Mosquitos – a perda do apetite humano

Os mosquitos são importantes vetores de doenças como a malária, dengue ou febre amarela. Estes insetos procuram as suas vítimas através do seu odor, temperatura corporal e dióxido de carbono exalado. Sabe-se que espécies como o Anopheles gambiae ou o Aedes aegypti têm uma preferência marcada por humanos, o que torna o controlo das populações de mosquitos um fator essencial no controlo das doenças por eles transmitidas.
E se fosse possível tornar os humanos menos apetecíveis para os mosquitos?

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Cientistas trabalharam na manipulação genética de mosquitos da espécie Aedes aegypti, que é responsável pela transmissão da dengue e febre amarela, de modo a reduzir o seu interesse pelo odor humano. Através da alteração do modo como os mosquitos respondem aos odores os cientistas conseguiram bloquear a atração pelos humanos.

Leslie Vosshall, investigadora da Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque, liderou a equipa de cientistas que trabalham na manipulação genética de insetos de modo a compreender a razão pela qual estes animais são atraídos pelos humanos e como bloquear esta atração. Este trabalho foi possível graças à sequenciação completa do genoma do Aedes aegypti, conseguida em 2007, e às inúmeras contribuições da neurologista americana na área do olfato, nomeadamente a descoberta e caracterização da família de recetores olfativos dos insetos.

O primeiro passo da experiência foi inativar o gene Orco em embriões de mosquitos Aedes aegypti, com recurso a nucleases zinc-finger. Sabe-se que este gene, nas moscas, desempenha um papel importante na resposta aos odores e, com este trabalho, foi possível comprovar que o mesmo ocorre nos mosquitos. As estirpes de mosquitos mutantes apresentaram uma diminuição na atividade dos neurónios ligados ao olfato e nos testes comportamentais observou-se uma preferência por cobaias relativamente a humanos, mesmo na presença de dióxido de carbono. Sabe-se que espécies como o Aedes aegypti preferem humanos face a qualquer outro animal e pensa-se que o CO2 estimule a resposta dos mosquitos ao odor humano. Segundo Leslie Vosshall, alterando um único gene foi possível confundir o mosquito de tal modo que este não persegue humanos.

O segundo passo da experiência foi perceber se existiam alterações na resposta ao DEET por parte dos mosquitos mutantes. O DEET é a substância ativa da maior parte dos repelentes de insetos. Expuseram-se os mosquitos a 2 braços humanos. Num espalhou-se uma solução com 10% de DEET e noutro não foi adicionada qualquer substância. Observou-se que os mosquitos voavam de modo indiferente para ambos os braços, o que foi interpretado como uma incapacidade de detetarem o odor do DEET. Contudo, assim que pousavam no braço com DEET rapidamente se afastavam do mesmo. Estes resultados foram interpretados como a existência de dois mecanismos para a deteção do DEET pelos mosquitos: Deteção do odor ao repelente e contato com a pele impregnada.

Relativamente a perspetivas futuras, Vosshall e os seus colaboradores procuram compreender mais pormenorizadamente como a proteína Orco interage com os recetores olfativos dos mosquitos de modo a permitir-lhes detetar odores e responder a questões como:

1 –  O que existe nestes mosquitos que os torna tão especializados em humanos?
2 – Como funcionam os repelentes atuais?
3 – Como serão os repelentes do futuro?

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