Estoril Conferences 2023 (Dia 1 – 2ª Parte)

We need more science in politics and less politics in science. (Richard Roberts)

The future is already here – it’s just not evenly distributed. (Karim Lakhani)

The next big scandal will be with a big corporation, one among so many who make all their money extracting and mining our personal information. (Gerald Ryle)

Africa is the biggest loser every year. (Cristina Duarte) 

Africa’s problem is energy access, not transition. (Cristina Duarte) 

Generative AI is the co-pilot of our future. (Karim Lakhani)

It’s essential to negotiate while respecting diversity. We must be able to give up some things, even when we have upper hand in military strength. (Václav Klaus).

The media have been losing the trust of the public, sometimes with good reason. We must change that. (Gerald Ryle)

War is an environment where money can easily circulate under the radar. Today’s heroes might not be tomorrow’s. (Gerald Ryle) 

I can run very fast, but I can never see where I am going. (Carolina Duarte)

Big wave surfers know fear. (João Macedo)

            A política internacional, no tempo passado e presente, não ficou fora do palco do primeiro dia de conferências. Houve reflexão sobre o passado e chamadas de atenção para o nosso papel no presente e no futuro, enquanto subiam ao palco Sergiy Kyslytsya, representante de Ucrância na ONU, Danilo Türk, ex-Presidente da Eslovénia e Václav Klaus, ex-Presidente da República Checa. 

            Sergiy Kyslytsya começa por refletir um pouco sobre a natureza destas conferências, começando com um apontamento: o que significa Estoril? Se procurarmos a origem da palavra, Estoril pode referir-se a um tipo de planta ou a uma águia. Qual destes é que queremos ser neste mundo moderno? Como óbvio complemento a esta pergunta retórica, critica o Ocidente por estar a deixar Putin ganhar espaço, ao ter diminuído, na sua perspetiva, o apoio à Ucrânia nos últimos meses. A guerra não é um jogo de computador nem uma realidade simulada. 

            Danilo Turk preside atualmente ao Club de Madrid, no qual antigos chefes de Estado e de Governo colaboram para a resolução de conflitos e problemáticas atuais e para a promoção da democracia. Turk insiste ainda no poder que a negociação tem em resolver conflitos internacionais, até quando se trata de discutir com Putin. 

            Por fim, Václav Klaus fala num momento mais retrospetivo. Começou da seguinte forma: “O melhor legado que podemos deixar aos nossos netos é uma democracia que funcione.”. Como chefe de estado que presidiu à separação pacífica da Checoslováquia em República Checa e Eslováquia, o seu insight é importante num mundo em que muitos países se encontram em importantes conflitos de fronteiras (como a Rússia, a China e Espanha). Refere que na sua altura entendeu que a Eslováquia era um país muito diferente, que estava sob a sua alçada apenas porque a República Checa era o maior país da união. A sua solução para este conflito é a mesma que deixa para o futuro: O essencial é negociar e respeitar a diferença. Tem que se saber ceder, mesmo quando temos o poder de impor a nossa força. Assim, evitam-se mortes na guerra. 

            Já em plena tarde, Gerald Ryle apresentou a sua perspetiva do que pode vir a ser o jornalismo do futuro. Os media têm perdido a confiança do público, por vezes com razão. Por isso, devemos lutar em ganhá-la de volta. O jornalista irlandês-australiano foi quem coordenou a famosa investigação dos Panama Papers e, mais tarde, dos Pandora Papers. A história por trás destas investigações é quase tão interessante como o escândalo das off-shore que expuseram ao mundo. Tudo começou quando Ryle se começou a dedicar a investigar e expor a quantidade de dinheiro que a classe mais rica dos países Ocidentais esconde em contas off-shore. As suas investigações eram importantes na área, mas tinham ainda pouco alcance. Mesmo assim, conseguiu chamar a atenção de alguns informadores, entre eles John Doe. O nome é fictício, mas durante um longo período partilhou mais de 11 milhões de documentos que revelaram verdades chocantes, escondidas numa firma de advogados no Panamá, a Mossack-Fonseca. As pessoas que podiam combater a fuga de dinheiro para as off-shores eram quem mais as usava, trazendo à luz um lado verdadeiramente obscuro do Ocidente. Se não fosse a evidência, toda esta investigação poderia ter sido apelidada de teoria da conspiração. Alguns dos principais envolvidos? David Cameron, bem como ex-presidentes e primeiros-ministros de Itália, Austrália, Argentina, Islândia, Ucrânia, Geórgia e outras centenas de ex-chefes de Estado, membros do governo, celebridades (como Jackie Chan e Simon Cowell), atletas (como Lionel Messi e Tiger Woods) e criminosos. 

            No entanto, a sua intervenção nas conferências não se focou apenas no passado, tendo falado também do futuro do jornalismo. O sucesso dos Panama Papers adveio de uma colaboração entre órgãos de comunicação em 76 países diferentes, que conseguiram trabalhar em conjunto, sem fugas de informação e sem publicações antecipadas. Num mundo em que o modelo de negócio de subscrição e anúncios se está a perder, esta cooperação é cada vez mais necessária. Ryle refere como o International Consortium of Investigative Journalists se foca quase unicamente em encontrar histórias e informação e vendê-las a media partners em todo o mundo, algo bem diferente do modelo que imaginamos habitualmente. No entanto, é a partilha de informação e a coordenação entre parceiros que vai permitir expor os grandes escândalos do presente e do futuro. 

            Terminou avançando já informação de que não tem andado de braços cruzados e que “O próximo escândalo será com uma grande empresa, uma entre tantas que ganham todo o seu dinheiro com a extração dos nossos dados privados.”. Relembrou também a todos os presentes que “A guerra é um terreno fértil para o dinheiro circular de forma obscura. Os heróis de hoje, podem não o ser amanhã.”

Com o progresso tecnológico, nós, seres humanos, tornamo-nos verdadeiros mestres do “delegar”. Delegamos a resposta às nossas necessidades a todo o tipo de tecnologias: desde máquinas agrárias a computadores, passando por robots de cozinha e XX. Vivemos num mundo obsessivamente tecnológico e excessivamente lógico, algo que com o passar dos séculos desumanizou quase todas as áreas da nossa vida. Esta conferência procurou cultivar um reencontro do nosso lado mais humano com os grandes desafios do presente e do futuro. 





DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.