os Cuidados Paliativos. É lá que eu me sinto seguro. É lá que eu me sinto bem.», foram as últimas palavras de Pedro antes de morrer vítima de um osteossarcoma (tumor ósseo maligno) aos 32 anos. Segundo o testemunho de Zilda França, esposa de Pedro, este foi submetido a sessões intermináveis de quimioterapia e de radioterapia durante doze meses, até que finalmente foi referenciado a uma unidade de Cuidados Paliativos. Tal como a maioria dos doentes, Pedro e a esposa tinham a imagem pré-concebida de que «aquela Unidade deveria ser um espaço impessoal, frio, escuro, quase uma antecâmara da morte, para onde eram mandados todos aqueles ‘por quem já nada havia a fazer’». Mas rapidamente descobriram que não podiam estar mais enganados.

Os Cuidados Paliativos (a palavra paliativo advém do latim pallium, que significa cobertor) são cuidados prestados a doentes em situação de intenso sofrimento por doença incurável, em estado avançado de rápida progressão. Contrariamente à ideia generalizada, focam-se na vida, promovendo, tanto quanto possível e até ao fim, o bem-estar e a qualidade de vida dos doentes, através do alívio dos sintomas e do apoio psicológico, espiritual e emocional, contemplando o apoio à família, não só em vida como na fase de luto.

Apesar dos Cuidados Paliativos serem determinados pela situação e necessidades do doente, são as doenças oncológicas, as insuficiências de órgãos, a SIDA em estádio avançado, doenças neurológicas degenerativas e demências as patologias que mais frequentemente consomem estes recursos. Dado o aumento da longevidade e o incremento das doenças crónicas e progressivas, juntamente com as alterações na rede familiar, a Organização Mundial de Saúde considerou os Cuidados Paliativos como uma prioridade das Políticas de Saúde. Mas não são apenas os idosos que carecem destes cuidados, o problema da doença terminal é transversal a todas as faixas etárias, incluindo a infância.

 a Organização Mundial de Saúde considerou os Cuidados Paliativos como uma prioridade das Políticas de Saúde.

 frontal 2Por esta razão, foi aprovada em 2006 a criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), da qual fazem parte as unidades e equipas de Cuidados Paliativos, que podem prestar cuidados em instalações com internamento próprio ou por via de unidades móveis, acompanhando de forma estruturada e diferenciada os doentes internados ou no domicílio. Estas equipas são constituídas por médicos, enfermeiros, auxiliares de ação médica, psicólogos clínicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, técnicos de serviço social e apoio espiritual estruturado, contando também com o apoio de voluntários.

Neste momento, dentro da RNCCI há 46 camas em todo o país destinadas a cuidados paliativos, uma equipa intra-hospitalar e uma equipa comunitária, estando bastante abaixo das reais necessidades de acordo com a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), limitando o acesso a uma morte digna quando é possível proporcioná-la.

O que poderemos fazer para melhorar esta realidade? Apesar do baixo número de unidades e equipas disponíveis, a problemática do acesso aos Cuidados Paliativos também se prende muito pela falta de formação dos profissionais de saúde e de conhecimento da população em geral. Muitos médicos continuam a considerar a cura da doença como a principal meta da Medicina Ocidental, encarando a morte como um fracasso. Assim, tentam utilizar o máximo de recursos possíveis para tratar o doente, o que é muitas vezes considerado inadequado, dispendioso e prolonga o seu sofrimento; ou consideram o sofrimento compativel com a sua patologia incurável, recorrendo por vezes a medicação inadequada ao estado de sofrimento do doente. São estas as razões que muitas vezes levam os doentes a querer recorrer à eutanásia, que é então rejeitada pelos apologistas dos Cuidados Paliativos.

Neste sentido, o Departamento de Saúde Pública e Reprodutiva da AEFCML, em conjunto com a APCP, que certifica a iniciativa, organizou um Curso Básico de Cuidados Paliativos com a duração total de 21h, distribuído pelos dias 17, 24 e 31 de Maio, das 08h30 às 17h, com um custo associado de 16€ (curso, coffee breaks e almoço incluídos). Podes-te inscrever de 7 a 11 de Maio por formulário no site da AE.

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Investe na tua formação e faz a diferença!

NOTA: Para mais informações sobre o curso da AEFCML, contacta-a através de saudepublica@ae.fcm.unl.pt ou consulta http://ae.fcm.unl.pt.

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