4 Razões porque o iMed é mais que um Congresso

CO-IMED

O autor do artigo foi membro da Comissão Organizadora do iMed Conference nas duas edições anteriores, 4.0 e 5.0

Muito se pode dizer do iMed Conference, para quem dispensar uns momentos de reflexão. Um sujeito razoável poderá concluir: “para um evento que dura apenas um fim de semana, é uma carga de trabalhos!”. De facto, o trabalho tem início quase imediatamente após o final da edição anterior, dura todo um ano de dedicação intensiva com sacrifício de muitos prazeres e prioridades, e culmina num apogeu de meros dias de exaustão física e mental.

Afinal, porque é que um grupo de jovens – que, convenhamos, têm já o prato cheio – se dedica tão entusiastica e trabalhosamente durante doze meses por um congresso? A resposta não é, de todo, transparente: é que o iMed é muito mais que um simples congresso.

 

[dropcap]1.[/dropcap]É, surpreendentemente, um local de convívio.

Os estudantes que participam no congresso integram um sistema cultural e académico rígido, definido pela dualidade professor/aluno cujas fronteiras são intransponíveis e a interação é distante e subalterna. Já os convidados são geralmente oriundos de sociedades mais liberais onde o “você”, o “professor” e o “doutor” são excluídos do vocabulário quotidiano. O choque das duas perspetivas é invariável, ano após ano. Assim, ouvimos frequentemente participantes a repetir as mesmas frases: “ele foi tão atencioso e simpático” ou “parou para ler o meu poster e perguntou-me detalhes do meu trabalho” ou “tenho um selfie com um Nobel e o meu Schwartz autografado!”.

A torre de marfim de um professor universitário ou de um tutor hospitalar pode fazer sombra à torre de Babel. Mas os investigadores e clínicos que encontramos no iMed comportam-se como pouco mais que turistas: corteses, atentos e surpresos, procurando também absorver esta nova experiência. E se não é comum encontrar em Portugal tamanha quantidade e qualidade de investigadores internacionalmente reconhecidos, também não é comum assistir no nosso país a tamanha disponibilidade de uma suposta “elite” em questionar, discutir e conviver com jovens estudantes.

 

[dropcap]2.[/dropcap] É, não tão surpreendentemente, um local espanto.

Ao longo das últimas edições do iMed encontrámos histórias extraordinárias. Como a inibição de um fator de transcrição pode eliminar as doenças cardio-vasculares. Como o pressionar de um interruptor pode acionar um elétrodo e eliminar os sintomas de Alzheimer, Parkinson ou depressão. Como a transfusão de genes para crianças ainda in utero pode curar graves síndromes de imunodeficiência. E inúmeras outras.

Apesar de muitas destas histórias não nos parecerem, no final de contas, tangíveis no nosso quotidiano, muitas outras já o são. Por exemplo, como um antibiótico pode prevenir um cancro ou como uma sessão de radioterapia altamente localizada pode curá-lo. No iMed encontramos a descoberta que amanhã será prática. Ou, se não chegarmos a tanto, encontramos momentos de assombro. A ciência não é – nem pretende ser – uma religião, mas uma coisa é verdade: não tenho assistido recentemente a milagres que não os científicos.

 

[dropcap]3.[/dropcap] É a vitória da perseverança.

Quando começas com pouco, quase nada, e te propões a fazer algo bem maior que ti próprio, é possível que sintas o chão a fugir debaixo dos pés. Afinal, só podes contar contigo mesmo e com o apoio dos teus camaradas.

Terás de convidar, coordenar, ordenar, proteger, encorajar uma equipa de colegas. Terás de investigar, contactar, convencer, coordenar, transportar, hospedar inúmeros oradores. Terás de pesquisar, pedir, exigir, cativar fundos e tostões de patrocinadores. Terás de preparar, montar, produzir, distribuir uma imagem e uma forma de comunicação. Terás de conceptualizar, organizar, gerir, financiar, olear um sistema logístico imenso.

Tudo isto nos primeiros dois meses.

Para ilustrar este ponto, partilho uma história. Um dos oradores da edição 5.0 perguntou-me durante esse fim de semana de 2013: “Agora entre nós, isto não é feito só por estudantes, pois não?”, ao que respondi, “É sim professor, somos todos estudantes de Medicina”. Concluiu: “Fantástico, quando eu estava na faculdade a minha única preocupação eram os exames finais.”

 

[dropcap]4.[/dropcap] É a concretização de uma visão de que tudo é possível.

Se um grupo de 10-20 jovens, com pouca experiência, com poucos recursos e com poucos apoios, consegue organizar uma conferência com múltiplos prémios Nobel, uma dezena de outros oradores premiados e distinguidos, duas competições e múltiplos workshops haverá alguma ideia realmente impossível? Haja vontade. E haja visão. Porque é verdade, passado o fim de semana restam duas coisas: a emoção das memórias e do orgulho do que foi concretizado e a experiência e saber que com esforço amealhaste durante um duro ano de trabalho.

Este ano a Comissão Organizadora do iMed Conference esteve aberta a qualquer candidato que estivesse interessado em participar. Com certeza que o mesmo acontecerá em breve, para a próxima edição. Não fiques quieto, porque a experiência é muito mais que o congresso. Não importa onde estejas: se não contares uma boa história nunca serás recordado.

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Ex-aluno da Faculdade de Ciências Médicas, atualmente Interno do Ano Comum, André Ferreira participou na vida académica da sua faculdade tendo sido membro da Direção da AEFCML no mandato 2012/2013, onde foi responsável pelo departamento de Imagem e Comunicação. Participou nas Comissões Organizadoras do iMed Conference 4.0 e 5.0. Foi Diretor da Revista FRONTAL durante o mandato 2012/2013 e responsável por várias áreas de imagem no mandato seguinte.

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