A prevalência em Portugal estima-se ser cerca de 153.000 pessoas com demência e 90.000 com Doença de Alzheimer – uma doença neurodegenerativa que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas. Os investigadores identificaram um dos pontos de partida da mesma – a estrutura fundamental da molécula proteica altera-se de forma a iniciar uma reação em cadeia que leva à destruição dos neurónios cerebrais.
A Alzheimer Europe determinou o número de cidadãos europeus com demência em 7,3 milhões. Em Portugal estima-se que existam cerca de 153.000 pessoas com demência e 90.000 com Doença de Alzheimer. Face ao envelhecimento da população nos estados-membros da União Europeia os especialistas preveem uma duplicação destes valores em 2040 na Europa Ocidental, podendo atingir o triplo na Europa de Leste. A Doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas. Conhecer as causas que a originam de uma forma estruturada e detalhada é imprescindível para haver uma terapêutica eficaz, que de momento, ainda não se encontra disponível. Por isso, é importante continuar a lutar contra este e qualquer outro tipo de demência.
Os investigadores identificaram um gatilho catalítico que induz o aparecimento da doença de Alzheimer – a estrutura fundamental da molécula proteica altera-se de forma a originar uma reação em cadeia que leva à morte dos neurónios cerebrais.
Pela primeira vez, os cientistas do Departamento de Química de Cambridge conseguiram mapear minuciosamente as vias que geram as diferentes formas de proteínas “aberrantes” que constituem a raiz das condições neurodegenerativas como é o caso do Alzheimer.
O estudo, publicado no dia 20 de maio na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, representa um passo marcante na pesquisa de 15 anos feita pelo Professor Christopher Dobson e os seus colegas em Cambridge, ao tentar compreender os mecanismos subjacentes do “misfolding” proteico e a sua ligação com a doença.
“Neste momento, ainda não existem terapias que incidam nas doenças tipo Alzheimer e demência, apenas há um tratamento limitado para os sintomas. Antes que possamos progredir e ter um impacto real, temos de descobrir o que acontece a nível molecular” comenta Dr. Tuomas Knowles, autor principal do estudo e colaborador de longa data com o Professor Dobson.
Durante a tradução das proteínas, estas emergem em cadeias longas que posteriormente têm de ser dobradas em estruturas compactas – processo folding – importante para as suas funções biológicas. Contudo, em determinadas condições, as proteínas podem sofrer um “misfolding” e fixar proteínas normais adjacentes, originando uma agregação proteica disfuncional – fibrilas amiloides – que por sua vez sofrem uma “nucleação”, formando placas senis. Estas placas, além de constituírem uma das características cerebrais nos doentes que sofrem de Alzheimer, também eram consideradas a causa da doença, antes da descoberta dos “oligómeros tóxicos” pela equipa do Dobson, há uma década atrás. O tamanho e a densidade da placa tornam-na tanto insolúvel, como incapaz de se mover. Ao passo que os oligómeros são suficientemente pequenos para se dispersarem no cérebro, lesando neurónios e interagindo de uma forma negativa com as restantes moléculas, causando assim a perda de memória e outros sintomas das doenças de Alzheimer ou demência. Deste modo, sabia-se que os oligómeros constituíam a causa, no entanto, desconhecia-se o mecanismo pelo qual se originavam, até hoje. A investigação, liderada pelo cientista Samuel Cohen, mostra que uma vez alcançado o nível crítico de “aglomerados” de proteínas disfuncionais, desencadeia-se uma reação em cadeia que multiplica exponencialmente o número deste conteúdo proteico, ativando novos pontos focais através da “nucleação”. É através deste segundo processo de nucleação que os oligómeros se formam, contendo apenas algumas moléculas peptídicas.
“São utilizados essencialmente métodos físicos e químicos para tratar o problema biomolecular, recorrendo à projeção das redes dos processos e mecanismos dominantes na doença de forma a “recriar o cenário do crime” (…) Agora que se descobriu o processo pelo qual os oligómeros são criados, já sabemos que mecanismos serão necessários de desligar” explica Dr. Knowles.
Esta investigação é mais um modelo do quão promissor e enigmático será o nosso futuro no que concerne à potencialidade da medicina e da ciência.