Virar do avesso com Nima Moradi – Histórias de voluntários no sector dos refugiados e o seu caminho pelo bem-estar mental

Nima Moradi realizou voluntariado no campo de pessoas refugiadas em Samos, enquanto esperava pelo reconhecimento do seu pedido de asilo. Atualmente, na reconstrução da sua vida no Reino Unido, aspira ter uma carreira como enfermeiro e é membro da direção da ONG ForRefugees.

Entrevista conduzida em Abril de 2022. 

 

Carolina Veloso (CV) – Em primeiro lugar, gostaria de lhe pedir que descrevesse as atividades que desenvolveu na área dos refugiados e as suas motivações?

Nima Moradi (NM) – Iniciei o voluntariado em 2018, quando regressei a Samos, na Grécia. Após os dois primeiros dias, soube que queria ser voluntário. Dirigi-me a uma ONG e perguntei-lhes se me podia inscrever, ao que me responderam que o meu inglês não era bom o suficiente e que teria de o melhorar se quisesse ser voluntário. Isso motivou-me realmente a aprender inglês. Após 20 dias, aceitaram-me.

A razão pela qual quis começar um voluntariado foi principalmente a necessidade de preencher o meu dia com algo significativo. Em primeiro lugar, não posso negar que não estava ciente de que isso traria alguns benefícios. Em segundo lugar, como ativista no Irão, sempre tentei apoiar as pessoas. Ao ver como voluntários de todo o mundo vinham para a Grécia limpar casas de banho, ensinar-nos inglês, entre outras coisas, apercebi-me de que, enquanto pessoas refugiadas, tínhamos a missão de nos ajudarmos a nós próprios. Por isso, comecei a fazer voluntariado numa ONG chamada Samos Volunteering, a limpar, a fazer chás, a lavar a roupa, entre outros.

Ao mesmo tempo, comecei a trabalhar duas vezes por semana como tradutor numa ONG chamada Medi’EqualiTeame num outro projeto chamado Banana House, onde era professor de inglês. Mais tarde, entrei na ONG Project Armonia.  Estava a trabalhar com 4 ONG ao mesmo tempo, mas quando o Project Armonia me contratou como coordenador, apenas continuei com esta organização até ao final da minha estadia na Grécia.

Anos mais tarde, quando cheguei a Londres, no Reino Unido, e fui libertado do centro de detenção, candidatei-me para trabalhar como voluntário numa instituição de caridade para pessoas sem-abrigo. Queria fazer algo diferente. Apesar de ter sido aceite, só pude realizar atividades durante um dia, porque, no dia seguinte, fui transferido para um campo de refugiados numa cidade distante.

Aí, comecei a planear e dar aulas de inglês a outros refugiados e a traduzir quando necessário. Ao regressar a Londres, comecei a fazer voluntariado com a NightWatch, a Care4Calais e a instituição de caridade para pessoas sem-abrigo, desta vez durante seis meses. Há três meses, a fundadora da ForRefugee, Amber, convidou-me para fazer parte da direção.

 

CV – Deparou-se com alguns desafios quando começou a fazer voluntariado?

NM – No início do meu trabalho voluntário com as ONG em Samos, vivia no campo de refugiados. Nunca podia almoçar porque os meus horários de trabalho eram ao mesmo tempo dos da fila de comida no campo, o que significava que tinha de escolher entre trabalhar e comer, o que fazia com que acabasse por passar fome a maior parte do tempo. Pouco tempo depois, consegui alugar uma casa e pude trazer comida de casa. “Mas e os outros “voluntários da comunidade” que ainda estavam a viver no campo?”, esta foi uma das muitas perguntas que fiz à ONG para a qual trabalhava.

Quando analisei as atividades atribuídas aos voluntários, comecei a ver uma espécie de desequilíbrio de poder entre nós e os voluntários europeus. Começava mesmo a sentir que era menos do que os europeus, devido à forma como nos tratavam. Fazíamos o mesmo trabalho. Talvez até trabalhássemos mais do que eles, mas, no fim do dia, eles eram europeus e nós éramos refugiados. Essa era a parte que mais me incomodava. Quando um novo voluntário europeu entrava para a ONG, os diretores apresentavam-me e a outros voluntários refugiados como “voluntários da comunidade”, nunca apenas como “voluntários”.  Não era correto. Porque é que nos queriam colocar um rótulo?

Este tipo de organizações estão sempre a falar de igualdade, dizendo “somos todos iguais”. No entanto, quando nos apresentam, somos imediatamente divididos e colocados em categorias diferentes. Por exemplo, a organização fazia duas reuniões de equipa separadas e distintas, apesar de todos desempenharmos funções semelhantes e termos acesso à mesma informação. Uma reunião era para os voluntários europeus, outra para os voluntários refugiados.

Nas nossas reuniões, éramos tratados como crianças. Assumiam que só estávamos ali para ter acesso a comida, por isso compravam fruta e diziam-nos para comer. Não concordo com esta atitude. Se queriam dar-nos comida, deviam ter distribuído por toda a gente por igual: nós e os voluntários europeus. Depois de falar com os coordenadores, eles mudaram a situação. Uma vez mais, tínhamos também grupos de chat diferentes: um para os refugiados, outro para os europeus. Os voluntários europeus sorriam e chamavam-nos seus amigos, mas, depois do horário de trabalho, não estavam autorizados a sair connosco nem a ligar-se a nós nas redes sociais. Em contrapartida, os voluntários europeus podiam interagir uns com os outros. Uma vez, perguntei aos coordenadores: “Porque é que acham que sou tão perigoso para eles?”. Uma regra deve ser justa para todos, não deve funcionar contra nós. Sentia que eles me achavam perigoso. Houve múltiplas situações do género que demoraram algum tempo a mudar, mas fiz o meu melhor para isso acontecer.

Antes do início do voluntariado, pensava que os voluntários estavam lá para nos ajudar. Tinham um grande significado para mim. Eram como heróis, antes de os conhecer. Quando comecei a trabalhar diretamente com eles, percebi que a maioria vinha apoiar para poder satisfazer os seus próprios interesses. A maioria queria ajudar para se sentirem melhor, e eu compreendi: “nem todos estão aqui por nós, alguns estão aqui por eles próprios”.

 

CV – O trabalho diário com os refugiados teve algum tipo de impacto emocional?

NM – Quando ainda estava no campo, nada me chocava. Lembro-me de um dia em que estava a chover e as pessoas perderam as suas tendas. Entrei no centro e vi voluntários a chorar, mas para mim era algo completamente normal. Quando se está na mesma situação, a lidar com o mesmo problema, nada nos choca. Porém, pouco depois, a minha vida começou a aproximar-se da normalidade, já não estava a viver no campo e a minha realidade começou lentamente a afastar-se da deles, à medida que eu reconstruía a minha vida. Quando isto aconteceu, a situação dos refugiados no campo começou a marcar-me mais.

Campo em Atenas, Grécia (2020). Fotografia de Julie Ricard em Unsplash.

CV – Como era o seu sistema de suporte enquanto trabalhava na Grécia e como é que se apoiava nele?

NM – O meu sistema de suporte eram os meus melhores amigos, Omid e Roohey. Contudo, nunca falei com eles sobre a situação de outras pessoas. Vi muitas coisas na minha viagem e o dia-a-dia afetava-me menos do que aquilo que tinha vivido antes. Habituei-me a isso. No entanto, quando algo me irritava no trabalho, falava com os meus melhores amigos sobre os meus problemas na organização. Nunca recorri à minha família ou a um psicólogo para falar das minhas funções.

 

CV – Quais foram os seus mecanismos de coping durante o voluntariado?

NM – Antes de iniciar funções como coordenador no Project Armonia, a ONG servia 150 refeições por dia. Eu fui capaz de atingir as 2 000 refeições diárias. Obtive alguma gratificação ao ver o meu trabalho a ter resultados.

Quando regressava a casa ao fim do dia, desligava-me de tudo. Comecei a não pensar no assunto e ocupei-me com outras coisas. Saía, falava com amigos, falava com a minha família. Isto não quer dizer que não deixava de ver o que se passava à minha volta.

 

CV – O voluntariado e manter-se ativo ajudaram-no a desenvolver algum tipo de resiliência?

NM – Sim, ajudou. Se não tivesse feito nada, teria enlouquecido. Permitiu-me tornar mais resiliente do que era. Foi um grande apoio. Para ser sincero, fazer voluntariado mudou a minha vida.

Por vezes, leva-me a crer que os refugiados são mais resilientes do que os europeus. O que é chocante para a maioria dos europeus, é completamente normal para mim. Muitas vezes, quando via algo que me parecia normal, olhava para os voluntários europeus e via-os a chorar. Acho que isso acontece porque consigo dizer que a nossa vida é mais difícil. Muito provavelmente, a maioria dos europeus nunca viu violência na sua vida, mas eu já vi. Logo, quando havia uma confrontação grande, eu não entrava em pânico nem chorava. Durante a minha travessia, vi de tudo.

 

CV – Acredita que os voluntários europeus e os voluntários não europeus estariam mentalmente e emocionalmente preparados de forma a serem capazes de realizar o seu trabalho?

NM – Posso dizer que a maioria dos voluntários europeus não estavam completamente preparados para o trabalho no terreno com os refugiados. Vieram com 18 anos e estavam provavelmente habituados a uma vida bastante estável e positiva. A maioria nem sequer tinha conhecimento de informação fundamental sobre os refugiados. Não conheciam o lado feio do mundo. Quando iniciaram o seu voluntariado na Grécia, saíram da sua zona de conforto e foi um choque para eles, porque não estavam mentalmente preparados para isso. Depois de saírem da Grécia, mantive o contacto com alguns deles, que, na maioria, sofreram uma grande depressão. No entanto, quando voltaram uma segunda vez, estavam mais preparados e não ficaram afetados da mesma forma que da primeira vez. 

Relativamente aos voluntários refugiados, penso que nunca me deparei com nenhum problema específico ao trabalhar com eles. Muito pelo contrário. O voluntariado ajudava-os a navegar no sistema de asilo e as condições de vida precárias a que estavam condenados. Por exemplo, havia um rapaz que bebia álcool todos os dias e não tinha nada para fazer. Pedi-lhe que começasse a fazer voluntariado connosco. Dei-lhe uma rotina e responsabilidades, e ele deixou de consumir drogas e álcool. Agora, está na Alemanha. 

O único caso de que tenho conhecimento em que o voluntariado afetou negativamente um refugiado foi o de um rapaz muito bonito. Mesmo que não intencionalmente, as jovens europeias criaram um problema para ele. Todas as semanas, uma rapariga beijava-o durante a noite na discoteca, enquanto estava bêbeda. No dia seguinte, dizia-lhe que tinha sido um erro e que não o podia estar com ele por ser um refugiado. Pude ver como este rapaz mudou completamente. Começou a odiar-se. Isso foi o que me disse: “Nima, não consigo gostar de mim. Só quero sair daqui”. Ele queria sair de forma irregular, tentou de tudo, e isso colocou-o numa situação difícil. Esta foi a única vez que me lembro de um refugiado ter enfrentado dificuldades psicológicas e emocionais no exercício de uma atividade de voluntariado.

 

CV – A sua experiência anterior de trabalho com refugiados deixou alguma marca emocional que carregue no seu dia a dia?

NM – Por vezes, algo nos diz alguma coisa e começamos a pensar nisso. Lembro-me que quando ocorreu o segundo incêndio em Samos, um dos nossos voluntários veio ter comigo e pediu-me uma esponja. Fiquei surpreendido e perguntei-lhe porque queria uma esponja nova. Ele disse-me que queria lavar o corpo com uma esponja e que não tinha uma esponja de banho nem dinheiro para comprar uma. Isso foi muito triste para mim. Agora, por vezes, quando olho para uma esponja, penso nesse voluntário.

Outra vez, um idoso foi ao restaurante do Projeto Armonia e começou a gritar com os nossos voluntários sem razão aparente. Falei com ele três vezes de forma simpática, pedindo-lhe que respeitasse os trabalhadores e que parasse de gritar. Na quarta vez que isso aconteceu, anulei o seu cartão e disse-lhe que não podia continuar a entrar na ONG devido aos distúrbios que gerava num local que procurava criar um espaço seguro para as pessoas refugiadas. E ele não voltou. No entanto, ao falar com alguém, percebi que ele tinha um problema mental e não tinha controlo sobre si próprio. Depois disso, senti-me culpado por o ter penalizado.

Estas coisas aconteceram e muitas vezes tive de dizer não. Os refugiados chegavam lá e pediam comida, mas não se registavam. Eu dizia-lhes que naquele dia lhes daria comida, mas que, se viessem amanhã, não daria. Quando vinham à Armonia no dia seguinte, apesar do meu aviso, deixava passar a situação, fornecendo-lhes a refeição, mas tentando deixar claro que seria a última vez. Na terceira vez, tinha de lhes dizer que não, alguns refugiados até choravam à minha frente, mas mesmo assim tinha de dizer não. Este tipo de situações e a tensão que as acompanhava afetam-me verdadeiramente, e ainda penso nelas.

 

CV – O facto de ser membro da direção da ONG britânica “ForRefugees” faz com que revisite a sua experiência na Grécia e em França? Se sim, como é que isso o influencia? 

NM – Quando vim para o Reino Unido, estive muito envolvido em falar com jornalistas. Todos queriam falar comigo. Cheguei a sentir-me abusado por jornalistas que me contactaram por causa da minha história, querendo ouvi-la desde o início e em pormenor. Por isso, a certa altura, cansei-me da minha própria vida. Estava cansado da minha própria história. Queria parar tudo. Queria esquecer o que me tinha acontecido. Estava no Reino Unido, mas ainda pensava na Grécia e lia sobre refugiados. Queria começar uma vida nova e sentia que ainda vivia no passado. 

Fiz uma pausa e agora sinto que posso voltar a falar da minha vida. Sempre que falo da minha vida a outras pessoas, faço-o porque acho que é importante que as pessoas saibam. Talvez assim possa mudar a opinião de alguém sobre as pessoas refugiadas. 

Agora, para ser sincero, parece que não me afeta. Esta é a parte mais triste. Se acontece alguma coisa a um estranho, penso nisso durante um minuto e é isso. Só quando ouço falar de pessoas que foram meus voluntários, por exemplo, e percebo que estão numa situação complicada, é que fico realmente triste porque as conheço.

 

CV – Qual é a sua opinião sobre a assistência humanitária e as operações no sector das pessoas refugiadas em geral?

NM – Inicialmente, percecionava as ONG como heróis, salvadores. Contudo, neste momento, já não acredito nas pequenas ONG, também conhecidas como grassroots. A maior parte delas surge por interesse próprio. Não posso dizer todas, mas muitas. Não estou a falar propriamente dos voluntários. Os voluntários são pessoas que vão para o terreno com boas intenções, mesmo que o façam por razões pessoais. Sentem algo, e por isso vão por um curto período, dois ou três meses. No entanto, alguns fundadores, coordenadores e outras pessoas com funções mais elevadas estão lá porque não têm nada no seu país de residência. Não estão a ajudar e, por vezes, até estão a piorar a situação. 

Para mim, as ONG existem para manter os refugiados ocupados. Se não existissem ONG na Grécia, o Governo grego teria eventualmente de lidar com os refugiados e de os gerir. As ONG tiraram a responsabilidade ao governo. No início, quando cheguei, porque não havia ONG, o governo grego dava-nos um saco-cama, um cobertor, uma escova de dentes, todo esse tipo de coisas. Passado algum tempo, apareceu uma ONG que começou a fornecer estas coisas e o governo acabou com a sua atividade. No início, um refugiado recebia 8 items dessa ONG, mas como começaram a chegar mais refugiados, as ONG não conseguiam servir toda a gente. A maioria das pessoas não teve qualquer tipo de ajuda.

Conheci jovens fundadores que não compreendiam nada do que se passava no mundo e alguns até enfrentavam desafios a nível de saúde mental. Essas pessoas não eram especializadas, não estudaram direitos humanos, como é que podiam ajudar alguém?

 

CV – Que papel considera que as pequenas ONG podem ter? 

NM – As pequenas ONG precisam de dinheiro para os seus funcionários. Cada ONG gasta pelo menos 5 a 6 mil euros por mês para pagar um salário aos seus coordenadores e cobrir os custos dos voluntários. Em vez de gastar esse dinheiro com voluntários, penso que é preferível dar essa oportunidade a pessoas com formação ou a ONGs maiores. Todavia, as pequenas ONG poderiam começar a capacitar os refugiados, preenchendo esses postos de voluntariado com as próprias pessoas refugiadas, em vez de pagar a um europeu com mais oportunidades de emprego. Os refugiados conhecem várias culturas desconhecidas às pessoas europeias, conhecem as suas próprias necessidades e a sua própria comunidade. O facto de serem eles a desempenhar tarefas humanitárias importantes poderia fazer uma grande diferença. Em vez de atribuir cinco postos de trabalho a voluntários europeus, as ONG deveriam dá-los a pessoas refugiadas. Assim, pessoas refugiadas podem aprender as competências necessárias e serem remuneradas. Desta forma, a sua vida mudaria completamente, tal como aconteceu comigo. Nos campos de refugiados, é possível encontrar pessoas que exercem qualquer tipo de profissão. É possível encontrar um médico ou um técnico. Desta forma, é fácil para as pequenas ONG capacitar e empoderar pessoas refugiadas.

 

CV – Acredita que existe uma solução para a crise humanitária nos campos de refugiados? 

NM – A crise surgiu em 2015 devido à guerra na Síria. Evidentemente, se não houvesse guerra, muito menos pessoas teriam chegado às fronteiras da Europa. No entanto, podemos ver como a Europa está a lidar com a Ucrânia, dando vistos e proteção temporária a todos.

Graffiti urbano “Refugees Welcome”. Fotografia de Markus Spiske em Unsplash.

Têm a liberdade de circulação que poderia ser concedida a todos os refugiados na Europa. Se nos preocupássemos com os refugiados, se disséssemos que não queremos que os refugiados morram no mar, então, em vez de lhes dificultar a vida e de dar oportunidades financeiras aos smugglers, dar-lhes-íamos vistos para que pudessem vir para a Europa facilmente e, mais importante, em segurança.

Se querem encontrar uma solução para que os governos dos países europeus não tenham de acolher refugiados, é fácil: fechem a fronteira e não aceitem refugiados. Deportar toda a gente para o seu país de origem. Cruel, mas receio que a Europa esteja a caminhar nessa direção.

 

CV – Que conselhos daria a futuros voluntários antes de embarcarem numa experiência de voluntariado com pessoas refugiadas?

NM – Penso que o primeiro conselho que costumo dar às pessoas que estão a pensar em ser voluntários é que façam alguma pesquisa sobre os países de origem dos refugiados, a sua cultura e o seu percurso. É importante compreender algumas ideias erradas e a forma como as pessoas as tentam desmistificar. Nem todos os países são pobres e nem todos os refugiados são economicamente vulneráveis, por exemplo. Acho que compreender e fazer pesquisa sobre o local onde se vai fazer voluntariado pode ajudar na preparação, porque a realidade com que se é confrontado  poderá ser muito chocante. 

Aconselho, ainda, a tentar não construir amizades muito fortes com os refugiados, porque quando a pessoa começa a perceber como os refugiados são semelhantes a si, torna-se mais fácil estabelecer laços e as dificuldades dos refugiados terão um impacto profundo nos voluntários europeus, mesmo quando regressarem a casa. Quando os voluntários regressam ao seu país, as amizades que criaram já não permanecem as mesmas. Para os refugiados, estas amizades podem ser muito difíceis. Muitos agarram-se à esperança de manter as suas amizades, porque é uma forma de se sentirem menos isolados e de se distraírem do tédio e dos desafios do dia-a-dia.

A razão de uma pessoa fazer voluntariado nunca deve ser criar amizades. Talvez esteja a enfatizar este ponto porque já vi como as promessas vazias podem ter um efeito deteriorante nas pessoas refugiadas. Peço às pessoas entusiasmadas que desejam contribuir para o trabalho com as pessoas refugiadas que reflitam sobre o que as motiva e que tentem perceber como é que elas próprias podem acrescentar valor à vida dos refugiados.

 

Agradecimentos:

Um especial agradecimento ao Nima Moradi pelo seu tempo, disponibilidade e partilha da sua experiência.

À Equipa da Revista Frontal pela revisão, atenção prestada e fornecimento de uma plataforma de divulgação.

Aos amigos e família pelo apoio, orientação e paciência no percurso do desenvolvimento da entrevista.

 

Considerações:

A entrevista foi conduzida em inglês, pelo que a tradução para a língua portuguesa foi realizada pela entrevistadora Carolina Veloso.

 



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