Potenciação Cerebral: Ensina o teu cérebro a ir mais longe

Se te orgulhas por não te conformares com o mundo que te rodeia, porque te contentas com o cérebro que tens?

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Comandante do teu cérebro

Conhecem-se atualmente diversas substâncias ativas (como a cafeína) que têm a capacidade de incrementar a atividade cerebral através do aumento do tempo de vigília e de atenção. Esta metilxantina tem importantes efeitos a nível orgânico, alguns destes ainda não comprovados cientificamente. Para aqueles que pensavam que a cafeína tirava muitas horas de sono aos seus consumidores, um estudo apresentado na revista Applied Physiology, Nutrition and Metabolism pela Faculdade de Motricidade Humana revela que “a ingestão de uma dose moderada de cafeína não altera o dispêndio energético de homens fisicamente ativos, mas diminui o seu tempo de sono” e que a ingestão de 5 cafés por um consumidor não habitual apenas provoca a diminuição do período de sono em 45 minutos. Um benefício desta xantina foi recentemente descoberto no Centro de Neurociências e Biologia Celular, nas Faculdades de Farmácia e de Medicina da Universidade de Coimbra: a toma diária de 5 cafés poderá ser benéfica para o tratamento da Doença de Machado-Joseph.

Ainda no âmbito das drogas estimulantes cerebrais, a cocaína e as anfetaminas (das quais se destaca o ecstasy ou MDMA) são há muito conhecidas pelos seus extraordinários efeitos moduladores da atividade cerebral através do aumento da concentração de monoaminas na fenda sináptica, potenciando a transmissão neuronal. O seu abuso é, no entanto, um grande fator de risco para diversas doenças do sistema nervoso central, para além de potenciar fenómenos de dependência (Hale, C.; Pharmacogenetic Treatments for Drug Addiction), por diminuição da densidade de células dopaminérgicas e serotoninérgicas. Pensa-se ainda que o MDMA seja responsável pela perda de memória de muitos dos seus utilizadores e pelo comprometimento de áreas cerebrais como o giro cingulado e córtex pré-frontal, de acordo com a Doutora Nora Volkow, diretora do National Institute on Drug Abuse, EUA.

BRAIN-HACK

Um outro estimulante frequentemente utilizado por estudantes para melhorar o seu desempenho escolar, também designado de “pílula da inteligência”, é o metilfenidato (mais conhecido pela sua denominação comercial, Ritalina®), utilizado frequentemente na terapêutica da perturbação de défice de atenção e hiperatividade. Um estudo efetuado em primatas e publicado em novembro de 2012 pelo Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais dos EUA apresenta resultados que poderão agitar a “Geração Ritalina”: as observações não comprovaram que o metilfenidato potenciasse as funções cognitivas em primatas saudáveis. A Doutora Silmara Batistela afirma ainda: “A única diferença que observámos no estudo foi que os que tomaram uma dose maior relataram uma sensação subjetiva de bem-estar maior em comparação com os demais”.

A psilocibina é um outro tipo de princípio ativo, um alucinogéneo extraído de cogumelos que é utilizado como ansiolítico em doentes com carcinoma em fase terminal e cuja eficácia no tratamento da enxaqueca, de acordo com investigadores do Hospital de Mclean de Belmont, Massachusetts, está comprovada. Contudo, o seu uso por indivíduos saudáveis que queiram potenciar as suas capacidades cognitivas poderá relacionar-se a longo prazo com o surgimento da esquizofrenia.

Relativamente à droga depressora do sistema nervoso central (SNC) mais vulgar, o álcool, o conhecimento do seu efeito sedativo e eufórico é comum, mas sabe-se atualmente que altera, a longo prazo, a fluência verbal, o controle inibitório, a memória operacional e a autonomia de funções executivas. Ao deprimir os níveis de serotonina no SNC, poderá explicar os atos violentos ou depressões major demonstradas pelos seus consumidores.

Posto isto, e relembrando um dos ensinamentos de Walter Gropius – “o cérebro humano é como um chapéu-de-chuva: funciona melhor quando aberto”, quais as formas adequadas de aumentar o potencial cerebral?

De acordo com o Dr. Daniel Ámen – psiquiatra distinguido pela American Psychiatric Association e autor do famoso livro Change Your Brain, Change Your Life – existem três áreas corticais fulcrais para a potenciação cerebral: o lobo frontal, responsável pela espontaneidade, controlo de ações e construção da personalidade; o lobo límbico, envolvido na coordenação emocional, processamento da dor e líbido – dentro do qual se destaca o giro cingulado, este último responsável pela deteção de erro, transição de ideias, reação emocional à dor e regulação do comportamento agressivo.

Em suma: teremos de retorno exatamente o mesmo que investirmos no nosso cérebro.

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Vencedores “Brain-Art Competition” 2011 e 2012

Alimenta o teu cérebro

Além do necessário aporte hídrico, os melhores alimentos para o cérebro são os ricos em ómegas 3 e 6 (abacate, nozes, salmão) e em ácido fólico (brócolos e espinafres). O mais rico e eficaz de todos, de acordo com James Joseph do Departamento de Agricultura e Serviço Agrícola dos EUA, é o mirtilo: por possuir flavonóides que agem no cérebro como antioxidantes, protege as células da atuação dos radicais livres, promove a imunidade e pensa-se ainda que previna a longo prazo o desenvolvimento de carcinoma.

Exercita o cérebro. Isto poderá ser conseguido com exercício físico, que aumenta o fluxo sanguíneo cerebral e a secreção de endorfina e serotonina. Como exemplo temos o ténis de mesa – o desporto mais completo e eficaz, por acionar simultaneamente o controlo visual, motor e cognitivo num curto espaço de tempo. Concordantemente com estes dados, um estudo em roedores efetuado pelo Dr. Fred Gage (2010) demonstrou que os animais que corriam mais possuíam melhores resultados nos testes de QI.

Além do exercício físico, os desafios mentais e a aprendizagem constante são essenciais à promoção do aumento do número de conexões neuronais. “Quanto mais usarmos o nosso cérebro, mais forte, mais resiliente, mais adaptado ele se torna”, refere ainda Leslie Sherlin, neurocientista.

Scan Cerebral de Daniel Amen
Scan Cerebral de Daniel Amen

Protege hoje o cérebro, precavendo o amanhã

Segundo Daniel Amen, através da análise cerebral com a técnica SPECT (Single Photon Emission Computed Tomography Scan) é possível criar uma imagem 3D em que as áreas de baixo fluxo sanguíneo são representadas como depressões na superfície cerebral, dando ao cérebro um aspeto “esburacado”. Esta técnica é usada para o diagnóstico de várias patologias associadas a regiões corticais de alta atividade cerebral (ansiedade, distúrbio obsessivo compulsivo, autismo) ou de baixa atividade cerebral (transtorno de défice de atenção, abuso de álcool ou drogas).

relação entre a obesidade e a lesão neuronal era desconhecida até 2006, ano em que foi publicado um estudo no Journal of Neuroscience afirmando que uma dieta rica em gorduras saturadas promove a lesão do hipotálamo através da ativação do receptor TLR4, existente ao nível do SNC, promovendo a inflamação hipotalâmica e a morte neuronal.

Também a alteração do horário de sono (menos de 6 horas ou mais de 8 horas diárias) pode aumentar a velocidade de declínio cognitivo e diminuir a capacidade de raciocínio, envelhecendo o cérebro até 7 anos, de acordo com um estudo da University of London (2011). Sabendo que o principal substrato para o cérebro é a glicose, talvez este envelhecimento cerebral possa estar relacionado com uma alteração da tolerância à glicose durante o período noturno, associado à modificação das horas de sono (Knutson, K.; The Metabolic Consequences of Sleep Deprivation).

Em termos de tratamento, o Dr. Daniel Amen refere que o primeiro passo, além de eliminar os fatores nocivos anteriormente referidos (como anular o pessimismo) e optar por atividades que promovem o aumento do fluxo sanguíneo cerebral (como meditar e promover momentos de intimidade), é arranjar um mecanismo eficaz de coping, pois o stress também mata células cerebrais. De acordo com uma publicação de Robert Sapolsky na revista Science, existe uma íntima relação entre a atrofia do hipocampo, área de memória ou conhecimento, e a sujeição do indivíduo a stress de longa duração, como se verificou através de scans cerebrais aos veteranos da guerra no Vietnam com stress pós-traumático.

Através do crescente conhecimento e respeito pelo órgão mais complexo do ser humano, torna-se possível acreditar que temos em nós mesmos as ferramentas para melhorar a vivência diária de cada um e conquistar um equilíbrio entre a saúde mental e física. “O cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, incluisivé o da felicidade” (Charles Chaplin).

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Ana Rute Marques é aluna do 5º ano da FCM-NOVA. Nascida em Lisboa, cresce em Corroios. Ingressa no ensino superior em 2009, na Faculdade de Ciências Médicas, no mestrado integrado de Medicina. É colaboradora da Revista FRONTAL desde o início de 2013. Os seus interesses pessoais, além da Ciência (em especial das Neurociências), abrangem o Mundo Animal, a 7ª arte, as técnicas de Defesa Pessoal e os Clássicos da Literatura Portuguesa.

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