Exercício físico: a face oculta

O aumento da adesão à prática de exercício que se verifica nos dias de hoje é um factor muito importante de combate à doença do século, o sedentarismo. Como já publicado, está provado que o exercício físico é uma ferramenta excelente na prevenção das mais diversas patologias, e cada vez mais as pessoas estão consciencializadas para isso. No entanto, «tudo o que é demais ou de menos não é bom», e o exercício físico não é excepção. Quando mal orientado, tal como um fármaco mal prescrito, não cumprido ou administrado em doses desajustadas, tem as suas consequências e repercussões menos positivas.

Fadiga muscular

A prática de exercício físico excessiva é mais comum do que se imagina e o principal sintoma associado a este excesso de treino é a fadiga muscular. Mas isto de fadiga tem muito que se lhe diga. A fadiga muscular é definida como a diminuição da capacidade de gerar a quantidade de força adequada durante uma actividade contráctil, a força adequada a um determinado movimento, e estaOLYMPUS DIGITAL CAMERA fadiga varia de acordo com a causa subjacente. Neste artigo é abordada aquela que é induzida pelo exercício (FMIE), que se classifica como aguda, que ocorre breve e imediatamente após a realização de uma série de exercícios, ou crónica, após um exercício constante de alta intensidade ou durante um longo período de tempo. A FMIE pode ocorrer tanto em indivíduos saudáveis como em doentes, e depende da idade, género, estado físico, modo e duração do exercício, capacidade de  recuperação, e patologias de base. A etiologia pode ser neurológica: desequilíbrio mental, anormalidades do SNC (fadiga central) ou do SNP, patologia musculo-esquelética (fadiga mecânica), incapacidade contráctil, perda de capacidade de gerar força; ou não neurológicas: patologia cardiovascular, DPOC, patologias hematológicas, metabólicas, renais, neoplasias, síndrome de fadiga crónica ou Síndrome de sobretreino. É este síndrome que aqui vai ser abordado, uma vez que a sua prevalência aumentou, deixou de ser restrita a atletas profissionais de alto nível e começou a alastrar-se à classe de indivíduos que se intitulam «amadores» ou «atletas de manutenção», mas que no entanto estabelecem objetivos para além da prevenção de doenças, do estar saudável e em forma, do participar.

Sobretreino: diagnosticar

«Overtraining is a physical, behavioral, and emotional condition that occurs when the volume and intensity of an individual’s exercise exceeds their recovery capacity». (O sobretreino é uma condição física, comportamental e emocional que ocorre quando o volume e a intensidade de um exercício excedem a sua capacidade de recuperação.) images (1)A questão é: como é que se diagnostica este síndrome? Como é que se sabe se alguém está em sobretreino? Alguns sinais e sintomas que se têm vindo a associar a este desequilíbrio são: perda de apetite, diminuição da performance e rendimento físico, alterações de humor, estados depressivos, apatia, falta de motivação, perda de peso, aumento da frequência cardíaca em repouso, recuperação demorada, alterações hormonais, amenorreia (na mulher), alteração da função imunológica, insónias, falhas de concentração, decréscimo da auto-confiança.

Análise bioquímica da fadiga muscular

Bioquimicamente, já foram realizados alguns estudos que indentificaram biomarcadores de fadiga muscular periférica (BPMF), que permitem perceber os mecanismos de exaustão muscular durante o exercício a fim de detetar fadiga anormal ou vias metabólicas defeituosas. Os BPMF são classificados de acordo com o mecanismo com o qual estão relacionados: metabolismo adenosina-imagestrifosfato, acidose ou metabolismo oxidativo; assim como resposta imunológica, disponibilidade de cálcio, vias bioenergéticas desequilibradas e respostas genéticas. Os mais conhecidos e utilizados são a creatina cinase (CK), lactato sérico e a IL-6. Outros BPMF que tem vindo a ser estudados são: níveis de ATP, hipoxantina e xantina, radicais livres (ROS), substâncias reativas com ácido tiobarbitúrico (TBARS), isoprostano, glutatião, catalase, marcadores inflamatórios (leucócitos), TNFa, H2O2, vitamina E, albumina e ácido ascórbico.

O papel dos BPMF durante a fadiga não está bem conhecido, mas a sua medição sob condições específicas parece ajudar na definição dos estados biológicos e processos durante  exercício e a fadiga.

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Assim, para não atingir este estado pouco saudável e que contraria os benefícios de uma prática saudável de exercício, deve programar-se um plano de treinos personalizado e individualizado, manter uma boa comunicação com colegas de treino/treinadores/atletas, intensificar gradualmente as cargas de treino, diversificar os métodos de treino, implementar dias de descanso e períodos livres, fazer uma boa nutrição e consultar a Medicina do Exercício (área que tem vindo a ganhar adeptos e em crescimento no nosso país.)

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Aluna do 6º ano do MIM na FCM-UNL, oriunda de Loulé, apaixonada pela praia, pelo sol e pelo campo, ingressa na FCM em 2010 e desde 2012 que colabora com a secção de Saúde e Bem-Estar da FRONTAL. Como amante de desporto e praticante de atletismo, veste as cores da universidade NOVA e leva o nome desta mui nobre faculdade aos campeonatos universitários. Ao desporto alia o seu clarinete que toca desde os 8 anos e um gosto amador pela pintura, o que não pode acontecer é ter tempo livre. Tem especial curiosidade e apetência pelo estudo e compreensão do mundo que a rodeia, o que a leva a questionar e a querer descobrir as razões e as soluções para os problemas que surgem no seu caminho.

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