(Antes de começares a ler este texto, coloca uns fones, ouve um pouco desta playlist e deixa-te mergulhar por completo neste mundo que é a Índia😊)
Olá! O meu nome é Carolina, tenho 22 anos e sou de uma pequena aldeia do distrito de Santarém. No verão de 2022 embarquei numa aventura de 37 dias pela Índia…
7 meses se passaram desde o meu regresso de Calcutá, no Estado de Bengala Ocidental, na Índia.
Tenho saudades todos os dias! Saudades dos sons estridentes das ruas (fosse a que horas fosse), saudades dos cheiros dispersos e ao mesmo tempo misturados no ar, saudades do trânsito e das buzinas intermináveis (que tanto me surpreenderam mal saí do aeroporto), saudades das pessoas sorridentes e dispostas a dar-nos de tudo (mesmo não tendo nada), saudades da diversidade de crenças religiosas a coabitar em relativa paz, saudades das crianças e da sua energia contagiante, saudades da comida mais picante que já comi (e que nos deixava a chorar e a suar do rosto no final de todas as refeições), saudades da natureza e das paisagens preenchidas por arrozais infinitos, saudades do quão simples era ser feliz e sorrir ali…
Parece uma contradição, não é? Porém, digo-vos, a Índia é um país absolutamente fascinante. É simultaneamente sinónimo de confusão, diversidade, alegria e felicidade.
Calcutá é a capital de um estado indiano com uma quantidade gigante de população integrante da casta mais baixa – os dalits. Acredita-se, portanto, que estas pessoas estão condenadas a uma vida de sofrimento e humilhação. O sistema de castas foi abolido da Constituição em 1950, mas permanece perfeitamente enraizado na cultura deste país.
Podem imaginar o choque que é andar por aquelas ruas… Ali, senti que percebi o significado de viver na miséria, mas as pessoas mantinham a bondade e o sorriso. Ainda hoje é difícil expressar em palavras aquilo que os meus olhos viram. Aquilo que vivi gerou em mim um misto de emoções gigante, que ainda hoje tenho dificuldade em gerir. Atualmente, sei que por mais que pesquise e tenha formação vai sempre existir esta sensação. A discrepância é extraordinariamente grande, maior do que qualquer livro ou documentário que possam ler ou ver vos consiga mostrar.
O povo de Calcutá é provavelmente a materialização da resiliência pura e dura. Seja no centro da cidade, seja nas pequenas aldeias, somos recebidos em festa e todos nos querem acolher. As crianças pulam de alegria se fizermos coisas tão simples como correr com elas ao sabor do vento de pé descalço e debaixo dos pores do sol mais bonitos que já vi. Damos-lhes algo e elas querem partilhá-lo connosco, não aceitando se dissermos que não. As famílias convidam-nos todas para ir comer arroz a sua casa e aplaudem-nos quando ouvem das nossas bocas palavras soltas ou frases simples em bengalês.
Foi a melhor experiência da minha vida e a que mais me ensinou, também. Parti com a ideia de estar bem preparada e tinha muitas convicções em que acreditava piamente, mas tudo isso cai por terra quando andamos pelas ruas e há pessoas estendidas no chão nas beiras das estradas tão calejadas pela vida e por um contexto económico, social e político pouco favorável que simplesmente não conseguem levantar-se. E por vezes, ao seu lado, estão as suas crianças, também estendidas, sem forças. Ser voluntária para aquelas pessoas foi o que mais me preencheu na vida e esse nunca foi, nem deve ser, na minha opinião, o nosso objetivo ao ir em missão. Queria simplesmente dar-me aos outros, o meu tempo, o meu amor, os meus conhecimentos, o meu suor e a minha vida! Só espero um dia voltar, mais crescida, mas com a noção de que não vou fazer assim tanto, talvez baste fazer coisas pequenas com muito amor, como diria a Santa Madre Teresa de Calcutá!
Passados 7 meses, fica a saudade, que não diminui, aliás cresce com o tempo…
14/04/2023
Carolina Vitorino