Genes para Salvar Corações Partidos

Nos últimos anos tem existido um progresso cada vez maior nos métodos convencionais para tratar a insuficiência cardíaca, uma doença que afecta cerca de 23 milhões de pessoas no mundo, contudo têm-se vindo a procurar novas alternativas terapêuticas. Uma das soluções mais promissoras é a terapia genética.

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Após 20 anos de investigação pelo Imperial College London, iniciou-se esta semana o primeiro ensaio clínico no Reino Unido para o tratamento de insuficiência cardíaca com base na terapia genética.

Apesar da terapia farmacológica convencional ser bastante eficaz no alívio dos sintomas, a única cura para a doença consiste em dispositivos de assistência ventricular e, em casos mais extremos, no transplante cardíaco. Uma vez estabelecido o quadro de insuficiência cardíaca, esta entra num ciclo vicioso, em que o coração vai ficando progressivamente mais fraco e cada vez com maior dificuldade em responder ao aumento da carga. O objetivo desta nova abordagem terapêutica é lutar contra a progressão da doença, bloqueando e revertendo algumas das alterações moleculares nos miócitos que ocorrem quando o coração começa a falhar.

A insuficiência cardíaca pode ter várias etiologias, como a doença coronária, hipertensão arterial, diabetes, infeção ou inflamação. Todas estas resultam, de uma forma geral, numa desregulação ao nível dos ciclos de cálcio nos miócitos. O esclarecimento da base molecular destas alterações e o aumento significativo da eficácia da tecnologia para a transferência de genes permitiram à insuficiência cardíaca tornar-se um alvo promissor da terapia genética.

Neste ensaio clínico realizado no Reino Unido, que integra um projecto de fase II que abrange cerca de 200 doentes, o tratamento consiste na introdução de um gene de reparação nos miócitos que aumenta a expressão de SERCA2a, uma proteína reguladora da disponibilidade de cálcio no miócito. Uma diminuição significativa da expressão desta proteína foi identificada na insuficiência cardíaca, o que a tornou num alvo terapêutico promissor. A técnica, testada com sucesso em modelos animais, utiliza um vírus inócuo semelhante ao da gripe que é injectado diretamente no coração por via intracoronária.

Esta é uma área que está ainda a dar os seus primeiros passos, existindo várias outras vias fisiopatológicas com significado e que poderão constituir alvos terapêuticos alternativos. Contudo, poderá ser uma nova esperança para os vários doentes em todo o mundo. A terapia genética foi algo que, durante décadas, apenas prometeu, mas raramente cumpriu. Neste momento, o paradigma está a mudar com resultados promissores, por exemplo, na cura de cegueira, doenças imunológicas e certos cancros.

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