Hoje, na Idade da Pedra

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As alterações ambientais e culturais que se viveram desde o Paleolítico até aos dias de hoje são, numa perspectiva evolucionista, recentes para que o genoma se tenha adaptado. E, sendo este (o genoma) determinante das necessidades energéticas (nuctricional,[pullquote align=”right”]« (…) os nossos genes são iguais aos dos nossos antepassados (…) »[/pullquote] actividade física, sono) de qualquer ser vivo, basta somar um mais o outro. Ou seja, grosseiramente, os nossos genes são semelhantes aos dos nossos antepassados, logo, a nossa alimentação e estilo de vida deveriam ser idênticos uma vez que a resposta orgânica vem assim habituada. É então, neste facto (e não só), que assenta o conceito da Paleo Diet. Esta defende uma alimentação com base em alimentos modernos que imitem os grupos alimentares dos nossos ancestrais caçadores-colectores. Foram definidos alguns príncipios (como em qualquer outra dieta) que devem ser respeitados para se considerar um praticante de tal regime, são eles: ingestão elevada de proteína e fibras, ingestão baixa de carboidratos de baixo índice glicémico, ingestão moderada a alta de gorduras monoinsaturadas ou polinsaturadas, ómega-3 e ómega-6, ingestão elevada de potássio e baixa de sódio, carga equilibrada de alimentos alcalinos e elevada ingestão de vitaminas, minerais, antioxidantes e fitoquímicos vegetais.

A revolução agrícola veio mudar a dieta que moldou o genoma humano durante milhões de anos, mas foi a revolução industrial que provocou as alterações mais radicais na nossa dieta. Hoje, verifica-se que o considerado «normal» pela OMS em nada coincide com as percentagens de nutrientes ingeridos pelos nossos ancestrais, tomando como exemplo as gorduras, conclui-se que a ingestão diminuiu consideravelmente neste espaço temporal, diminuição explicada maioritariamente pela relação estabelecida e comprovada entre a quantidade de lípidos na circulação e o agravamento de várias patologias, nomeadamente do foro cardiovascular.

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Paleo Diet

SIM: carnes biológicas, peixes e frutos do mar, frutas frescas e vegetais, ovos, nozes e sementes, óleos de azeite, macadâmia, nozes, sementes de linhaça, abacate, coco.

NÃO: Cereais gramíneos, legumes, lacticíneos, açucar refinado, batatas, alimentos processados, sal e óleos vegetais refinados.

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No entanto, o genoma não estagnou totalmente, confirmam-se algumas modificações genéticas, como por exemplo: o aumento do número de cópias do gene AMY1 (gene que codifica a amilase salivar), a persistência da ALP (lactase) na idade adulta, e o polimorfismo MTHFR 677CC que condiciona uma diminuição da quantidade necessária de ácido fólico. Todas estas ideias conduzem-nos (e baseiam-se) a um conceito revolucionário originado da hipótese colocada por Charles Darwin em 1838 na sua Teoria da Seleção Natural como explicação para a diversificação das espécies, justificada no livro de sua autoria publicado em 1859 «A Origem das Espécies». Segundo essa teoria, a Seleção Natural não redesenha novos mecanismos biológicos, mas pode levar a ligeiras mudanças quantitativas nos seus parâmetros.

Quais são os benefícios ?

Vários estudos concluíram que nos povos caçadores/colectores, em comparação com as sociedades modernas, os níveis de colesterol são menores, assim como os valores da pressão arterial (PA), há uma maior sensibilidade à insulina e um nível menor de insulinémia e leptinémia, um IMC inferior, o consumo máximo de oxigénio é maior,  a acuidade visual é melhor, uma incidência de fracturas menor a que se acrescenta uma incidência muito baixa de doenças degenerativas.

Sendo assim, os efeitos terapêuticos de seguir esta dieta estão comprovados por estudos randomizados  e prometem uma saúde expressivamente aliciante que se traduz na redução do risco CV, DM II, e da maioria das doenças degenerativas crónicas, combate à obesidade, melhoria da performance atlética, reversão ou abrandamento da evolução de doenças auto-imunes, tratamento ou alívio da acne e melhoria da qualidade do sono.

E nos atletas?the-paleo-diet

Em 2005, Loren Cordain, autor do livro Paleo Diet  e especialista neste tema, juntou-se com Joe Friel, treinador de triatlo e ciclismo de elite, e procuraram adaptar este regime aos atletas, o que originou um outro livro Paleo Diet for athetes onde explicam o impacto da dieta e do equilíbrio ácido-base na performance de desportistas de alto nível.

 

Viver como um Homem das Cavernas?

Para além da alimentação, já há muitos defensores do estilo de vida PALEO que adoptaram algumas rotinas dos nossos ancestrais no seu dia-a-dia. Desde o exercício físico, no qual percorrer muitos metros a passo lento, evitar exercício de cardio crónico, levantar objetos pesados e sprintar ocasionalmente representam os princípios que resumem essa prática desportiva; até às questões da higiene, mas dado que o défice de banhos e lavagens que se vivia no paleolítico não é de todo veiculado para hoje, serve este tópico apenas para referir a escolha de alguns produtos, como sabões naturais.

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Filme: «Na Idade da Pedra» lançado em 2004.

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Obviamente, este panorama não é uma involução, o que, dada as condições da sociedade actual (electricidade, internet, transportes, indústria têxtil, ciência e medicina), nem seria exequível. Trata-se apenas de uma adaptação de um estilo de vida comprovadamente saudável à sociedade moderna curiosa e entusiasta pela procura constante do bem-estar.

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Aluna do 6º ano do MIM na FCM-UNL, oriunda de Loulé, apaixonada pela praia, pelo sol e pelo campo, ingressa na FCM em 2010 e desde 2012 que colabora com a secção de Saúde e Bem-Estar da FRONTAL. Como amante de desporto e praticante de atletismo, veste as cores da universidade NOVA e leva o nome desta mui nobre faculdade aos campeonatos universitários. Ao desporto alia o seu clarinete que toca desde os 8 anos e um gosto amador pela pintura, o que não pode acontecer é ter tempo livre. Tem especial curiosidade e apetência pelo estudo e compreensão do mundo que a rodeia, o que a leva a questionar e a querer descobrir as razões e as soluções para os problemas que surgem no seu caminho.

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