Um grupo de investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro desenvolveu um estudo in vitro com recurso a soluções tampão e amostras de urina Humana, com o intuito de testar a potencialidade do uso de cocktails de fagos na inativação da Enterobacter cloacae. Este estudo foi publicado em Março de 2016 na revista Research Virus.
Será a terapia fágica a solução para o crescente aumento da resistência aos antibióticos?
A Enterobacter cloacae é uma bactéria Gram-negativa que pode estar envolvida em infeções do trato urinário e respiratório, infeções intra-abdominais, endocardites, arterite séptica, osteomielites e infeções da pele e tecidos moles. Para além disso, é uma bactéria envolvida nas insidiosas e tão temidas infeções nosocomiais, salientando-se as infeções do trato urinário associadas a cateteres urinários que correspondem a cerca de 40% destas infeções. Aliado a este dado epidemiológico, o uso desmesurado de antibióticos despoleta ainda o desenvolvimento de resistência múltipla a antibióticos, dificultando ainda mais a erradicação das bactérias.
É certo que a Era dos Antibióticos promoveu uma diminuição radical da incidência de infeções a nível mundial, no entanto a cura de uma doença pode ser muitas vezes fonte de outras tantas. A resistência aos antibióticos é um problema de saúde pública que tem vindo a impulsionar os estudiosos desta área, a direcionar a investigação para a descoberta de terapias alternativas.
A terapia fágica recorre ao poder dos fagos (ou também designados bacteriófagos), que são vírus capazes de infetar as bactérias e usarem o seu metabolismo para se replicarem até as inativar. Sabe-se que até surgirem os Antibióticos, a terapia fágica foi extensivamente usada nos países da Europa Oriental, voltando a ganhar novamente interesse por parte dos investigadores face ao aumento da resistência aos antibióticos.
Segundo a notícia publicada no site da Universidade de Aveiro, trata-se de uma terapia “inócua para os seres Humanos e muito mais barata de aplicar do que os antibacterianos” permitindo que as bactérias sejam “eliminadas de forma rápida, eficaz e sem efeitos secundários”. Acerca da possível resistência a esta terapia, a investigadora Adelaide Almeida, coordenadora deste estudo, adianta que “é fácil isolar novos fagos no ambiente” e que “as bactérias que desenvolvam essa resistência crescem mais lentamente e não são tão patogénicas como as não resistentes”.