Estoril Conferences 2023 (Dia 1 – 1ª Parte)

            Frases preferidas do 1º dia de conferências: 

We need more science in politics and less politics in science. (Richard Roberts)

The future is already here – it’s just not evenly distributed. (Karim Lakhani)

The next big scandal will be with a big corporation, one among so many who make all their money extracting and mining our personal information. (Gerald Ryle)

Africa is the biggest loser every year. (Cristina Duarte) 

Africa’s problem is energy access, not transition. (Cristina Duarte) 

Generative AI is the co-pilot of our future. (Karim Lakhani)

It’s essential to negotiate while respecting diversity. We must be able to give up some things, even when we have upper hand in military strength. (Václav Klaus).

The media have been losing the trust of the public, sometimes with good reason. We must change that. (Gerald Ryle)

War is an environment where money can easily circulate under the radar. Today’s heroes might not be tomorrow’s. (Gerald Ryle) 

I can run very fast, but I can never see where I am going. (Carolina Duarte)

Big wave surfers know fear. (João Macedo)

            Re-Humanize our world. Este foi o lema com que a Estoril Conferences 2023 Edition se apresentou aos seus participantes. Esta re-humanização não é apenas um motto para um mundo empresarial, mas para a sociedade como um todo, tal como sugere o subtítulo: Planet, People, Health, Peace and Policy

            À chegada ao Campus de Carcavelos da Nova School of Business and Economics, o sol ainda está tímido e as ruas pouco mexidas. Mas a partir da área de check-in, este início da manhã é de rebuliço. Lentamente, os participantes vão entrando, entre encontros e encontrões, alguns com ar perdido e outros com ar de quem procura. 

            A sessão da abertura conta com várias presenças ilustres, cuja participação é precedida por um vídeo da autoria da organização da própria conferência, que marca o ritmo para o primeiro dia: Não devemos perder o rumo e ter tecnologia apenas pelo bem da tecnologia, mas ter sempre os seres humanos como objeto final. Segue-se a abertura propriamente dita, pelas palavras da jornalista Anelise Borges, host da edição deste ano. Realça que esta conferência vai trazer histórias de sucesso, triunfo, luta e tentativa. Espera que estas nos incentivem a perceber como a resiliência e a força crescem em nós quando confrontados com a crise. Esta é uma capacidade que todos temos latente e que podemos direcionar para o melhor. Não só podemos, como devemos, no dia de hoje, em que vivemos num sistema que funciona apenas para uma minoria.  

            A restante sessão de abertura contou com a contribuição de várias figuras ilustres: os presidente e vice-presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreias e Miguel Pinto Luz; os diretores da Nova Medical School e Nova SBE, Prof.a Helena Canhão e Prof. Pedro Oliveira e, por último, o Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Da abertura, prevalece a ideia de que a responsabilidade é uma das soluções para os problemas de hoje e amanhã: a ação diferenciadora começa na responsabilização. Por essa razão mesmo, se estava tanta gente a reunir para estas conferências. 

            O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa relembra as mudanças que têm assolado o mundo nas últimas décadas. Não vivemos no mesmo mundo que vivíamos nos anos 90 e nunca vamos voltar a viver, por muito que o velho mundo tente resistir a esta mudança. Os nossos desafios têm de ser enfrentados por pessoas novas, novos heróis e novas mentes. Deixou ainda no ar a questão, formulada em inglês, What do we need more, dreamers or decision-makers? 

            Passados os discursos introdutórios, as duas primeiras palestras foram de chamada para a ação, sem dar tempo para respirar. Richard Roberts, galardoada com o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia em 1993, chamou à atenção para as potencialidades dos organismos geneticamente modificados (GMOs) e não deixou dúvidas a qual era a barreira principal ao seu uso, nas suas palavras: “We need more science in politics and less politics in science”. Os GMOs são um bem necessário com má publicidade. O mundo atual ainda tem medo do termo “modificação genética”, por não entender que esta é feita há milhares de anos, a diferença é que atualmente se tem muito maior controlo sobre o resultado. 

            A agricultura tradicional cruza espécies de plantas e animais há milhares de anos para obter as linhagens com as características desejadas, mesmo antes de se saber sobre as leis da hereditariedade e as moléculas de DNA. Atualmente tem-se um controlo muito maior no resultado, selecionando as características desejáveis, algo que não difere, por exemplo, da forma como produzimos insulina para os diabéticos. Não é nada de novo. Assim, a histeria à volta dos GMOs tem sido principalmente motivada por agentes políticos e económicos. Na Europa, a facilidade de cultivo dos GMOs não é uma necessidade, então estes foram banidos sob o pretexto de precaução, para afastar os interesses de corporações americanas na agricultura europeia. No entanto, isto só é possível porque na Europa há muita escolha alimentar. “Food choice is a luxury, if you don’t want to eat GMOs, don’t eat them. But let those who need eat them.” É preciso os media e a sociedade civil apoiarem o seu uso, principalmente nos países em desenvolvimento, nos quais 800 milhões de pessoas vão todas as noites dormir com fome e tantas sofrem com défices nutricionais. Temos a solução e é segura, porque não a usamos?  

            Logo de seguida, Cristina Duarte, Vice-Secretária Geral e Conselheira para África do Secretário-Geral da ONU, falou com moderação pela parte de Cátia Batista, professora Nova SBE. “África é o maior perdedor todos os anos”. Há um profundo desencontro entre a capacidade de gerar valor e a capacidade de o reter e investir em desenvolvimento. E a peça que falta são as instituições. A economia africana ainda não se serve a si própria. Este é, aliás, um facto que marca profundamente a sua história, desde a era colonial. Em grande parte, este continente vive ainda na ausência do estado, consequência da constante instabilidade que se vive, grande parte dela ainda uma herança da Conferência de Berlim. 

            O contrato social está absolutamente quebrado em África. Num período em que a produtividade aumentou 240%, os salários aumentaram apenas 0,5%. Por ano, o continente africano perde 500 mil milhões de dólares, dinheiro que podia reverter, nem que apenas em parte, para a sua população. Cristina Duarte refere também como o princípio da representação em democracia é cada vez mais subjugado pelo princípio da substituição, algo sentido em todo o mundo, não apenas em África. Ensinam-nos em que em democracia que os políticos eleitos têm poder pela representação da população em geral, mas cada vez mais os políticos não representam a vontade dos eleitores, substituem-na pela sua. Isto é algo que muitos tomamos como garantido, mas não tem de ser assim. Não podemos aceitar um sistema partidário em que só tem influência quem participa direta ou indiretamente e chamar-lhe democracia. 

            Pela sua herança histórica única, o continente africano enfrenta desafios diferentes do resto do mundo, diferentes das restantes palestras que ouvimos. Por exemplo, a narrativa da transição energética global não se devia aplicar a África: o problema é ainda o acesso e não a transição. Por essa razão, tem o direito de pôr em cima da mesa ainda todas as opções energéticas. Esta posição contrasta com a apresentada por Miguel Stilwell D’Andrade mais tarde no dia, que defendeu que, da perspetiva do mundo Ocidental, as energias renováveis são já as mais baratas, as melhores para o futuro do clima e as que permitem uma maior independência energética da Europa. Nenhum destes oradores está mais certo que o outro, simplesmente abordam problemas diferentes, de mundos diferentes.  

            Outro momento para relembrar foi a palestra dada por Karim Lakhani, professor na Universidade de Harvard, que veio falar sobre o impacto da Inteligência Artificial nas organizações e no futuro da sociedade em geral. Antes de mais, esclareceu que esta não é uma questão para o futuro, a IA é uma ferramenta do presente. “The future is already here – it’s just not evenly distributed”. A IA já é usada em várias dimensões do nosso dia-a-dia: no funcionamento dos smartphones e no marketing online, por exemplo. Num exemplo ainda mais ilustrativo, Lakhani refere como o sistema de comunicação usado por 1,2 mil milhões de utilizadores tem apenas 15 mil funcionários, que coordenam apenas o funcionamento do algoritmo de IA que faz a maior parte do “trabalho”. E este sistema é exatamente a grande aplicação que a chamada Weak AI terá no futuro: automatizar funções repetitivas e libertar os seres humanos para usarem todo o seu potencial e capacidade criativa. 

            Analisando o percurso de empresas no mundo digital, percebemos como a sua evolução é muito desigual à das empresas tradicionais. As empresas tradicionais têm um pico de crescimento ao início que acaba por estabilizar, enquanto as digitais crescem exponencialmente. A IA só vai tornar ainda mais drástica esta diferença inerente a estes dois modelos de negócio. Acompanhando este processo, notamos como vivemos num momento em que a distribuição dos serviços passou a ser gratuita ou muito barata, através da internet: a distribuição de informação através do Google ou de música através do Spotify e iTunes. 

            Em conversa a sós com o orador, perguntámos como via o papel da IA na saúde do futuro. A IA vai entrar em todos os elementos que constituem a saúde hoje em dia, desde a investigação, diagnóstico e até ao apoio com o lado mais humano e emocional da medicina. Para perceber o futuro, devemos olhar para a saúde hoje e projetar para o futuro uma revolução como aquela a Amazon criou no seu mercado. Quem não quer ficar para trás, tem de aprender o uso destas novas tecnologias. “A inteligência artificial é o co-piloto do nosso futuro”.

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