Níveis reduzidos de actividade física são factor de risco para declínio cognitivo na meia idade e velhice, afectando especialmente a inteligência fluida. Chegou o momento de encaramos seriamente a actividade física como medicina preventiva e não apenas como lazer, pois, além dos inúmeros benefícios inequivocamente ligados à saúde cardiovascular, também podem ser actualmente somados os neurológicos.
Uma função cognitiva debilitada pode ser considerada marcador de estado de saúde geral e, assim sendo, um preditor de mortalidade em qualquer idade. A prática de exercício físico, pelo menos duas vezes por semana, parece ter um benefício considerável nas funções cognitivas do adulto, oferecendo proteção contra o declínio cognitivo e a demência na velhice.
Foram efectuados vários estudos, destacando-se o da Universidade Minnesota e o da Academia da Finlândia (2016), onde se examinou a relação entre atividade física ao longo de um período de vários anos e funcionamento cognitivo na meia-idade. O objectivo dos estudos supracitados foi igualmente identificar quais os domínios cognitivos mais vulneráveis ao sedentarismo, tendo-se demonstrado existirem efeitos benéficos do exercício principalmente na inteligência fluida, desempenho visuo-espacial , tempo de reação e memória.
O estudo levado a cabo pela universidade de Minnesota revela ainda evidência considerável no que concerne a relação entre falta de exercício físico e declínio cognitivo na velhice e apesar de evidente, menos visível relação na meia-idade.
Embora existam várias teorias para a relação anteriormente exposta, o mecanismo subjacente ainda não está totalmente esclarecido. O exercício físico parece sustentar o fluxo sanguíneo cerebral, melhorar a capacidade aeróbia e o fornecimento de nutrientes, bem como servir de canal facilitador do metabolismo dos neurotransmissores. Os investigadores Cotman e Berchtold (2002) sugerem que a atividade física provoca alterações moleculares e celulares que suportam e mantém a plasticidade do cérebro.
Já é do conhecimento e consenso da comunidade científica que o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) é libertado durante o exercício aeróbio estimulando a neurogénese. Contudo nos últimos anos têm sido feitas descobertas relativamente à existência de uma hormona do exercício, uma mioquina chamada “irisin” que também está ligada à melhoria da saúde e função cognitiva, induzida pela expressão do gene FNDC5 nas fibras musculares. Este gene pela expressão da proteína termogenina presente na membrana interna da mitocôndria dos adipócitos permite a oxidação dos ácidos gordos convertendo gordura branca em gordura castanha
A “Irisin” foi descoberta em 2012, por investigadores da Universidade de Harvard, através de um estudo que mostrou que ratos e pessoas produzem a referida hormona durante o exercício. Investigações subsequentes mostraram que, em ratos, tem a capacidade de regulação dos níveis de glicémia e consequente perda de peso, especulando-se ainda se um fármaco baseado nesta hormona poderá ser utilizada como um tratamento para a obesidade no futuro.
Por outro lado, o estudo levado a cabo pela Academia da Finlândia (2016) mostra que o exercício aeróbio, como correr ou nadar, tem efeitos positivos sobre a estrutura e função do cérebro pela produção de novos neurónios (neurogénese) no hipocampo, uma estrutura cerebral importante na aprendizagem e no domínio temporal e espacial. Ainda não é claro se o treino intervalado de alta intensidade e o exercício de resistência anaeróbia têm efeitos análogos sobre a neurogénese na idade adulta.
Em suma, existe evidência do benefício do exercício físico na saúde do seu cérebro e pesquisas revelaram também que nunca é tarde para começar. A descoberta da hormona “Irisin” pode contribuir para a investigação de inovadoras e eficazes metas ou estratégias terapêuticas relativamente ao tratamento de doenças metabólicas. Contudo, ainda são poucos os dados existentes em relação a esta hormona e ao assunto exposto, de modo que ainda existe um longo caminho a percorrer pelos investigadores da área das neurociências e do metabolismo.