SBSR 2023 | Um remate a meio-gás

Depois de um segundo dia forte, o último do festival foi feito de TikTok e algumas atuações mornas.

Pelo cartaz, já se adivinhava que o terceiro dia do Super Bock Super Rock seria o menos apelativo, depois do primeiro e segundo se terem apresentado bastante compostos. Com a presença de Pinkpantheress e Steve Lacy, os artistas sofreram do efeito TikTok, em que o alinhamento tem um êxito que as pessoas conhecem e durante o resto do tempo fica o público à deriva, contando apenas com o envolvimento das primeiras filas.

Chegámos ao som de Kaytranada, que nos pôs a dançar pôr do sol adentro no palco principal. Seguimos curiosos para Pinkpantheress, no palco secundário. O sucesso da emergente artista é recente, tendo apanhado um grande período de pandemia no qual não foram possíveis espetáculos ao vivo. Por essa razão, é notória a falta de experiência que ainda apresenta. Logo no início, a cantora desculpou-se com a frase “Vou ter de dar uma hora de concerto mas não tenho assim tantas músicas”. De facto, o alinhamento ficou-se pelos trinta e poucos minutos. Seguiram-se alguns momentos embaraçosos, como quando perguntou “Does anybody here listen to any UK music?” e a constante reafirmação de que Pinkpantheress é “from the UK”. A britânica sofreu ainda com problemas de som, tendo-se ouvido pouco a sua voz, perdida por entre as faixas de acompanhamento. Entregando solidamente a totalidade do verso de Ice Spice, o público animou-se aquando de “Boy’s a Liar Pt. 2”, canção que catapultou a carreira da jovem cantora. No entanto, foi dos poucos sinais de vida que a plateia deu, que respondia praticamente apenas às músicas mais célebres.

Pinkpantheress, Super Bock Super Rock 2023
Pinkpantheress, foto por Rafael Pereira

Numa nota bastante mais positiva, a personalidade de Pinkpantheress é irresistível. Com uma voz suave e bastante interactiva com o público, a simpatia da artista é contagiosa e a conversa soa genuína. Mesmo com uma fraca presença de palco, fez com que não se sentisse falta de dançarinos ou adereços em palco, conduzindo um show minimalista mas sem parecer preguiçoso ou vítima de um violento corte no orçamento. Olhando para trás, a atuação de Pinkpantheress no Palco Pull&Bear foi como as canções da própria: demasiado curta e recatada para ser minimamente entusiasmante e, por outro lado, demasiado cautelosa para gerar qualquer reação negativa.

Mais tarde, e desta vez no palco principal, Steve Lacy padeceu do mesmo mal que Pinkpantheress. Se, por um lado, a canção “Bad Habits” lhe trouxe o sucesso, que lhe permitiu ser cabeça de cartaz do último dia de festival, também ela mesma atrai para os concertos pessoas cujo interesse no artista se esgota no êxito. A plateia esteve desligada grande parte do tempo, numa rede de conversas paralelas. Atrás de nós, um grupo de jovens raparigas não tinha vergonha em admitir a altos gritos que só tinha vindo para ouvir “Bad Habits”: “Epah, cala-te, não quero saber de ti! Canta só a p*** da «Bad Habits»”, repetia uma delas. Embora raros fossem estes comportamentos arrogantes, a maioria, de facto, só lá estava por essa mesma música. Tanto que, após o final da mesma, a debandada foi quase geral.

L'Imperatrice, Super Bock Super Rock 2023
L’Impératrice, foto por Francisco Cabrita

groove de Steve Lacy é inegável. Mas bons ritmos e linhas de baixo não compram presença de palco. Nesta última, Lacy pecou por defeito, tendo apenas raramente abandonado o seu metro quadrado no centro do palco. Mesmo considerando os melhores momentos da atuação, há uma sensação de desajuste. Talvez tenha sido um esticão ter-se feito de Steve Lacy cabeça de cartaz. Certo que era o artista mais bem-sucedido do dia, mas é preciso mais do que isso para se ser cabeça de cartaz.

Acabámos em beleza com L’Impératrice. O sexteto francês trouxe-nos hooks e ritmos irresistíveis. Com a voz frenética de Flore Benguigui, impossível era não dançar. Foram o excelente e enérgico ponto final numa noite por vezes lânguida.

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