“It tastes like goblin piss” – Poções

Mad-Eye Moody: For those of you who haven’t taken Polyjuice Potion before, fair warning: it tastes like goblin piss.

George: Have a lot of experiences with that, do you, Mad-Eye?

Mad-Eye Moody, Harry Potter and the Deadly Hallows – Part I

Em Harry Potter e os Talismãs da Morte, o estratagema criado pela Ordem da Fénix para tirar Harry de Privet Drive em segurança foi fazer com que todos os membros da Ordem tomassem uma poção Polissuco... Com essência de Harry.
Em Harry Potter e os Talismãs da Morte, o estratagema criado pela Ordem da Fénix para tirar Harry de Privet Drive em segurança foi fazer com que todos os membros da Ordem tomassem uma poção Polissuco… Com essência de Harry. (imagem retirada aqui)

Não é só a Poção Polissuco que têm um sabor peculiar e desagradável. Muitos dos nossos fármacos têm, infelizmente, características gustativas menos simpáticas, o que dificulta algumas vezes a adesão terapêutica. Tal como os fármacos, também as poções podem ser vendidas de modo standard, diminuindo o risco de efeitos colaterais. No entanto, faz parte da educação de qualquer jovem feiticeiro a aprendizagem de muitas das poções úteis no dia-a-dia. Sejam elas para salvar vidas ou para lhes pôr termo.

1ª PARTE

2ª PARTE

Poção Polissuco

A Poção Polissuco é, sem dúvida, uma das poções mais conhecidas de toda a saga de Harry Potter. É a poção que permite a transformação de uma pessoa em outra. Trata-se de um preparado difícil e os seus resultados podem ser desastrosos se mal confeccionado (recordemos a cara de gato de Hermione quando ela confundiu um cabelo de Millicent Bulstrode com um pêlo de gato). Caso Irma Price, a irritável bibliotecária de Hogwarts, esteja num dia bom, aceitará facilmente uma falsificação da assinatura de um Professor para requisitar o livro Moste Potente Potions, presente na Área Restrita, que possui a receita para elaborar esta poção.

A confeção desta poção divide-se em duas partes e precisa de uma grande preparação prévia de materiais.

Página referente à Poção Polissuco de Moste Potente Potions.
Página referente à Poção Polissuco, no livro Moste Potente Potions. (imagem retirada aqui)

[toggle title=”1ª PARTE”]Adicionar três medidas de descurainia colhidas na Lua Cheia ao caldeirão

Adicionar dois feixes de centonódia ao caldeirão Mexer três vezes no sentido dos ponteiros do relógio

Agitar a varinha e deixar a poção repousar 80 minutos, num caldeirão de estanho (num caldeirão de latão só é necessário esperar 68 minutos e num de cobre apenas 60)

Adicionar quatro sanguessugas ao caldeirão

Adicionar duas conchas de moscas asas de renda ao almofariz, esmagar até obter um pó fino, e depois adicionar duas medidas desse pó ao caldeirão

Aquecer por trinta segundos a temperatura baixa

Agitar a varinha para completar esta parte da poção[/toggle]

[toggle title=”2ª PARTE”]Adicionar pele de boomslang ao preparado anterior

Adicionar uma medida de corno de bicórnio ao almofariz, esmagar até obter um pó fino, e adicionar uma medida de pó ao caldeirão

Aquecer por vinte segundos a uma temperatura alta

Agitar a varinha e deixar repousar o preparado durante um dia, num caldeirão de estanho (um caldeirão de latão só precisa de 1224 minutos e um de cobre apenas 18 horas)

Adicionar uma colher adicional de moscas asas de renda ao caldeirão

Agitar três vezes, em sentido anti-horário

Dividir a poção em doses múltiplas e adicionar partes da pessoa em quem se pretende transformar

Agitar a varinha para terminar a poção.[/toggle]

Antes de ser adicionado o ingrediente personalizado para terminar a poção, esta possui uma aparência lamacenta e escura. Assim que o ingrediente final é adicionado, a poção muda de cor, conforme a “essência” da pessoa da qual foi retirado o “pedaço”. Caso a pessoa tenha um bom carácter, a poção adquirirá uma cor mais agradável (a poção polissuco com cabelo de Harry tinha uma cor dourada, mas a de Goyle assemelhava-se a uma couve demasiado cozida).

J. K. Rowling não pensou nos ingredientes para a Poção Polissuco ao acaso. Fluxweed, traduzido como descurainia, advém da palavra flux, mudança constante. Para a autora esta planta simboliza a mutabilidade de um corpo para o outro graças à poção. A descurainia tem também propriedades curativas. Por outro lado, knotgrass, centonódia ou erva-da-muda, foi escolhida por representar o elo de ligação ou elo (knot) entre duas pessoas, neste caso, entre a pessoa que quer ser transformada e a pessoa-base dessa transformação. Esta planta, possivelmente Polygonum aviculare, era popularmente conhecida como capaz de retardar o crescimento dos animais. Por último, também a pele de boomslang tem um significado premente: boomslang é uma cobra, e o uso da sua pele simboliza o “vestir a pele” de outra pessoa.

Para nós, Muggles, não existe qualquer fármaco que possa atribuir características fenotípicas específicas de um indíviduo a outro. Só a cirurgia estética estará perto de o conseguir, com as devidas reservas éticas.

Poção Wolfsbane

A Poção Wolfsbane, preparada por Severus Snape.
A Poção Wolfsbane, preparada por Severus Snape. (imagem retirada aqui)

Severus Snape, a pedido de Albus Dumbledore (e bastante contra a sua própria vontade), elaborava a poção Wolfsbane para Remus Lupin, que permitia o alívio de alguns sintomas aliados à transformação em lobisomem e a manutenção das capacidades mentais humanas durante e após a transformação. A poção Wolfsbane é conhecida por ter um sabor intragável e exibir um fumo azul ténue. Não é permitida a adição de açúcar a esta poção, uma vez que essa substância consegue anular o efeito da medicação.

Wolfsbane foi criada em meados de 1970 por Damócles, que utilizou como principal ingrediente o acónito. O áconito, ou Aconitum napellus, é uma ranunculácea conhecida em Portugal como capacete-de-Júpiter, casco-de-Júpiter, Carro de Vénus, Capuz de Frade (monkshood) ou, a mais importante, Veneno de Lobo. O género aconitum é referido em alguns manuscritos gregos, romanos e chineses pela sua ação venenosa, razão pela qual as flechas eram impregnadas com estas plantas de forma a envenenar as suas vítimas, nomeadamente, lobos. A ação desta planta deve-se à toxina aconitina. Na Medicina Ocidental, o acónito foi utilizado até meados dos século XX como analgésico potente e anestésico. Contudo, verificava-se que a pressão arterial diminuía nitidamente, originando arritmias e falência cardíaca. Diminui também a atividade sensitiva da medula espinhal e leva a dilatação pupilar. Tal como acontece com a poção, o acónito não afeta o cérebro (Tachjian, A. Use of Herbal Products and Potential Interactions in Patients with Cardiovascular Diseases. 2010). Atualmente, na Medicina Tradicional Chinesa, esta planta foi aprovada no tratamento da artrite reumatóide e da dor crónica. (English, J. Traditional Chinese Herbs for Arthritis, 2010)

É de notar a cronicidade deste tratamento: Remus Lupin está condenado a ser um lobisomem até ao fim dos seus dias, não havendo qualquer tratamento ou poção mágica que o possa salvar desse destino, tal como acontece com muitas das doenças crónicas dos Muggles. Já a licantropia é tratada consoante o distúrbio psiquiátrico de base, recorrendo à terapêutica adequada referida na 1ª parte desta série.

Skele-Gro

A garrafa de Skele Gro
A garrafa de Skele Gro. (imagem retirada de link)

O Skele-Gro é uma poção utilizada para promover o crescimento ósseo, de composição desconhecida. É característico o seu sabor desagradável, ardente, e efeitos secundários dolorosos. Na verdade, Harry deitou-a fora a primeira vez que a tomou.

What did you expect? Pumpkin juice?

Madame Pomfrey, Harry Potter and the Chamber of Secrets

Para um tratamento médico-mágico, o Skele-Gro tem uma ação lenta: demora uma noite a fazer efeito. Segundo Harry Potter, o efeito desta poção assemelhava-se a ter milhões de espinhos no seu braço. O herói da saga teve de tomar esta poção devido ao efeito desastroso do Brackium Emendo aplicado pelo Professor Lockhart, que lhe removeu os ossos do braço. O conhecimento da fórmula exata desta poção seria bastante vantajoso para os médicos Muggles – diminuiria a morbilidade e os custos associados às fraturas ósseas, tão frequentes nas faixas etárias mais idosas e com tão elevada morbi-mortalidade precoce e tardia.

Magias Mirabolantes dos Weasleys

Loja de "Magias Mirabolantes dos Weasley", na Diagon-Al
Loja de “Magias Mirabolantes dos Weasley”, na Diagon-Al (imagem retirada aqui)

Os gémeos Weasley, Fred e George, nunca seriam capazes de inventar algo que promovesse o “bem-estar” de um feiticeiro sem dar origem a uma boa dose de gargalhadas. Por isso, no seu arsenal de brincadeiras mágicas, encontram-se também algumas poções e comprimidos destinados a algumas terapêuticas menos ortodoxas e, também, a provocar patologias ligeiras…

Nougat Chuva-de-Sangue-Nasal

Provoca uma tremenda epistaxis nos segundos após a toma. Para parar, é necessário tomar o doce roxo, disponível dentro da caixa “Lancheira de Aparas”, onde também vem o doce laranja, responsável pelo sangramento.

Pastihas de Vómito

Não há ninguém que goste de emese. A não ser que seja imperativo para abandonar uma sala de aulas. Comendo a porção laranja das pastilhas, o aluno irromperá numa sessão de vómitos violenta, que lhe permitirá sair da sala. Quando estiver fora do alcance do professor, pode então comer a parte roxa da pastilha, que lhe restabelecerá a normalidade. Como em qualquer outro produto Weasley, não se sabe a constituição destas pastilhas.

U-No-Poo

À semelhança dos obstipantes utilizados pelos Muggles, estes comprimidos causam obstipação a quem o tomar. Logicamente, parecem ser mais um doce desenvolvido para partidas do que para fins terapêuticos.

WHY ARE YOU WORRYING ABOUT YOU-KNOW-WHO?
YOU SHOULD BE WORRYING ABOUT U-NO-POO
THE CONSTIPATION SENSATION THAT’S GRIPPING THE NATION!

Publicidade referente aos comprimidos U-No-Poo, Harry Potter and the Half-Blood Prince

Pasta Removedora de Nódoas Negras

Esta pasta espessa amarela remove qualquer equimose no espaço de uma hora. Tendo em conta que uma boa quantidade dos seus produtos tinham efeitos adversos violentos durante a sua preparação e refinação, os gémeos Weasley acharam conveniente ter algo que melhorasse as suas nódoas negras.  Curiosamente, as raízes de arnica, uma asterácea, também possuem propriedades curativas nesse campo, sendo utilizadas em géis para equimoses, esforços musculares e distensões.

Bezoar

Caixa com Bezoars
Caixa com Bezoars (imagem retirada de link)

Para qualquer estudante de Medicina que volte a pegar num livro de Harry Potter, este nome causa um franzir de sobrancelhas. Durante uma das aulas de Poções do 1º Ano de Harry Potter, o Professor Snape ensina aos seus alunos que um bezoar é uma pedra extraída do estômago de uma cabra que atua como antídoto para a maioria das poções, sendo usada na preparação do Antídoto para Poções Comuns. Foi esta pedra que salvou a vida a Ron Weasley quando ele bebeu hidromel envenenado, destinado ao Professor Dumbledore.

Na verdade, um bezoar é um acumular de matéria sólida dentro do trato gastrointestinal de um ser vivo, até dos humanos, que pode provocar obstrução. Já um pseudobezoar é qualquer substância que seja indigesta e que permaneça no sistema. A própria palavra bezoar vem do persa pad-zahr, que significa “proteção contra veneno”.

A primeira descrição de um bezoar remonta a 1161, pelo médico árabe Ibn Zuhr, que lhe atribuía propriedades médicas. Só 1575 o cirurgião Ambroise Paré, um dos pais da cirurgia moderna e da Medicina em teatro de guerra, decidiu mostrar que o bezoar não tinha qualquer capacidade de curar o efeito de um veneno. Para provar a sua suposição pediu para que o cozinheiro da corte francesa, condenado à morte, fosse envenenado em vez de enforcado. Tendo o cozinheiro concordado, o cirurgião prosseguiu com o envenenamento, seguido de administração oral do bezoar. Como seria esperado, o bezoar não surtiu qualquer efeito e o cozinheiro morreu em agonia. (Paget, S. Ambroise Paré and His Times. 1897)

Essência de Ditaína

Em Harry Potter e os Talismãs da Morte, durante uma materialização, Ron Weasley sofre feridas profundas
Em Harry Potter e os Talismãs da Morte, durante uma materialização, Ron Weasley sofre feridas profundas. (imagem retirada aqui)

A essência de ditaína consegue estimular a formação de tecido novo em feridas, fazendo com que a evolução da ferida seja significativamente mais célere. Previne também a formação de cicatrizes permanentes. Pode ser aplicado tanto de forma tópica como consumido oralmente. Ao longo de Harry Potter e os Talismãs da Morte, Hermione aplica-o várias vezes nas feridas dos companheiros, como quando Ron é ferido ao materializar-se como após o ataque de Nagini a Harry. Severus Snape também recomendeu que Draco Malfoy usasse esta poção para evitar ficar com cicatrizes, após Harry o ter atacado com a maldição Sectumsempra.

Esta planta foi possivelmente baseada em Origanum dictamnus, uma planta perenial. Conhecida na Antiguidade Grega também como afrodisíaca (o que explicaria também muitos dos acontecimentos do último livro da saga), esta planta era usada por Hipócrates para dores abdominais, cura de feridas e indutor da menstruação. Curiosamente, esta planta possui atividade contra Listeria monocytogenes, a bactéria causadora de listeriose.

Poção do Morto-Vivo

Hermione Granger a tentar decifrar o porquê da sua poção não estar a correr exatamente como esperado segundo o livro... Como Harry teve o prazer de lhe explicar, por vezes, não basta apenas seguir a receita. Há que "inventar".
Hermione Granger a tentar decifrar o porquê da sua poção não estar a correr exatamente como esperado segundo o livro… Como Harry teve o prazer de lhe explicar, por vezes, não basta apenas seguir a receita. Há que “inventar”. (imagem retirada aqui)

A poção do morto-vivo causa um sono profundo, do qual é difícil de acordar, gerando um estado de coma. O antídoto conhecido é a poção Wiggenweld. Esta poção deu origem a um conto de fadas mágico, no qual uma bruxa, Leticia Somnolens, invejosa da beleza da filha do rei, atraiu a rapariga até uma roca impregnada com esta poção, induzindo a princesa num sono profundo. Reza a história que o príncipe que beijou a princesa e a acordou do seu sono tinha a poção Wiggenweld nos lábios. Sem dúvida alguma uma versão muito mais interessante que a versão muito pouco esclarecedora de A Bela Adormecida Muggle.

Esta poção é extremamente difícil de preparar, sendo necessário uma infusão de madeira quente, asfódelo, feijões sopofóros e cérebro de uma preguiça. É curioso que o asfódelo seja utilizado, uma vez que esta planta está relacionada, na mitologia grega, com os mortos. É vista muitas vezes nos cabelos de Perséfone, esposa de Hades, o deus do submundo, e a cobrir campas.

Poção da Paz

É o calmante mais eficaz no mundo mágico, aliviando ansiedade e agitação de forma rápida. Novamente, trata-se de uma poção cuja preparação é de extrema dificuldade. Um erro no seguimento da receita resulta numa poção desastrosa, que induz, por exemplo, um sono incurável. Os ingredientes necessários para a sua confeção são pedra de lua, xarope de helebóro, pó de corno de unicórnio e de penas de porcupins. Se a confeção estiver correta, o preparado emitirá um vapor prateado. Tanto a pedra de lua como o uso de material de unicórnio são dois elementos indubitavelmente associados ao sono e à pureza. O helebóro é conhecido em duas variantes, branco e negro. O helebóro branco era utilizado por Hipócrates como purgativo, apesar de ser muito tóxico. Por outro lado, o helebóro negro era usado nas civilizações antigas no tratamento de paralisia, gota e demência. Esta última planta é também altamente tóxica.

Elixir da Vida

A Pedra Filosofal, na mão de Harry Potter
A Pedra Filosofal, na mão de Harry Potter

A pedra filosofal foi, durante séculos, o sonho de qualquer alquimista, físico, químico e filósofo, sendo associada incontornavelmente ao elixir da vida. Na saga Harry Potter, este elixir não garante a vida eterna. Apenas prolonga a vida de quem o toma regularmente, como era o caso do seu fabricante, Nicolas Flamel e a sua mulher, Perenelle. A receita desta poção é um segredo absoluto, sabendo-se apenas que quem depende desta poção deve tomar uma nova dose antes que a última tenha sido completamente eliminada do organismo; caso contrário essa pessoa morrerá.  Nesta série não é claro o efeito que o elixir tem em quem o bebe, permanecendo uma incógnita se Nicolas Flamel seria ainda um homem jovem com cerca de 600 anos, ou um idoso.

Nicolas Flamel viveu realmente em Paris, durante os séculos XIV e XV, com a sua mulher Perenelle, com a qual regia duas lojas de venda de manuscritos, que ele copiava. A sua fortuna provinha dos dois casamentos anteriores da mulher, com a qual faziam doações frequentes à Igreja e aquisição de propriedades. Possui um testamento conhecido, o qual não lhe atribui qualquer legado alquimista. Na verdade, muitos consideram que a especulação sobre a pedra filosofal e o elixir da vida foram histórias elaboradas já no século XVII. Existe, contudo, um livro, Livre des figures hiéroglyphiques, publicado em 1612, que tem alguns desenhos de tímpanos para o Cemitério dos Inocentes que foram encomendados pelo mecenas. Na introdução desse livro, o publicador descreve a procura de Flamel pela Pedra Filosofal através de um livro de 21 páginas numa língua desconhecida. O livro seria o Livro de Abramelim, o Mágico, que lhe permitiu transformar qualquer metal em ouro, recorrendo à pedra filosofal.

O elixir da vida nem sempre esteve associado à pedra filosofal e a sua origem parece ser mais ancestral que a do mesmo. Mais do que prolongar a vida, a este elixir é-lhe atribuída a propriedade da juventude eterna ou mesmo da criação da vida. No folclore chinês existem várias histórias que relatam tentativas de viagens em busca do elixir da vida eterna, tendo atribuído a alguns metais preciosos, como o ouro e o cinabre, essas propriedades. O médico Sun Simiao, que viveu no século VI ou VII d. C., escreveu vários textos descritivos sobre elixires da vida eterna, em que o ingrediente principal era sempre um metal, como o mercúrio, ou o enxofre e o arsénico. Ironica mas expectavelmente, o Imperador Jiajing, da dinastia Ming, morreu envenenado com mercúrio, utilizado numa dose letal no fabrico de um elixir da vida eterna.

Sangue de Unicórnio

Hagrid a examinar sangue de unicórnio.
Hagrid a examinar sangue de unicórnio. (imagem retirada aqui)

 

It is a monstrous thing, to slay a unicorn.  The blood of a unicorn will keep you alive, even if you are an inch from death, but at a terrible price. You have slain something so pure, that from the moment the blood touches your lips, you’ll have a half-life. A cursed life.

Firenze, Harry Potter and the Philosopher’ Stone

O sangue de unicórnio é uma substância altamente controlada pelo Ministério da Magia, que proíbe a venda do mesmo. É uma substância espessa, dourada, que alegadamente repõe a vida a quem esteja às portas da morte. Peter Pettigrew, o traidor da Ordem da Fénix, utilizou este sangue, juntamente com o veneno de Nagini, para criar uma poção que desenvolveria um corpo humano para a figura quase fetal de Lord Voldemort. Pelas palavras de Firenze, o centauro da Floresta Negra, qualquer um que beba sangue de unicórnio está condenado a uma vida amaldiçoada. Não se sabe se esta suposição apenas se aplica a pessoas desesperadas por uma vida mais longa e não a Senhores das Trevas sem qualquer traço de Humanidade.

Os unicórnios são criaturas descritas na Literatura desde a Antiguidade Clássica, onde representavam criaturas fantásticas, mas não necessariamente associadas à ideia de pureza. Essa ideia só pareceu ganhar forma durante a Idade Média e Renascimento, onde era relatado que para capturar um unicórnio era necessário recorrer a uma donzela virgem, dada a atração dos unicórnios por elas. Este registo é apoiado pelas anotações de Leonardo da Vinci, que alegava que a ferocidade do animal cessava com a visão de uma donzela. O unicórnio é assim descrito como indomável e, novamente, os únicos que o conseguiriam tomar eram os puros de coração e corpo.

[hr]

Qualquer estudante de Medicina bem esclarecido e iluminado diria que estamos ainda muito longe de encontrar o segredo do elixir da vida eterna, mas que nem tudo estará perdido. Na verdade, talvez nem exista segredo nenhum. A receita para uma longa vida já há muito que a sabemos – ter uma alimentação saudável, praticar exercício regularmente e dormir o necessário são ingredientes relativamente fáceis de encontrar.

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Joana Moniz Dionísio é uma aluna do 5º ano de Medicina na FCM-NOVA. Apesar de ter nascido em Lisboa, viveu durante toda a sua vida em Alcobaça, até regressar novamente à capital para ingressar no ensino superior. Vem de uma zona conhecida pela sua doçaria conventual, mas as suas paixões e hobbies ignoram por completo a culinária, indo desde a Medicina, Literatura e História Universal até temas como a Cultura Oriental e Música Clássica. É colaboradora da revista FRONTAL desde Março de 2013 e foi no também nos idos de Março do ano seguinte que se tornou editora da secção Cultura. Desde Novembro de 2014 que assegura a função de Editora-Geral da FRONTAL. A autora opta pelo Antigo Acordo Ortográfico.

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