Do Terramoto à Construção: Voluntariado em Oaxaca

Em 2019, tive a oportunidade de participar num programa de voluntariado com a All Hands and Hearts em Salinas del Marqués, em Oaxaca, no México. Foi uma experiência enriquecedora que me permitiu não só ajudar uma comunidade, mas também crescer pessoalmente.

A All Hands and Hearts é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo ajudar comunidades afetadas por desastres naturais. Tem inúmeros projetos ativos, do Nepal à Ucrânia ou às Filipinas. Em Oaxaca, a organização reconstrói escolas danificadas pelo terramoto de setembro de 2017. A associação tenta entrar em ação imediatamente após as catástrofes naturais e, quando é necessário, permanece no terreno a longo prazo. Foi o que aconteceu no México: o primeiro programa iniciou-se em março de 2018 e desde aí já foram construídas 22 escolas, estando o programa ainda ativo em Oaxaca.

Onde vivíamos.
Onde vivíamos.

Ao chegar a Salinas del Marqués, fui integrada numa equipa incrível de cerca de 70 voluntários. Vivíamos todos juntos num terreno abandonado de um hotel em construção, adaptado para nossa habitação. Aí, tive o prazer de conhecer pessoas excecionais de inúmeras nacionalidades.

A escola em construção.

O trabalho consistia em demolir e reconstruir uma escola primária e um jardim de infância. O projeto em que eu participei iniciou-se em janeiro de 2019 e terminou em julho de 2019. Eu juntei-me durante o mês de junho, tendo integrado a fase final do projeto. Neste mês, pintámos os edifícios e montámos o pátio, construindo, por exemplo, um campo de basket para as crianças depois brincarem. Antes disto, eu nunca tinha realizado qualquer atividade relacionada com construção, mas isso não foi um problema, já que todos os voluntários, mais ou menos experientes, estavam sempre prontos a ajudar. Para além disso, trabalhávamos em conjunto com 10 construtores locais, que eram remunerados.

No trabalho.
No trabalho.

O dia-a-dia consistia em acordar às 6 da manhã e trabalhar das 7h30 às 16h30, com uma pausa para almoço pelo meio. Pudemos desfrutar da autêntica gastronomia mexicana, já que as refeições eram preparadas pelos locais. Depois de uma reunião no final de cada dia de trabalho, tínhamos o resto da tarde livre e podíamos ir à praia, fazer desporto ou conviver. Muitas vezes passávamos as tardes em casa dos locais, que abriam os seus jardins e os transformavam em bares e locais de convívio para nós, o que permitiu uma maior interação e troca cultural. Como os projetos da All Hands and Hearts costumam ser em pequenas aldeias remotas, a chegada de muitos voluntários torna-se também interessante para os locais por haver uma maior procura de comércio. Nós acabávamos por adotar os seus hábitos, como comer sandes típicas da região a meio da manhã ou legumes com picante ao final da tarde. Estas eram também ótimas oportunidades para sairmos da nossa zona de conforto e tentar falar espanhol com os locais, já que a língua falada entre os voluntários é maioritariamente o inglês. 

Tínhamos meio dia de sábado e domingo de folga, e nestas alturas aproveitávamos para descansar ou íamos passear a uma das cidades mais próximas. O ritmo era bastante cansativo, mas muito gratificante e divertido por ser passada em boa companhia.

Além desta rotina, havia vários eventos ao longo da semana que permitiam uma integração ainda maior na comunidade. Podíamos, por exemplo, ir à escola ensinar inglês ou aprender a cozinhar com locais. Estes momentos eram destinados a um grupo menor de voluntários de cada vez, mas estavam muito bem organizados, de forma a que cada voluntário pudesse participar em pelo menos uma destas atividades. 

Tudo isto era possível porque havia um grupo de cerca de 10 trabalhadores da All Hands and Hearts fixo, responsável pela organização de todo o projeto, que incluía pessoas que tratavam da logística de interação com a comunidade,  arquitetos e engenheiros responsáveis pela obra. No meu projeto, todos eles tinham sido antes voluntários (no México ou em outros sítios) e gostaram tanto da organização que acabaram a dedicar-se a ela de forma permanente. 

Ao contrário de outras organizações de voluntariado internacional, os projetos da All Hands and Hearts são completamente gratuitos para os voluntários. Temos apenas de assegurar o nosso transporte de ida e volta para o local do projeto. Uma vez lá, oferecem-nos três refeições por dia (pequeno almoço, almoço e jantar) seis dias por semana e condições básicas para vivermos. Se quisermos alguma coisa à parte disto, por exemplo ir passear a uma cidade próxima do projeto, fica a nosso custo. Os voluntários são encorajados a criar uma página de angariação de fundos, o que é uma ótima forma de retribuir ao projeto as despesas que têm, seja em alimentação, acomodação ou materiais para a obra, designadamente envolvendo os nossos familiares e amigos na experiência.

Convívio depois do trabalho.

O tempo que passei em Salinas del Marqués foi incrível. Fiquei muito impressionada com a eficiência, resiliência e dedicação de todos os participantes, desde os membros da organização, que cumpriam exatamente tudo o que prometiam, aos voluntários, sempre divertidos e motivados, e aos locais, que nos recebiam sempre de braços abertos. Foi uma experiência única que gostava muito de repetir e recomendo a todos!

Convívio depois do trabalho.

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