“Soft Skills na prática clínica”, Dr. Diogo Medina | III Jornadas Médicas da NOVA

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“São as competências sociais que determinam se somos ou não bons médicos aos olhos das pessoas”

Não obstante sejam crescentemente valorizadas no mundo do trabalho – e, por extensão, na área da Saúde –, o cultivo das chamadas soft skills continua ausente nos currículos das escolas médicas. Nesta sessão dinamizada pelo Dr. Diogo Medina, e por ele alcunhada de “momento Kumbaya da tarde”, o enfoque recaiu sobre o papel destas competências em contraposição às tradicionalmente ensinadas a nível académico, numa abordagem permeada de dicas práticas que não se esgotam, de todo, na prática médica.

Com formação pós-graduada em Comunicação e Literacia em Saúde, o Dr. Medina começou por distinguir as soft skills (competências sociais) das hard skills (competências técnicas): enquanto as primeiras dizem respeito a atitudes e comportamentos facilitadores da relação interpessoal, as segundas associam-se às habilidades técnicas da pessoa, facilmente mensuráveis. Ambas as categorias são suscetíveis de serem aprendidas, avaliadas e melhoradas – em suma, ambas podem ser adquiridas e treinadas por quem se interesse em apostar nelas.

Pode parecer surpreendente, mas “são as competências sociais que determinam se somos ou não bons médicos aos olhos das pessoas; não é o Harrison que vai fazer de vocês bons médicos – vos garanto!”. Entre as soft skills incluem-se aptidões tão diversas como liderança, ética, networking, resolução de conflitos/problemas, motivação, autocontrolo e trabalho em equipa. Contudo, a que o orador considera ser mesmo a mais determinante na área da Saúde é a empatia, “a chave da boa relação com os colegas e com os doentes”, e que consiste num esforço interior e adaptativo do próprio em compreender o outro, colocando-se no lugar dessa pessoa. Um conceito bem distinto do de simpatia que, por definição, é um sentimento exteriorizável que se projeta em relação ao outro sob a forma de uma determinada atitude (como seja a boa-disposição).

Esta contextualização teórica precede algumas considerações de ordem prática. Por exemplo, o estabelecimento de contacto visual é importante, mas saber geri-lo é fundamental sob pena de constranger ao invés de aproximar: “entramos na «bolha Actimel» do doente se olharmos para ele fixamente durante 15 minutos”. O primeiro minuto, esse sim, deve ser integralmente dedicado à pessoa que nos procura, e a consulta principiar pela apresentação do médico: diz o Dr. Diogo Medina que “quando não damos o nosso nome estamos a sinalizar que aquela relação é temporária e sem importância”. Depois é aplicar a regra dos 3 R’s (receber, reconhecer e resumir) e rematar com o teach back, assegurando desta forma que o doente interiorizou a informação veiculada em diálogo com o profissional de saúde.

Outra noção curiosa é a de segurança psicológica no ambiente de trabalho, “a chave número um numa equipa para ela funcionar bem”. Por segurança psicológica entende-se a crença, transversal à equipa, de que é possível assumirem-se riscos interpessoais sem se transparecer uma imagem de incompetência ou se temer uma punição ou culpabilização subsequentes. Ora, há evidência científica que demonstra que “entres unidades de cuidados intensivos, as que reportam mais erros apresentam melhores resultados”. Sim, leste bem! De facto, este fenómeno pode ser explicado se se considerar que, nas unidades promotoras de um ambiente que enaltece a segurança psicológica, o relato e a análise dos erros possibilita o seu reconhecimento e a aprendizagem neles baseada. Pelo contrário, nos serviços em que há receio de penalização severa os erros são ocultados, perpetuando-se e prejudicando, assim, quer a qualidade da formação quer a prestação de cuidados de qualidade.

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