Treinos VS Livros, segundo Arnaldo Abrantes

Arnaldo Abrantes, 26 anos, interno da especialidade de MGF e atleta de alta competição de atletismo, frequentou a FCM-UNL e conta  com duas participações nos Jogos Olímpicos (Pequim e Londres, nos 200m) entre muitas outras competições nacionais e internacionais. Aqui explica-nos como foi a sua vida nos últimos anos, entre sapatilhas e batas, corridas e livros, treinos e estetoscópios, pistas e aulas.

Arnaldo Abrantes

 

FRONTAL (F): Realizaste o «Harrison» em Novembro de 2011, o que estás a fazer neste momento?

ARNALDO ABRANTES (A.A.): Neste momento iniciei a minha formação complementar na especialidade de Medicina Geral e Familiar, na USF do Dafundo! Tem sido uma experiência muito boa, com excelentes profissionais e onde espero aprender muito.

F: Quando e porque é que começaste a praticar atletismo ?

A.A.: Comecei a praticar atletismo em 1998/99 quando tinha 11-12 anos.  Desde cedo que adoro correr, pois correr é algo que me tranquiliza e faz me sentir livre. Além disso adoro competir e já na primária fazia apostas com os meus colegas para ver quem corria mais rápido. Correr também é algo que está nos meus genes, pois o meu pai também foi velocista e participou nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seoul.

F: Desde quando integras o atletismo de alta competição a nivel nacional ? O que te motivou a atingires a alta competição ?

A.A.: Atingi a alta competição em 2003, depois de ter batido o Record Nacional de Juvenis e de ter sido Vice-Campeão de Europa de Juvenis. A motivação desde que faço atletismo sempre foi a mesma: “treinar para melhorar os meus recordes e ir a uns Jogos Olímpicos”! Foi com esse objectivo que eu me dediquei ao atletismo de alta competição há cerca de 10 anos.

F: Porquê Medicina ?

A.A.: Boa pergunta. Quando estava no 9-10º ano e por adorar matemática, pensava que iria ficar ligado a esta área no futuro. No entanto no 12º ano adorei a Biologia humana e foi a primeira vez que pensei em ser Médico e compreender melhor como funciona este fantástico corpo que temos! Neste momento não me vejo fazer outra coisa…adoro a Medicina e tudo o que isso simboliza.

Arnaldo F: Durante o teu curso participaste nos Jogos Olímpicos de Pequim e de Londres, campeonatos do Mundo e da Europa. Explica-nos, como conseguiste conciliar o estudo com os treinos?

A.A.: É verdade, apesar de nos JO de Londres já ser médico, e estar no Internato do Ano Comum! Praticar atletismo de alta competição e ao mesmo tempo querer fazer o curso de Medicina com notas iguais aos dos meus colegas, não foi nada fácil! Foi preciso muita organização, energia, gestão de prioridades e por vezes boa vontade de alguns professores. Não posso dizer que foi fácil, mas foi algo que sempre me deu muito prazer fazer, e hoje fico muito orgulhoso de ter conseguido!

 F: Por curiosidade, como te preparaste para a prova nacional de seriação e para o Campeonato do Mundo em Daegu praticamente em simultâneo ?

A.A.: Pois…nem eu sei bem! Foi dos piores anos na minha vida em termos de esforço! Os dias passavam a correr entre os treinos (por vezes bi-diários) e as elevadas horas de estudo necessárias. Tive que fazer um plano de estudo muito bem estruturado, mas apesar[pullquote align=”right”]«…sempre que ia treinar sentia que devia estudar, e quando ficava a estudar várias horas e via os meus colegas de treino a treinar mais horas, pensava que devia fazer o mesmo…»[/pullquote] disso sempre que ia treinar sentia que devia estudar, e quando ficava a estudar várias horas e via os meus colegas de treino a treinar mais horas, pensava que devia fazer o mesmo…não foi fácil gerir, pois foi a primeira vez que senti que as duas actividades que tanto adorava estavam a ser prejudicadas uma pela outra. Além disto tudo tive o Campeonato do Mundo em Daegu (foram as minhas férias) em Setembro, onde senti que podia ter feito muito melhor se estivesse mais descansado.

F: Em relação à Universidade Nova e à FCM, consideras que foste apoiado e que houve flexibilidade burocrática (para realizar exames fora das datas normais, por exemplo), ou encontraste alguns obstáculos?

A.A.: Essa é uma questão complicada de responder. Por um lado sempre tive a possibilidade (prevista pela Lei) de escolher um horário compatível com os meus treinos, e isso foi fundamental para conseguir conciliar a medicina com o desporto! Tive também alguma compreensão de certos professores, mas também durante todo o curso só precisei de alterar um exame. Por outro lado,  por parte da FCM nunca tive qualquer apoio ou reconhecimento, mesmo depois de ter sido 6º classificado no Campeonato do Mundo Universitário (a representar a FCM) e ter estado nos JO de Pequim enquanto estava no 3º ano.

F: O que recordas com mais saudade da FCM ?

A.A.:  Uii, tanta coisa! Apesar de andar sempre a correr de um lado para o outro (literalmente), a FCM foi durante 6 anos uma casa que nunca esquecerei. Penso que as saudades vão para todos os momentos que passei com os meus colegas entre as aulas. Foram muito bons tempos.

F: Qual é a tua prioridade no presente, o atletismo ou a medicina ?

A.A.: Sinceramente nunca gostei de me dedicar só a uma destas áreas. Fiz isso em 2008 (apostei só no atletismo, para treinar para Pequim) e correu mal! Eu preciso das duas áreas para ser feliz e ter sucesso! No entanto, sinto que neste momento o atletismo tem uma ligeira prioridade (talvez 60-40%), isto porque sei que é algo que vai durar menos tempo e se não é agora, não será no futuro que irei usufruir! Assim tenho que adiar de algumas coisas na Medicina que gostava de fazer, como é a Pós-graduação em Medicina Desportiva.
arnaldo abrantes

F: Se é o atletismo: Quais os teus objectivos na presente época?

A.A.: Este ano gostava de me aproximar do meu record pessoal aos 200m, e entrar na casa do 46 segundos aos 400m. Como objectivo máximo, seria participar no Campeonato do Mundo.

F: Algum conselho para atletas-estudantes e só-estudantes?

A.A.: Sim! Em primeiro lugar dar os parabéns! Penso ser muito importante qualquer pessoa ter um hobbie sério (seja ele desporto, música, etc) para além da Medicina. Em segundo lugar diria para lutarem pelos seus objectivos e não ouvirem os milhares de pessoas que dizem que têm que deixar o desporto por causa do estudos! Eu desde o 12º ano que ouço que devia desistir do atletismo…e se tivesse ouvido não tinha conquistado o que conquistei! Se eu consegui, qualquer pessoa consegue conciliar estas duas actividades, é uma questão de motivação, organização e gestão de prioridades!

 

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Aluna do 6º ano do MIM na FCM-UNL, oriunda de Loulé, apaixonada pela praia, pelo sol e pelo campo, ingressa na FCM em 2010 e desde 2012 que colabora com a secção de Saúde e Bem-Estar da FRONTAL. Como amante de desporto e praticante de atletismo, veste as cores da universidade NOVA e leva o nome desta mui nobre faculdade aos campeonatos universitários. Ao desporto alia o seu clarinete que toca desde os 8 anos e um gosto amador pela pintura, o que não pode acontecer é ter tempo livre. Tem especial curiosidade e apetência pelo estudo e compreensão do mundo que a rodeia, o que a leva a questionar e a querer descobrir as razões e as soluções para os problemas que surgem no seu caminho.

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