#1 MUSICOTERAPIA: King Gizzard & the Lizard Wizard – Gamma Knife

Se és como a equipa de redação da FRONTAL e inúmeras vezes, ao ouvires determinada música, especulaste acerca da probabilidade da sua inspiração ter partido algures dos confins do mundo médico, então esta rubrica é para ti. É, portanto, com enorme satisfação que vos trazemos o artigo inaugural da Musicoterapia – a rubrica musical da FRONTAL onde pretendemos, de forma breve, explorar ou conjeturar acerca das possíveis correlações, das mais óbvias às mais rebuscadas, entre aquela música que não nos sai da cabeça e a Medicina.

King Gizzard & the Lizard Wizard.

Os King Gizzard & the Lizard Wizard são uma banda composta por 7 australianos: Stu Mackenzie, Ambrose Kenny-Smith, Joey Walker, Cook Craig, Lucas Skinner, Eric Moore e Michael Cavanagh). No ativo desde 2010, são amplamente reconhecidos pelo seu quase contínuo output musical, lançando uma média superior a 2 álbuns por ano – após terem presenteado os seus fãs com 5 álbuns no ano de 2017, o nome King Gizzard & the Lizard Wizard (em português: Rei Moela e o Feiticeiro Lagarto – um nome muito português, diria eu) tornou-se num lugar-comum na comunidade musical do garage rock e rock psicadélico (mas conhecido também pelas suas aventuras por estilos mais melódicos, experiências acústicas, álbuns narrados e sonoridades de jazz). Também em Portugal contam já com um fiel núcleo de admiradores, sempre desejosos pela oportunidade de os ver ao vivo e experienciar alguns (sempre poucos) minutos de excelente qualidade musical, em concertos repletos de energia.

Ainda antes do grande ano de 2017 para os King Gizzard, foi a 29 de abril de 2016 que estes rapazes australianos lançaram aquele que é, por muitos dos seus fãs, considerada a grande obra-prima da sua discografia: o álbum Nonagon Infinity, o seu oitavo de longa duração. Um álbum eletrizante em todos os seus momentos, constitui essencialmente um loop infinito (colocando o “infinito” em “Nonagon Infinity”) que dobra sobre si mesmo, proporcionando aos seus ouvintes uma experiência musical única – espetacularmente, é possível ouvi-lo em loop contínuo para sempre. Nas palavras de um dos guitarristas da banda, Joey Walker, é o álbum que mais fielmente representa um concerto dos KGLW ao vivo – privilégio que aqui por terras lusitanas já pudemos experienciar em 5 anos consecutivos (2014 a 2018).

Capa do álbum “Nonagon Infinity” dos King Gizzard & the Lizard Wizard.

E é neste contexto que surge a música escolhida para inaugurar a rubrica musical da FRONTAL: “Gamma Knife” foi o single de apresentação de Nonagon Infinity, lançado pelos rapazes em março desse ano em antecipação do lançamento do álbum. Representando o início da sua aventura por territórios (ainda) mais agressivos e frenéticos, trata-se de uma música de energia absolutamente veloz e tumultuosa, deixando-nos a suster a respiração durante todos os seus 4 minutos e 22 segundos, sem termos sequer vontade de parar para tomar uma golfada de ar.

Mas o que é a gamma knife? Na verdade, não é faca nenhuma, pretendendo inclusive evitar o uso de instrumentos cortantes. Trata-se de uma forma da radioterapia que foca, de forma muito precisa, intensos feixes de radiação γ em áreas específicas do cérebro, alvejando lesões focais sem a necessidade de cirurgia tradicional “de tampa aberta”. As suas principais indicações são para o tratamento de tumores cerebrais (lesando ou destruindo o DNA das células tumorais), malformações vasculares (potenciando o encerramento dos vasos anómalos), nevralgias como a do trigémio (reduzindo a função dos nervos malfuncionantes), entre outras. Ao libertar uma dose intensa e precisa de radiação apenas ao atingir a lesão, por convergência de vários feixes de radiação γ (que carregam cada um uma dose mínima enquanto atravessam o tecido cerebral normal), a gamma knife constitui-se como uma forma de radiocirurgia (“cirurgia” por ter resultados equivalentes aos neurocirúrgicos tradicionais) extremamente precisa e meticulosa, com a vantagem de, ao contrário das técnicas radioterapêuticas clássicas, poupar largamente o tecido cerebral saudável. Em Portugal, existe uma unidade que funciona no hospital CUF Infante Santo, em Lisboa – o Centro Gamma Knife -, munida de equipamento de radiocirurgia estereotáxica e um corpo clínico especializado.

Deixamo-vos com o vídeo que acompanha “Gamma Knife” (realizado por Danny Cohen e Jason Galea) e com o desafio de chegarem ao final sem alguma espécie de enjoo do movimento a necessitar de terapêutica de reabilitação vestibular.


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