#5 MUSICOTERAPIA: The White Stripes – One more cup of coffee

Se és como a equipa de redação da FRONTAL e inúmeras vezes, ao ouvires determinada música, especulaste acerca da probabilidade da sua inspiração ter partido algures dos confins do mundo médico, então esta rubrica é para ti. É, portanto, com enorme satisfação que vos trazemos hoje a continuação da Musicoterapia – a rubrica musical da FRONTAL onde pretendemos, de forma breve, explorar ou conjeturar acerca das possíveis correlações, das mais óbvias às mais rebuscadas, entre aquela música que não nos sai da cabeça e a Medicina.

The White Stripes.

The White Stripes foi uma banda de garage rock com algumas influências de blues, originária de Detroit, Michigan. Constituída por John Anthony Gillis, mais conhecido como Jack White (guitarra e voz), e Megan Martha White (bateria e voz), esteve no ativo entre 1997 e 2011, ano em que se separaram, após um longo período sem atuações e gravações.

A sua discografia conta com 6 álbuns de estúdio lançados entre 1999 e 2007, todos com uma música com a palavra “Little” no título, tendo os seus 3 últimos álbuns (Elephant, Get Behind Me Satan e Icky Thump) recebido o Grammy para Melhor Álbum de Música Alternativa, nos respetivos anos de lançamento.

Foram catapultados para o estrelato após os álbuns White Blood Cells (2001) e Elephant (2003), este último marcado pela música “Seven Nation Army”, que se tornou num hino internacional, trauteado em todo o tipo de eventos, a começar pelos futebolísticos.

A acrescentar ao seu estilo musical simplista e cru, The White Stripes foi uma banda peculiar e única, até mesmo na sua forma de apresentação ao público. Jack e Meg White, conhecidos por um esquema cromático tricolor constituído por branco, vermelho e preto, começaram por apresentar-se como irmãos. No entanto, em 2001 surgiram documentos comprovativos do seu casamento em 1996 e posterior divórcio em 2000. Esta mentira tinha como objetivo evitar interesse mediático na relação do casal, tornando a sua música o único e verdadeiro foco de atenção. 

Jack e Meg White.

A utilização de 3 cores não foi de todo aleatória, uma vez que Jack sempre teve um fascínio pelo número 3: trabalhou numa empresa chamada Third Man Upholstery, onde estofava sofás, fundou a editora Third Man Records em 2001 e conta-se que, após um acidente de automóvel, White exigiu que lhe fossem colocados 3 parafusos no dedo, ao invés dos 2 que seriam necessários.

O fim da banda foi anunciado a 2 de Fevereiro de 2011, no site oficial.

One more cup of coffee”, presente no autointitulado álbum de estreia da banda, é uma cover da música de Bob Dylan, pertencente ao álbum Desire, de 1976. A música aparenta ser sobre o fim de uma relação, na qual a amada não parece estar investida. O sujeito em sofrimento finalmente decide afastar-se, mas antes tenciona beber mais um café e levar algum para o caminho, como se a sua capacidade de ultrapassar a situação dependesse disso: “One more cup of coffee for the road / One more cup of coffee ‘fore I go / To the valley below”. 

Capa do álbum “The White Stripes”, de “The White Stripes”.

Escolhi esta música pois, além de adorar a letra (e café, claro!), admiro particularmente o modo como Jack transmite o sofrimento do protagonista, na minha opinião, de uma forma mais intensa que na versão de Dylan. 

Quer seja por gosto, necessidade, ou, quem sabe, até mesmo para curar desgostos amorosos, o café é a segunda bebida mais popular no mundo, a seguir à água. A cafeína, que se pode encontrar numa miríade de produtos, desde o café, o chá e o chocolate, até às bebidas energéticas e suplementos, constitui a droga psicoativa mais consumida no mundo.

Os principais efeitos da cafeína prendem-se com uma melhoria da performance cognitiva, através do aumento da atenção, vigilância, energia, capacidade de memorização e diminuição do tempo de reação. A acrescentar a isto, em estudos recentes, foi descoberta uma ligação entre o consumo crónico de cafeína e uma redução do risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas. No caso da doença de Alzheimer, ocorre a prevenção da produção de β-amilóide (Aβ), um péptido que se deposita e forma placas de amiloide no cérebro que impedem o correto funcionamento celular e sináptico (comunicação entre neurónios). Quanto à doença de Parkinson, supõe-se que a cafeína tem um papel na prevenção da perda de neurónios dopaminérgicos e dos sintomas motores consequentes.

Após ingestão, a cafeína é rapidamente absorvida do trato gastrointestinal para o sistema circulatório e, através da circulação portal, sofre metabolização hepática pelas enzimas CYP450 1A2 e NAT2. O máximo de concentração plasmática é atingido ao fim de 30 a 60 minutos e chega a todos os tecidos corporais, atravessando a barreira hemato-encefálica (sangue-cérebro), a barreira placentária e a barreira hemato-testicular (sangue-testículos). 

A principal forma de atuação da cafeína é através da ligação aos recetores de adenosina (principalmente os A1 e A2A), bloqueando-os. A adenosina é uma molécula envolvida em inúmeros fenómenos bioquímicos e, no Sistema Nervoso Central, a sua ativação vai impedir a libertação de neurotransmissores excitatórios (as mensagens entre os neurónios). Assim, se a cafeína bloqueia estes recetores, vai haver maior libertação de neurotransmissores e, por isso, maior ativação dos neurónios. No coração, através da inibição dos recetores de adenosina, ocorre um efeito cronotrópico e inotrópico positivo (o coração bate mais rápido e contrai com mais força).

Apesar de no caso de adultos saudáveis o consumo de cafeína ser relativamente seguro, existem populações mais vulneráveis, nas quais pode ter um efeito nocivo. Diferenças genéticas inter-individuais, associadas a enzimas fundamentais no metabolismo da cafeína (como a CYP450), podem aumentar ou diminuir os efeitos da cafeína num indivíduo, dependendo se a função da enzima está aumentada (menos efeitos e menos demorados) ou diminuída (mais efeitos e mais prolongados). Interações com fármacos ou outras substâncias também podem alterar os efeitos da cafeína.

Em mulheres grávidas, além de a cafeína estar mais tempo no organismo (tem um maior tempo de semi-vida), chegará ao cordão umbilical e leite materno, expondo um feto com rins e fígado imaturos a algo que ele é incapaz de metabolizar corretamente, podendo resultar em problemas ao nível do desenvolvimento cerebral.

Hábitos tabágicos aumentam a atividade enzimática hepática e, consequentemente, a velocidade com que o sangue é depurado da cafeína (aumento da clearance), o que explica o maior consumo de cafeína por parte dos fumadores.

Segundo a European Food Safety Authority, a dose máxima diária de cafeína que deve ser consumida por um adulto é de 400 mg, estando este valor sujeito a alterações dependendo do indivíduo e das suas características.


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