Foi no passado dia 15 de Novembro que se realizaram mais umas jornadas «Médico Activo Paciente Activo», um evento promovido pelo Club Clínica das Conchas e que já conta com 4 edições.
Passado um dia entre fisiologia do treino cardio-respiratório, eventos para promoção do exerício físico na comunidade e criação de programas direccionados a patologias, exemplos de médicos atletas, dicas e mitos na prescrição de exercício físico, evidências da influência da actividade do médico na actividade do doente e a prática do próprio exercício físico, instalaram-se questões pertinentes: Como se prescreve exercício físico? Estarão os médicos e os futuros médicos bem informados sobre tal assunto? Sendo a prática de exercício físico uma pedra basilar na prevenção primária e secundária de grande percentagem de patologias, estarão os médicos sensibilizados para tal temática e terão a capacidade de a incutir nos seus doentes? Estarão os médicos capacitados para direccionar o exercício baseado na patologia?
Ora bem, a resposta é NÃO.
É fácil de admitir que nós, futuros médicos, somos capacitados e treinados a prescrever todo e mais algum tipo de cápsulas, comprimidos, pílulas, pós, pastilhas, drageias, xaropes, etc, mas há algum tipo de lacuna no ensinamento de como intervir nas bases terapêuticas, atrever-me-ia a dizer as mais importantes, que são a nutrição e o exercício físico. Quantas vezes não nos deparamos com a seguinte afirmação: «A adopção de estilos de vida saudáveis constitui um componente indispensável da terapêutica de todas as pessoas com ________.», e deixo o espaço em branco para a imaginação do leitor.
A verdade é que para além de esta ser uma resposta válida para qualquer pergunta que incida sobre a terapêutica de uma doença, esta é também uma resposta carente e altamente abrangente. Deixando a nutrição para o próximo episódio, a prescrição de exercício físico é algo que carece de concretização, exemplificando: caminhar 30 minutos 3x por semana é diferente de correr 50 minutos 5x semana ou nadar 2 km 2x semana ou jogar ténis 4x semana ou subir escadas todos os dia. É importante conhecer os benefícios e malefícios das várias actividades para cada doente, a dosagem e posologia ideais, assim como a maior ou menor facilidade de acesso a determinados recursos físicos e humanos.
A prescrição de exercício físico não deveria ser diferente da prescrição medicamentosa, afinal é uma terapêutica comprovadamente eficaz que na dose ideal tem muito poucos ou nenhuns riscos, útil numa gama variadíssima de patologias, desde a redução de mil e um factores de risco para a doença cardiovascular até doenças de saúde mental. Então o que nos falta saber para prescrever exerício físico? Formação.
Como posso saber mais?
Na ausência de tal instrumento, é a procura e o investimento as ferramentas de que nos devemos servir. O American College of Sports Medicine (ACSM) é a mais importante organização na área da medicina desportiva e ciência do exercício e tem vindo a publicar uma série de protocolos para ajudar na orientação deste tipo de prescrição. No site oficial da ACSM encontra-se informação de acesso público sobre exercício nas mulheres, nos jovens, nos idosos, nas doenças crónicas, na perda de peso, na prevenção de lesões, entre outros tópicos, e pode ser um ponto de partida para complementar o nosso conhecimento.
Um exemplo de uma position stand cujo título é: «Quantidade e Qualidade de Exercício para desenvolver e manter a aptidão cardiorrespiratória, músculo-esquelética e neuromotora em adultos aparentemente saudáveis: Orientação para a prescrição do exercício.» pode ser vista aqui.