ETCC – O Caminho para uma Mente Brilhante?

E se pudesses melhorar o teu desempenho cognitivo através de um estímulo elétrico? A ETCC parece ser promissora a esse nível, e até já se pensa que poderá vir a ser útil, por exemplo, no tratamento de patologias neuronais degenerativas. Mas até que ponto não se tratará esta técnica de uma forma de manipulação cerebral? Vem conhecê-la!

Recentemente tem vindo a aumentar o interesse num método inovador de estimulação cerebral – a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) – como um meio de melhorar a capacidade cognitiva. Pensa-se mesmo que poderá vir a ser do interesse de todas as pessoas que queiram ver melhoradas as suas capacidades cognitivas.

A ETCC, usando corrente contínua (DC) para estimular a área cerebral de interesse, está em desenvolvimento há mais de 100 anos. Há inclusive relatos de Scribonius Largus, médico da corte do imperador romano Claudius, em 46 dC, que afirmava utilizar raios elétricos aplicados na cabeça de doentes para tratamento de cefaleias. Houve ainda uma série de experiências rudimentares em animais e humanos, concluídas antes do século XIX, e que usaram esta técnica.

Atualmente, a renovação do interesse por esta técnica foi despertado por um aumento da necessidade de compreensão do funcionamento básico do cérebro e pela possível aplicação terapêutica da mesma.

Este ano foi disponibilizado, nos EUA, por um preço atrativo, este aparelho portátil, para compra livre de todos os interessados que pretendam melhorar as suas capacidades cognitivas. Isto levantou, junto de muitos cientistas, preocupações sobre as questões éticas que se levantam com esta técnica – especialmente a sua facilidade de uso como um “aparelho doméstico”.

A técnica envolve o envio de ondas de eletricidade (9 Volts) através de elétrodos estrategicamente colocados no crânio. Pensa-se que estes, ao atingirem o córtex pré-frontal, permitirão que as sinapses decorram de forma mais rápida através do controlo da despolarização/hiperpolarização da membrana dos neurónios atingidos. Por exemplo, quando a estimulação positiva é entregue, a corrente provoca uma despolarização do potencial de membrana em repouso, o que aumenta a excitabilidade neuronal e permite o disparo da célula de forma mais espontânea.

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Imagem retirada de “O que é Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC)?”, disponível em http://www.estimulacaoneurologica.com.br

Até ao momento, existem evidências de resultados positivos obtidos com esta técnica, em meio laboratorial, no âmbito da Medicina, na melhoria da sintomatologia da Doença de Parkinson, ansiedade, esquizofrenia e depressão. Apesar de vários editoriais e artigos recentemente publicados sobre o assunto na Nature, J Med Ethics, entre outras, a aplicabilidade exata dos dispositivos ETCC para o público em geral é ainda desconhecida, e existe  falta de evidência adicional sobre os seus potenciais riscos e benefícios.

O aspeto mais intrigante da ETCC é também o que a torna particularmente preocupante – o potencial para a manipulação, de longo prazo, da neuroplasticidade cerebral.

Num pequeno estudo recente, investigadores treinaram voluntários durante 6 dias com símbolos numéricos, enquanto a técnica ETCC foi aplicada simultaneamente aos seus lobos parietais. Os resultados foram melhorias sustentadas na sua proficiência numérica: os voluntários testados foram, em média, 28% mais rápidos do que os do grupo controlo a responder corretamente a problemas de cálculo. (Curr Biol 2010; 20:2016-2020). “A especificidade e a longevidade da ETCC sobre habilidades numéricas estabelece a ETCC como uma ferramenta realista para a intervenção nos casos de desenvolvimento numérico atípico ou perda de habilidades numéricas devido a acidente vascular cerebral ou doenças degenerativas”, afirmam os autores.

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Imagem retirada de “O que é Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC)?”, disponível em http://www.estimulacaoneurologica.com.br

Reconhecendo tais efeitos a longo prazo da ETCC, o Dr. Reiner, do National Core for Neuroethics, University of British Columbia (Vancouver, Canadá) e os seus colegas compararam os potenciais benefícios desta técnica com os obtidos através da ressonância magnética funcional. “Assim como a ressonância magnética funcional tem alimentado uma revolução na medição da atividade cerebral, a ETCC parece estar prestes a mudar radicalmente a nossa capacidade de manipular a atividade cerebral em seres humanos vivos”, escrevem os autores.

Trata-se de uma técnica minimamente invasiva. “Embora os elétrodos não penetrem o cérebro, a corrente elétrica deve fazê-lo. Caso contrário, ela não teria nenhum efeito sobre a função neuronal”, afirmam.

Até ao momento, o trabalho em laboratórios regeu-se por critérios rígidos, de modo a que se evitassem danos e se excluíssem indivíduos com condições médicas específicas, tais como historial de epilepsia ou hábitos toxicómanos, segundo Cohen Kadosh, investigador de Psicologia da Universidade de Oxford, Reino Unido. Alguns riscos desta técnica incluem a colocação inadequada dos elétrodos, a inversão da polaridade, a interação com agentes farmacológicos e efeitos indesejados de possível longa duração.

Kadosh espera encontrar financiamento para testar a estimulação elétrica cerebral em doentes reais, ao invés de somente em laboratório. Refere que novas abordagens são desesperadamente necessárias para ajudar os cerca de 20% de crianças que possuem dificuldades importantes de aprendizagem matemática.

O desenvolvimento desta técnica, bem como o apuramento das suas vantagens e desvantagens, continuará nos próximos meses. Até lá, alguns investigadores recomendam que se respeite a seguinte abordagem: NÃO EXPERIMENTE ISTO EM CASA!

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