SBSR | O melhor e o pior da edição de 2023

Findada mais uma edição do festival, damos conta dos altos e baixos do Super Bock Super Rock 2023.

2023 foi, tal como 2019, um ano de regresso ao Meco. Atravessámos o rio, para lá e para cá durante os três dias de festival, para ver alguns dos nossos artistas favoritos. Certamente já vimos cartazes mais recheados, mas a edição deste ano não deixou de nos trazer concertos excelentes, que nos ficarão na memória por muitos anos. A edição de 2023 contou com 58 mil festivaleiros ao longo dos três dias e decorreu de 13 a 15 de julho, na Herdade do Cabeço de Flauta. Já conhecemos as datas da edição do próximo ano, que regressará ao Meco de 18 a 20 de julho de 2024. Mas, por agora, fazemos a retrospetiva dos dias que passaram.

SBSR | O BOM, O MELHOR E O EXCELENTE

Black Country New Road, Super Bock Super Rock 2023
Black Country New Road, foto por Rafael Pereira

3. AS POUCAS SOBREPOSIÇÕES

Entre o palco principal e o palco secundário, não havia nada a separar para além de uns escassos metros. O palco Somersby ficava também bastante perto dos outros dois, fazendo com que, por vezes, nos silêncios de um concerto se ouvisse o barulho de outro. Possivelmente por esta razão, as sobreposições foram minimizadas. Foi frequente acontecer apenas um concerto no recinto inteiro, o que nos permitiu explorar outros artistas para além dos nossos interesses iniciais, numa experiência festivaleira mais autêntica de aventura e curiosidade musical. Foi possível também dar plateias mais compostas aos artistas, pois assim que acabava o concerto no palco principal, a multidão movimentava-se em massa para o palco secundário e vice-versa.

2. A CONSTANTE SURPRESA DOS BLACK COUNTRY, NEW ROAD

Não era a primeira vez que assistíamos a um concerto dos BCNR após a saída de Isaac Wood. Já sexteto, os britânicos lançaram um álbum ao vivo que documentava a nova dinâmica que adquiriam em palco, agora sem o vocalista. Já íamos avisados e conhecedores. E, ainda assim, o concerto dos BCNR no palco Pull&Bear foi uma surpresa. Não houve nada que não tenhamos visto ou ouvido anteriormente, mas voltaram a surpreender-nos. A coordenação que possuem vem ao de cima nos ritmos complexos e desfazados que tocam, nas harmonias intricadas e no controlo total da energia do concerto, ora mais agitado, ora mais tenso e recolhido. Cada um dos seis membros brilha e é óbvia a qualidade exemplar de cada um. Não só cada evento dos BCNR nos espanta, como nos deixa entusiasmados para o que aí vem. Embora tenhamos tido Live At Bush Hall este ano, mal podemos esperar pelo seguimento que darão a Ants From Up There.

1. CAROLINE POLACHEK É O PACOTE COMPLETO

Quando pensamos na artista que Caroline Polachek é, fica difícil não nos chocarmos com a excelência que a norte-americana reúne em tantos aspetos diferentes. No SBSR, entregou-nos a sua voz, agilíssima, serpenteante por entre os instrumentais pop-eletrónica maximalistas e os movimentos de braços majestosos ao ritmo das canções. Este cocktail de maestria estimulou o público, que manteve constantes os altos níveis de energia do princípio ao fim, cantando toda e qualquer palavra dos dois discos da artista. Logo no início do alinhamento, tivemos o ponto alto de todo os festival quando Polachek cantou “Sunset”, uma das melhores faixas e das mais dançáveis do último álbum. Este foi o melhor concerto dos três dias e leva um grande avanço do nosso número dois (em nada desvalorizando a sublime atuação dos Black Country, New Road). Podemos dizer que o alinhamento apenas teve dois pontos negativos: só ter durado uma hora e termos ouvido somente uma curta versão modificada de “Look At Me Now”, em vez da interpretação completa da bonita faixa acústica.

“SUNSET” | CAROLINE POLACHEK

“LOOK AT ME NOW” | CAROLINE POLACHEK

SBSR | O MAU, O PIOR E O PÉSSIMO

Super Bock Super Rock
Super Bock Super Rock, por Rafael Pereira

 

3. O TIMING DE ALGUNS CONCERTOS

No que toca aos horários, já elogiámos todas as oportunidades que o desfazamento de muitos dos concertos nos proporcionaram. No entanto, é de fazer notar que este ano as atuações começaram especialmente tarde. Poucos foram os concertos a que assistimos à luz do dia e alguns teriam beneficiado de um cenário que contasse com luz natural ou o pôr do sol. Lançando o dia mais tarde, desperdiçou-se a possibilidade de oferecer diferentes enquadramentos cénicos ao longo do festival, enquadramentos estes que poderiam ter tornado mais bonitos alguns dos concertos.

2. OS OCASIONAIS PROBLEMAS DE SOM

Não podemos dizer que foi uma constante, mas ao longo dos três dias notaram-se aqui e ali alguns problemas a nível do som. Por vezes, muito alto, impedindo os interessados de se aproximarem mais do palco ou os mais desinteressados de ter uma conversa, mesmo que fosse já quase fora do recinto. Sentiu-se particularmente em Wu-Tang Clan, e foram vários os comentários que ouvimos pelo recinto acerca do volume sonoro da atuação. Outras vezes, ocorria o contrário, sendo difícil ouvir a voz do artista que atuava. Em Caroline Polachek, foi uma pena não se ter dado mais destaque à sua voz espetacular. Apesar de toda a projeção e poder que esta tem, ao longo de todo o concerto ficava abafada por entre os instrumentais também eles grandiosos. O ponto mais crítico foi em Pinkpantheress, em que tudo o que se ouvia eram as faixas de acompanhamento.

3. O RECINTO E TUDO O QUE O MECO IMPLICA

O grande ponto fraco do Meco continua a ser ele próprio. A organização bem que se esforça para fazer parecer que é uma boa opção, a melhor até, mas ano após ano falha. Falando apenas do recinto, este é pequeno e não permite o bom isolamento dos palcos. A Herdade do Cabeço de Flauta na realidade nada mais é do que um descampado. Apesar de ter ligação à praia e a possibilidade de campismo, não é um espaço bonito quando comparado com demais espaços onde também são organizados outros festivais.

A acessibilidade do Meco é ainda outro grande senão do festival. Sendo justos, é preciso dizer que houve melhorias este ano. Os autocarros funcionaram bastante melhor do que em 2019. Apesar dos 2,60€ que custavam as passagens entre Coina e o recinto ainda sair caro quando multiplicado por dois (ida e volta) e depois pelos três dias de festival, este ano podia-se fazer cada viagem por apenas 1,55€, se carregássemos um cartão de zapping. Outro ponto que melhorou a questão da acessibilidade foi o comboio a 2€ ida e volta, entre Lisboa e Coina, mediante a apresentação do bilhete do festival. No entanto, era apenas uma meia-ajuda, considerando que o último comboio saía à meia noite. Havia ainda um último comboio extraordinário para Lisboa às 3h30, mas durante estas quase quatro horas em que a maioria vai abandonando o festival não havia qualquer ligação entre a Margem e Lisboa. Ironicamente o dia que permitiu uma melhor conexão entre os dois lados foi aquando da greve da Fertagus. Seria boa ideia investir mais nos autocarros diretos para Lisboa.

SBSR | EM POUCAS PALAVRAS

Tivemos grandes concertos em Caroline Polachek e Black Country, New Road. Tivemos também surpresas muito positivas com Róisín Murphy e Wu-Tang Clan. The 1975 foi um tempo bem passado e Offspring conseguiram divertir-nos o suficiente. Father John Misty é presença frequente nas minhas playlists, mas a sua atuação não nos encheu tanto quanto o esperado e Pinkpantheress e Steve Lacy não nos conquistaram. Continua a ser difícil acreditar que o Meco seja o melhor local para acolher o festival. Este ano a organização fez um bom trabalho em convencer-nos em alguns aspetos, para o que terá contribuído o número reduzidos de festivaleiros. Contudo, há ainda um longo caminho a percorrer no que toca a fazer da Herdade Cabeço de Flauta o sítio adequado.

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