Lisboa – Sete colinas, sete roteiros V

Explorando São Roque: De Pessoa a Camões

“Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.”

Exerto “Ó sino da minha aldeia, de Fernando Pessoa”

(Continuação)

Continuo pela Rua São Pedro de Alcântara, com o Bairro Alto a acompanhar-me sempre pela direita até chegar ao Largo Trindade Coelho. Neste largo encontro a estátua de um pequeno indivíduo de boina com bilhetes de cobre na mão. Trata-se da estátua ao cauteleiro, que serve de homenagem a estes colectores de fundos para a Santa Casa da Misecórdia, sediada neste largo. Desço pela Rua Nova da Trindade, onde encontro, no 9A, um edifício vermelho no qual se lê a tinta branca “Teatro da Trindade”.

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À esquerda a antiga sede da Anglo-Portuguese Telephone, à direita fachada principal do Teatro da Trindade

Sigo pela esquerda, pela Rua da Trindade, encontro um edifício de quatro andares com uma decoração abertamente maçónica. É a Cervejaria da Trindade. Este local, de interiores ricamente adornados, foi construída nos espaços dos antigos refeitório e claustro do extinto Convento Trinitário.

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Cervejaria Trindade, no antigo Convento Trinitário

Sigo as linhas do eléctrico e desço pela Rua da Trindade até chegar ao Largo do Carmo. Nos quiosques que rodeiam o chafariz vejo e oiço um trio de tambores, trompete e contrabaixo interpreta “Blowin’ the blues away”.

Neste largo encontro um discreto edifício de três andares com portas verdes com dois agentes da GNR sempre vigilantes. Esta é o Comando Geral da GNR. Às 19h30 do 25 de Abril de 1974 foi daqui que Marcelo Caetano saiu num blindado rumo ao exílio no Brasil após a assinatura da sua abdicação.

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Comando Geral da GNR no Carmo, palco principal do 25 de Abril

Ao lado está o Museu Arqueológico do Carmo, no local ocupado pelas “Ruínas do Carmo” que correspondem à Principal Igreja Gótica da capital destruída no grande Terramoto. No interior é possível encontrar duas múmias peruanas (incas) e o túmulo Rei D. Fernando I.

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Ruínas do Carmo, um testemunho do grande terramoto de 1755

À direita das “Ruínas do Carmo” acedo a uma ponte muito alta que passa sobre a Rua do Carmo e me leva até o topo do Elevador de Santa Justa. Fotografo a paisagem desde a grades deste enquanto oiço um violinista a interpretar temas de JS Bach.

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Baixa Pombalina vista desde as grades do Elevador de Santa Justa

Sigo pela Travessa do Carmo e saio no Largo Rafael Bordalo Pinheiro, viro à minha esquerda pela Rua Serpa Pinto e daí viro à direita pela Travessa da Trindade até chegar, mais uma vez, à Rua Nova da Trindade.

Nesta rua olho à minha direita e encontro o “Espaço Chiado”. Este centro comercial foi construído no local do antigo Theatro Gymnasio. Este local ainda conserva na estrutura do edifício os restos de um torreão e parte da “muralha Fernandina”. No último andar ainda se realizam eventos de Fado noite no espaço “Cine Theatro Cymnasio”.

Desço a Rua Nova da Trindade até chegar ao conhecido e transitado Largo do Chiado. Este deve o seu nome ao poeta satírico do século XVI, António Ribeiro Chiado.

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Largo do Chiado

No centro do largo encontro uma estátua deste nas suas vestes de Frade ao lado de uma das saídas de metro Baixa-Chiado. Em frente a esta encontro a Brasileira, tão frequentado por Fernando Pessoa no início do século XX que até teve direito a uma estátua. Desço pela Rua Garrett, vejo à minha frente os Armazéns do Chiado e passo ao lado da Livraria Bertrand, fundada em 1732. Esta livraria teve direito ao Guinness por ser a mais antiga do mundo ainda em actividade.

Viro à direita na Rua São Ivens e passo ao lado do Grémio Literário. Esta instituição de acesso reservado e ainda em funcionamento e muito activa, foi desde a sua função um dos grandes locais de debates intelectuais. O sócio número 1 foi o escritor romântico Alexandre Herculano. No fim da rua encontro o Largo da Acedemia Nacional de Belas Artes, com os seus alunos alguns mais carregados do que outros com material de pintura. No extremo sul do largo, virado à esquerda, aprecio a vista sobre a Praça do Comércio e Câmara Municipal.

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Desde o Largo da Academia Nacional de Belas Artes é possível ver a Câmara Municipal de Lisboa, a Sé de Lisboa e alguns dos edifícios da Praça do Comércio

Viro à direita pelas linhas de eléctrico da Rua Vitor Cordon, viro à direita para a Rua Serpa Pinto, à minha esquerda o Hospital da Ordem Terceira, um dos mais antigos da cidade, e o Teatro Nacional de São Carlos, com a sua entrada para artistas, onde oiço um coro em pleno ensaio. Chego ao Largo de São Carlos, encontro de um lado a fachada principal do Teatro Nacional de São Carlos, do outro o edifício no qual nasceu Fernando Pessoa. Pessoa explicara ao seu amigo Gaspar Simões numa carta de 1931: “O sino da minha aldeia, meu querido Gaspar Simões, é o da Igreja dos Mártires, ali no Chiado. A aldeia em que nasci foi o Largo de São Carlos”

Do lado direito da Rua Vitor Cordon encontro o Museu Nacional de Arte Contemporânea (“Museu do Chiado”). De volta no Largo do Chiado entro na Rua Paiva de Andrade que passe como ponte ao lado do já referido teatro. Esta varanda verde desabitada enche durante as poucas actuações gratuitas ao ar livre realizada pela companhia do São Carlos.

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Rua Paiva de Andrade com vista para o Largo de São Carlos
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Foto tirado do mesmo local da foto anterior no dia 18 de Julho de 2011. Interpretação de exertos do diversas peças de Giuseppe Verdi

Subo pelas escadas da Travessa dos Teatros e chego à Rua António Maria Cardoso.

Nesta rua encontro no nº37, o Palácio da Quintela ou Palácio Carvalho Monteiro com uma placa na parede no português anterior ao acordo de 1911 na qual se lê “É prohibido affixar annuncios n’esta propriedade”. Do outro lado da rua, o está o Teatro Municipal São Luiz. Também é possível encontrar a Galeria de Arte Contemporânea 3+1  e a galeria Quadrocale. No número 15 B se encontra o bar “Art in Chiado”, como o nome indica um espaço muito dedicado à expressão artística.

Volto mais uma vez para o Largo do Chiado, encontro duas igrejas, uma em cada lado da rua, à minha esquerda Igreja da Nossa Senhora da Encarnação à minha direita, com escadas, a Igreja do Loreto ou “Igreja dos italianos”. Nesta altura recordo as igrejas geminadas na Praça Carlos Alberto no Porto.

Chego assim à movimentada Praça Luís de Camões, com a estátua do nosso estimado “poeta zarolho” no centro.

(Continua)

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