Parkinson: Haverá um novo paradigma na abordagem desta doença?

De acordo com um estudo publicado pela Universidade de Lund, na Suécia, sintomas intratáveis como a dificuldade na mobilidade e equilíbrio, resultantes da doença de Parkinson, poderão ser explicados pela formação indesejada de novos vasos sanguíneos no cérebro – a Angiogénese.

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A doença de Parkinson é uma doença crónica que, embora idiopática, se pensa surgir aquando da perda de cerca de 70 a 80% de neurónios da substância negra no cérebro, responsável pela produção de dopamina.

Em condições normais, a substância negra liberta esta substância de modo a actuar ao nível do corpo estriado e, dependendo da necessidade da situação, facilitar a geração de movimento, ou prevenir a sua realização excessiva a partir do córtex motor. Assim, quando as células nervosas desta zona degeneram, os níveis de dopamina tornam-se extremamente baixos, perdendo-se a capacidade de realização desta modulação, originando-se a rigidez, tremores, distúrbios posturais e bradicinesia (lentidão nos movimentos) tão característicos da Doença de Parkinson.

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Segundo Oskar Hansson, investigador da Universidade de Lund e do Hospital Universidade de Skane, num estudo que envolveu 100 pacientes com a doença de Parkinson e 38 indivíduos saudáveis como grupo controlo no Hospital Universidade de Skane em Malmo. Foram então comparadas amostras de líquido cefalorraquidiano (LCR) de ambos os grupos, tendo-se constatado, no grupo portador da doença, a presença de valores mais elevados do que no controlo de factores estimulantes da formação e ramificação de novos vasos sanguíneos: VEGF (factor de crescimento endotelial vascular) e seus receptores (VEGFR-1 e VEGFR-2), interleucina-8 e PIGF (factor de crescimento placentar). Por outro lado, foram também observáveis valores mais reduzidos de angiopoietina 2, antagonista do marcador de angiogénese angiopoietina 1.

A partir dos resultados, foi possível determinar uma possível relação causa-efeito entre os marcadores de angiogénese e algumas características da doença de Parkinson:

  • a formação de novos vasos sanguíneos conduziria a alterações estruturais e a um aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica, facilitando a passagem de componentes sanguíneos para o cérebro e, consequentemente, a ocorrência de lesões por toxicidade
  • as alterações decorrentes no fluxo sanguíneo cerebral, provocariam episódios frequentes de hipoxia que justificariam a hipotensão e hipoperfusão frequentemente registadas nos portadores da doença que, por sua vez, são um dos principais responsáveis pelos sintomas característicos de dificuldade na marcha e equilíbrio.

Muito embora o tipo de estudo utilizado não permita inferir acerca da natureza da causa e a utilização de LCR não possibilite a obtenção de informação quer estrutural, quer regional, o facto de as amostras não terem sido recolhidas postmortem impede a ocorrência de viés: os resultados podem ser associados às características da doença sem correr risco de terem sido induzidos por fenómenos relacionados com a morte, como por exemplo a hipoxia.

Os dados recolhidos sugerem assim uma ligação entre a angiogénese e neuroinflamação e a doença de Parkinson.

O diagnóstico é efetuado principalmente através das manifestações clínicas, exame físico e neurológico, dado não existir qualquer teste, análise ou exame específico para a deteção da doença.

Os primeiros sintomas surgem geralmente por volta dos 60 anos, tendo os indivíduos do sexo masculino maior probabilidade de serem afetados. De acordo com a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDP), estima-se que em Portugal mais de 12.000 pessoas são portadoras da doença. Embora não fatal, a esperança média de vida destes indivíduos poderá ser reduzida em consequência das complicações associadas à demência.

Apesar de ser considerada uma das doenças neurodegenerativas mais comuns em classes etárias mais velhas, indivíduos jovens podem ser afetados pelo chamado “Young-onset Parkinson”, de carácter igualmente progressivo, mas de forma mais lenta. Pensa-se que, devido à ausência de outros problemas de saúde mais provavelmente presentes em maiores de 60 anos, os sintomas poderão não se verificar tão intensamente. Por outro lado, o facto de a doença ter início numa etapa da vida tão precoce poderá proporcionar um maior período para a progressão da demência.

Apesar de não existir cura para a doença, atualmente o tratamento baseia-se principalmente na administração de fármacos à base de L-DOPA, substância a partir da qual se forma a dopamina e que é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica. No entanto, quer com o recurso a L-DOPA, quer a dopamina, devido à possibilidade de ocorrência de sinalização dopaminérgica excessiva, torna-se necessária uma administração bastante regulada e em conjunto com inibidores da DOPA descarboxilase, não sendo aconselhável a todos os pacientes.

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Futuramente, o tratamento da doença de Parkinson poderá passar por medicação inibidora da angiogénese que, embora já existente, necessita ainda de ser testada e adaptada a pacientes portadores da doença.

Fontes das Imagens
Imagem 1: www.independent.co.uk
Imagem 2: Clinical Motor and Cognitive Neurobehavioral Relationships in the Basal Ganglia (Leisman, Melillo and Carrick)
Imagem 3: Nature Publishing Group, Nature Reviews Neuroscience

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