A propósito da divulgação do relatório Factos e Números da Diabetes, apresentado pelo Observatório Nacional da Diabetes (OND) no passado dia 19 de fevereiro, em Lisboa, a FRONTAL traz à reflexão nesta coluna a doença com a maior taxa de prevalência em Portugal, a diabetes mellitus, epidemia silenciosa do século XXI.
De acordo com o referido relatório, 12,7% da população portuguesa entre os 20 e os 79 anos sofria de diabetes em 2011; nesse ano, foram detetados 652 novos casos por cada 100.000 habitantes (contra 377 em 2000), continuando 44% dos doentes por diagnosticar.
Doença crónica em expansão alarmante a nível mundial, a diabetes constitui a principal causa de insuficiência renal, de amputações e de cegueira. Sendo esta uma doença da civilização, na maioria dos países desenvolvidos é já a quarta principal causa de morte e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, poderá conduzir a uma redução da esperança média de vida pela primeira vez em 200 anos. Uma conclusão, no mínimo assustadora, foi tirada pelo OND: os diabéticos perdem, em média, sete anos potenciais de vida. Divulgado pela primeira vez este ano no relatório Factos e Números da Diabetes, este indicador pela primeira vez divulgado soma-se a uma série de dados alarmantes.
[pullquote]De acordo com a Organização Mundial de Saúde, [a diabetes] poderá conduzir a uma redução da esperança média de vida pela primeira vez em 200 anos[/pullquote]Haja, apesar de tudo, um sinal de esperança. 2011 foi também o ano em que se registou a maior queda no número de amputações. “Há sinais de que o sistema de saúde tem conseguido uma evolução positiva de algumas complicações associadas à doença, nomeadamente no que se refere à redução das amputações (menos 11% em 2011) e à melhoria dos registos nos cuidados de saúde primários”, destaca o Observatório. “As amputações major, que comprometem a autonomia dos doentes, estão a cair mais do que as minor (como as de extremidades de dedos)”, acrescenta Luís Gardete Correia, coordenador do OND.
Sabe-se que existem assimetrias regionais que continuam a persistir no país. Dados preliminares do estudo Geografias da Diabetes: as desigualdades sociais e o risco de morte por diabetes, recentemente apresentado, indicavam que em duas décadas houve vários municípios (nomeadamente da Beira Interior Sul, Alentejo e Médio Tejo) que registaram aumentos da mortalidade por diabetes que chegou a atingir os 150%. Na altura, José Manuel Boavida, diretor do Programa Nacional para a Diabetes, adiantava que era por isto mesmo que se ia avançar com unidades coordenadoras funcionais.
[pullquote align=”right”]Dados preliminares (…) indicam que em duas décadas houve vários municípios que registaram aumentos da mortalidade por diabetes que chegou a atingir os 150% [/pullquote] O já citado relatório anual do OND (relativo a 2011) revela que os custos com a doença continuam a aumentar no nosso país, tendo representado nesse ano uma despesa de 1,8 mil milhões de euros. Por outro lado, enquanto numa década se venderam mais 60% de embalagens para insulinoterapia, o custo com essas mesmas embalagens subiu 297,5%. “Isto, na doença que tem a maior prevalência em Portugal, significa que é insustentável”, disse Paulo Macedo, ministro da Saúde.
Várias questões se colocam no atual panorama. Sacrificar-se-ão a curto prazo os indicadores de diabetes – cujas consequências serão imprevisivelmente preocupantes – em prol da sustentabilidade do orçamento atribuído ao ministério? Será uma solução o aumento de acesso às consultas para combater o aumento dos custos, baixando a despesa com os medicamentos?
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