Uma receita para o bem estar (e para o paladar)

Cozinhar, para muitos, não passa apenas de uma atividade do quotidiano com o simples objetivo da tão necessária alimentação e nutrição. Porém, o ato de cozinhar pode ser potencializado para outros fins. A arte de cozinhar é, para alguns, a raison d’être, um prazer com elevado poder terapêutico. A preparação de uma refeição permite uma pausa do elevado ritmo de vida que se estabelece na sociedade atual, possibilitando abrandar e reorientar o pensamento.

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A saúde mental é um tema atual para o qual existem cada vez mais estudos e terapias com o propósito de averiguar qual a receita perfeita para uma estabilidade a este nível. Segundo o artigo “Nutritional Medicine as Mainstream in Psychiatry”, publicado na Lancet Psychiatry, de entre os inúmeros e complexos determinantes de saúde mental, a nutrição apresenta um papel central segundo a evidência emergente. Assim sendo, uma alimentação cuidada apresenta-se como uma de várias ações que podem levar a uma melhor saúde mental.1,2

Mas não só a nutrição, o ato de cozinhar aparenta apresentar por si só algum valor terapêutico, sendo já uma modalidade utilizada em alguns centros como parte integrante de um plano de tratamento para um largo espectro de patologias do foro mental, como depressão, ansiedade, perturbações do comportamento alimentar, perturbações aditivas, perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Segundo alguns psicólogos especialistas, o ato de cozinhar integra-se numa modalidade de terapia conhecida como “ativação comportamental”.3

A “ativação comportamental” tem como objetivo ajudar as pessoas a alterarem o seu comportamento e forma de agir, procurando estabelecer uma ligação entre o comportamento e o humor. Os pacientes são incentivados a procurar e a experimentar atividades impulsionadas pelos seus valores pessoais com o intuito de estabelecer nas suas vidas situações mais positivas com espaço para crescimento pessoal e criar novas estratégias de coping. O artigo “Cost and Outcome of Behavioural Activation versus Cognitive Behavioural Therapy for Depression (COBRA): a randomised, controlled, non-inferiority trial” comparou a ativação comportamental com a terapia cognitiva comportamental, uma outra modalidade frequentemente utilizada no tratamento da depressão. Neste estudo, concluiu-se que ambas apresentam eficácia semelhante e que a “ativação comportamental” é um tipo de terapia relativamente simples e economicamente mais acessível, podendo ser uma alternativa viável em países onde o acesso a psicoterapias é um desafio pelos custos que representa.3,4

Encontramos um bom exemplo desta abordagem  em Bethlehem, Conn., um centro de tratamento para adolescentes com problemas de saúde mental e de dependência no qual a “ativação comportamental” por meio de “terapia culinária” é aplicada. Neste centro, estão disponíveis diferentes tipos de terapia psicológica que se complementam, encontrando-se a terapia cognitivo-comportamental numa posição central. Segundo um utente do centro, Matthew Petrillo, “a terapia falada foi muito boa em aprofundar a razão pela qual cada um de nós está cá. Mas estar na cozinha não se focou de todo na razão pela qual estamos aqui [no centro]. Em vez disso, focou-se apenas em melhorar a confiança, autoestima e na aprendizagem de novas maneiras de estar”. 5,6

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O ato de cozinhar como terapia é ainda uma modalidade em estudo, mas que aparenta ter resultados promissores. Assim sendo, e em jeito de conclusão, a FRONTAL incentiva os leitores que tenham curiosidade pela cozinha a desfrutar dos benefícios que de cozinhar desabrocham com uma simples mas saborosa receita. Mantendo a tradição das séries de artigos, a FRONTAL vai procurar publicar diferentes receitas acessíveis, numa tentativa de abrir o apetite a esta atividade que é, para muitos, terapêutica.

Cheesecake com Cobertura de Chocolate

por Clara Serdoura

IngredientesIMG_1281
Base
200g de bolachas digestivas
80g de margarina derretida

Recheio
200 ml de Natas, frescas
300g de queijo tipo Filadélfia
1 colher de sopa de sumo de limão
60g de açúcar
1 colher de chá de essência de baunilha

Cobertura
100 ml de natas
100g de chocolate culinário

Receita
Começa por preparar uma forma, cobrindo a base com papel vegetal.

Com um robot de cozinha, tritura as bolachas digestivas e, de seguida, envolve a areia obtida com a margarina. Deita sobre a forma e, com as mãos, decalca o seu fundo. Coloca no congelador enquanto preparas o recheio.

Bate as natas com o sumo de limão, até que ganhem maior consistência e fiquem espessas. Adiciona o queijo, o açúcar e a essência de baunilha e mistura bem. Deita sobre a base já preparada e coloca no congelador, por pelo menos duas horas.


Por fim, e após as duas horas, derrete o chocolate com as natas e verte sobre o cheesecake.

Leva ao congelador por pelo menos mais uma hora e retira-o do frio meia-hora antes de servir.

Bom apetite

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Referências Bibliográficas

Artigos:

1Nutritional medicine as mainstream in psychiatry. Sarris, Jerome et al. The Lancet Psychiatry, Volume 2, Issue 3, 271 – 27

3 Cost and Outcome of Behavioural Activation versus Cognitive Behavioural Therapy for Depression (COBRA): a randomised, controlled, non-inferiority trial. Richards, David A et al. The Lancet, Volume 388, Issue 10047, 871 – 880

Sites:

2https://www.psychologytoday.com/blog/minding-the-body/201505/kitchen-therapy-cooking-mental-well-being

4http://www.alert-online.com/pt/news/health-portal/depressao-ativacao-comportamental-e-eficaz-e-pouco-dispendiosa

5https://www.newportacademy.com/resources/mental-health/road-mental-health-kitchen/

6http://www.socialjusticesolutions.org/2012/12/11/therapeutic-cooking-and-culinary-therapy/

Imagens:

Culinary Innovations

https://curiosity.com/topics/cooking-can-improve-your-mental-health-curiosity/

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