Diabetes mellitus tipo 1 e o microbioma – o elo que faltava?

No final do mês de Abril foi publicado um estudo na revista Cell que identificou uma relação entre diferenças no microbioma e a incidência de diabetes mellitus tipo 1 (DM1), juntando-se à longa e crescente evidência que suporta a hipótese higiénica. Esta, teoriza que a exposição na infância a microorganismos e parasitas específicos educa o sistema imune, protegendo posteriormente o indivíduo contra doenças autoimunes.

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O grupo de estudo DIABIMMUNE iniciou o seu estudo não com questionários online, mas antes por uma tarefa um pouco mais ingrata: a recolha mensal de fezes de cerca 1000 crianças, desde o nascimento aos 3 anos,  em três cidades distintas.

As cidades escolhidas foram Espoo (Finlândia), Tartu (Estónia) e Petrozavodsk (República de Carélia, Rússia). A pertinência na escolha destas três cidades deve-se ao facto de, além de serem geograficamente próximas, a incidência de DM1 na Finlândia ser cerca de 6 vezes maior do que na República de Carélia, enquanto que a Estónia, nas últimas décadas, à medida que a economia e qualidade de vida evoluíam, tem tido um aumento da incidência de diabetes, com valores inicialmente semelhantes à da República de Carélia, e a assemelhar-se agora cada vez mais à da Finlândia.

Posteriormente, os investigadores caracterizaram a população bacteriana nas amostras recolhidas, bem como as famílias de genes presentes e os respetivos microrganismos, e descobriram que existia uma proporção maior de espécies Bacteroides spp e de lipopolissacarídeos (LPS) nas amostras finlandesas e estonianas do que nas obtidas na República de Carélia. O LPS aumentado, por outro lado, era estruturalmente diferente do LPS produzido pela Escherichia coli, a espécie dominante na produção de LPS das amostras russas. O LPS produzido pela Bacteroides dorei em particular, inibe a resposta inflamatória induzida pelo LPS produzido pela Escherichia coli, e está associado à patogénese de DM1. Os investigadores responsáveis pelo estudo pretendem agora descobrir a razão das espécies Bacteroides spp dominarem a flora intestinal dos países desenvolvidos e que outros mecanismos podem estar a ligar o microbioma às doenças imunes.

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O desenvolvimento de DM1 e de outras doenças autoimunes e a exposição a microrganismos terá certamente diversos mecanismos interligados, sendo que o acima descrito provavelmente será um deles. Que outras explicações existirão?

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Para mais informação
Vatanen et al., Variation in Microbiome LPS Immunogenicity Contributes to Autoimmunity in Humans, Cell (2016), http://dx.doi.org/10.1016/j.cell.2016.04.007
Veronica Meade-Kelly, What our gut tells us about the ‘hygiene hypothesis’, 27 de Abril de 2016

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