
[dropcap]O[/dropcap] Professor alemão Hauke Hekereen fez as honras, fazendo-nos reflectir com When Money Touches Your Mind: quando a neurologia se liga à economia. Ligação (aparentemente) improvável? Hekereen, através de exemplos simples e provocadores, mostrou à plateia como as diárias tomadas de decisão podem ser processadas, inclusive em pessoas com alterações mentais, e como elas são fundamentais para o nosso (futuro) dia-a-dia. Com um constante duelo cerebral entre o valor e o risco associado, provou o valor que a neurociência acrescentaria às actuais teorias económicas e suscitou o interesse e o diálogo no anfiteatro, reagindo apaixonadamente à atenção demonstrada:
It’s exciting isn’t it? I told you, I told you!
Com toda uma área por decifrar, o alemão termina a palestra ao anunciar que as próximas fronteiras a alcançar seriam as diferenças individuais na assinatura, digamos, neural, a total compreensão das várias fases da tomada de decisão em pessoas com distúrbios mentais, cujo sistema de valorização é completamente diferente, e o diagnóstico, predição e tratamento baseado no comportamento neural individual (provavelmente o objectivo mais longínquo a alcançar).
O iMed 6.0 continua a apelar à criatividade dos seus participantes e as sessões continuam. Segue-se, então, o Professor Yadin Dudai, director do

departamento de Neurobiologia do Weizmann Institute of Science, em Rehovot, Israel. Em tom de brincadeira, lança o pontapé de saída afirmando, controversamente, que tudo o que precisamos de saber é que “não podemos confiar na memória”! Tal como Hekereen, exemplificou de maneira simples como a memória em relação, por exemplo, a um filme, pode mudar tão drasticamente com o tempo e repetição. Apresentando um estudo realizado em que se apelava aos participantes a esta mesma repetição (recordação), nunca houve maneira tão eficaz de traduzir o famoso ditado português: quem conta um conto acrescenta sempre um ponto, em que a manipulação social altera a percepção da memória.
O professor Dudai acrescenta ainda que sempre que recordamos uma memória e em diferentes contextos estamos num processo de (re)consolidação, confirmando a sua teoria da “memória não confiável”. Além disso, com o tempo, o cérebro gasta mais energia para recordar memórias e, por isso, esta vai perdendo detalhes – ocorre uma supressão de parte da informação armazenada (caso contrário, não seríamos nós uma autêntica base de dados?!).
Brilhantemente, Dudai termina a sua palestra com a grande conclusão de que a imaginação seria o preço a pagar por todo este processo de memória no qual não podemos confiar, pois we believe more than we know, afirma.
O último grande nome da ciência actual do segundo dia do iMed lança, assim, a dica:
If you read an autobiography, don’t trust a word.
“Choose a job you love and you won’t have to work a day in your life”

Há também que deixar escritas umas palavras quanto ao sucesso das inspiradoras iMed Sessions do terceiro dia do congresso. Começou-se com uma viagem ao espaço. “Queridos estudantes!”, talvez um dia possamos sentir na pele o que é a falta de pressão hidrostática e a incapacidade de realizar movimentos parabólicos. Francesco Torchia trouxe imagens raras de paisagens espaciais e de momentos na vida quotidiana de um astronauta em missão. Imagens tão originais, diferentes e estranhas para os comuns seres terrestres que quase nos surpreendeu ao falar em monotonia física e social. Mesmo perante todos os riscos psicológicos e físicos (sobretudo para os sistemas cardiovascular e músculo-esquelético), terá muito provavelmente ficado no público uma vontade de viajar para o espaço. Para quando, os voos comerciais para todos?
Obrigada, Jessica Grahn. Não é todos os dias que se ouve uma oradora completa: energética, carismática, simpática, interessante e apaixonada pelo que faz. Foi difícil conter o riso indiscreto face às patadas rítmicas de Snowball ao som de Backstreet Boys (os fãs de Queen ficarão felizes ao saber que esta cacatua especial dança igualmente ao som da “Another one bites the dust“). Também não é todos os dias que se ouve a palavra groove aplicada num projecto de investigação científica. Falou-se de música, de ritmo, e de como estes dois afectam o nosso sistema nervoso central e estimulam as nossas áreas motoras. Teremos aqui uma terapêutica adjuvante para doenças cerebrovasculares e neurodegenerativas? Veremos. O que se sabe é que o público entrou em êxtase perante a perspectiva e ficou entusiasmado com este final de congresso.
