Último dia da iMed Conference 5.0. Nos dois primeiros, debateu-se na Reitoria Cérebro, Coração e Terapêutica Génica. Domingo, foi a vez de dar protagonismo ao vírus mais mediática das últimas três décadas: o HIV.
Nuno Taveira, Christine Katlama e Christine Rouzioux foi o trio escolhido para explicar à audiência o que a comunidade científica tem andado a fazer no combate contra a infecção por HIV. Segundo estes, actualmente existem duas frentes de batalha contra a grande pandemia global do século XXI: a busca de medicamentos mais eficazes para o controlo sintomatológico e da carga viral da infecção e a descoberta desse colossal sonho – segundo teóricos da conspiração seguramente escondido na caixa-forte da indústria farmacêutica – a “cura da SIDA”.
Os mais distraídos poderão ter ficado surpreendidos ao ouvirem a Dr.ª Katlama revelar que esta cura – ou melhor, a erradicação do vírus – já foi alcançada num pequeno número de pessoas por este mundo fora. Transplantados de medula no contexto de doenças hemato-oncológicas, recém-nascidos tratados precocemente com medicação anti-retroviral e Elite controlers são alguns dos exemplos de indivíduos que viram a serologia HIV passar de um resultado positivo para negativo. Daí se exigir uma pergunta: se neles foi possível, não será também nos restantes 34 milhões de seropositivos no mundo?
Christine Rouzioux iluminou o futuro com uma lanterna apelidada de Reservatórios de HIV. Estes não são mais que locais santuários que os medicamentos anti-retrovais actuais simplesmente não consegue alcançar – macrófagos e Sistema Nervoso Central foram dois dos exemplos apresentados – sendo responsáveis pelo ressurgimento da infecção aquando da interrupção da terapêutica em doentes com cargas virais controladas. Segundo a investigadora francesa, novos fármacos capazes de atacar estas fortalezas da infecção serão a melhor hipótese para a sua total erradicação. Falta investimento das “Grandes Farmacêuticas” e sensibilização da comunidade científica internacional para tornar o sonho real.
Christine Rouzioux iluminou o futuro com uma lanterna apelidada de Reservatórios de HIV
Nuno Taveira, por outro lado, endereçou a plateia na tentativa de “vender” a sua ideia para a luta contra o HIV – a utilização de uma vacina usando como base o vírus HIV-2. Segundo o investigador, este vírus é o candidato ideal na linha de desenvolvimento de terapia imunomediada devido à boa tolerância em humanos comparando com o HIV-1 e as suas semelhanças estruturais com o referido vírus. Os resultados são promissores e, embora ainda estejamos longe da chegada à meta, existem razões para estarmos confiantes em relação ao sucesso desta nova terapêutica
NO FIM, O INÍCIO – CIÊNCIA BÁSICA PARA UMA DESPEDIDA
A última palestra da conferência coube a mais um Prémio Nobel, desta vez não da Medicina, mas da Química. Ada Yonath, agraciada pelos seus estudos relacionados com a estrutura e função dos ribossomas, veio a Lisboa para falar da importância da ciência básica na definição de novas terapêtucias, nomeadamente dos vários locais de ligação dos ribossomas enquanto alvos moleculares para um vasto número de antibióticos. Sem duvida, foi a divagação – com direito a vídeo explicativo da transcrição genética – do mecanismo de que mais se afastou dos terrenos da medicina (se não contarmos com a sessão de abertura protagonizada pelo Professor Brunicardi).
Para terminar, não só a sua palestra, mas igualmente quase o próprio congresso, deixou uma mensagem curiosa: o mais difícil na vida de cientista não são os bloqueios internos ou externos à investigação, mas a sua conciliação com a sua vida familiar, Ada Yonath, porémm, tranquilizou plateia através de um conjunto de fotografia que provaram inequivocamente estarmos perante não só uma grande mulher da ciência mas igualmente uma boa mãe.
Com o fechar de luzes do anfiteatro, a saída dos participantes, a partida dos colaboradores – os últimos a irem para casa, clara – o arrumar das cadeiras, a recolha do material promocional e do catering, a iMed Conference 5.0 chegou ao fim. Sem mais palestras para assistir, resta responder a uma pergunta: terá sido mesmo o evento científico do ano?
Sim. Claro que foi.